Jornalista que já sofreu bullying fala sobre primeiro livro - Jornal Fato
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Jornalista que já sofreu bullying fala sobre primeiro livro

A obra "E Se Fosse Você" será lançada dia 4 de setembro na Bienal do Rio de janeiro


Foto: Márcia Leal

A jornalista cachoeirense Anete Lacerda irá lançar seu primeiro livro pela Editora Colli Books, no dia 4 de setembro, na Bienal do Rio de Janeiro. Com linguagem sensível e belas ilustrações do artista Fernando Fernandes, o livro é paradidático e aborda bullying e gordofobia.

Em entrevista ao jornal ES de Fato, Anete conta que E Se Fosse Você foi produzido graças ao incentivo da amiga e escritora Isa Colli, que trabalhou a edição do livro. Isa é uma capixaba com vários livros publicados e que mora na Bélgica. Ela estará no Brasil especialmente para a Bienal, que será realizada entre os dias 30 de agosto a 8 de setembro, no Riocentro, onde serão lançados outros títulos da própria autora e de outros escritores, por meio de sua editora.

A obra foi escrita no ano passado, em um "repouso forçado". Ela será apresentada às escolas, mas serve para qualquer pessoa que se preocupe com o outro e queira um mundo melhor. "Muitas vezes as crianças só reproduzem discursos, posturas e atitudes que veem dentro de casa. Elas geralmente não têm preconceito. Aprendem isso com os adultos. Quem sabe elas ensinem a empatia aos pais e familiares?", comenta Anete.

E Se Fosse Você faz uma abordagem leve sobre um problema grave. "Tem muito de minha experiência pessoal, já que nunca fui considerada uma pessoa-padrão. A minha intenção é que o livro possa ajudar as crianças a buscar a cultura da paz e do respeito".

Durante a entrevista, Anete mencionou que já prepara o segundo livro para publicação, que já tem até mesmo um título provisório: A Benção, Vovó. A exemplo do primeiro, também aborda, entre outros desdobramentos, um tema que me é muito familiar, que é o cuidado com uma pessoa idosa e dependente. "Baseado no carinho dos netos com minha mãe, que é acamada, escrevi também sobre empatia e respeito. As minhas filhas foram muito paparicadas pelas avós, e sempre retribuíram. Foram educadas para amar a família incondicionalmente, apesar das diferenças. Creio que muitas famílias cuidam de seus idosos, embora o contrário, de filhos que dependem dos pais, também seja prática relativamente comum".

Confira a entrevista completa!

Jornal Fato - Primeiro, quem é a Anete?            

Anete Lacerda - Por força da profissão, aprendi a observar e escrever sobre os outros. Difícil responder a essa pergunta. Mas vamos lá. Uma pessoa tímida, que aprendeu, talvez até pelo bullyng que sofreu, a ser forte porque não teve outra alternativa. Que valoriza a fidelidade, o respeito e a empatia, e que não abre mão de alguns princípios e valores aprendidos ao longo da vida. Mas que também, com a maturidade, trocou algumas coisas na escala de prioridades.

Jornal Fato - Por que estes temas: bullyng e gordofobia?

Anete Lacerda - Porque qualquer pessoa fora do padrão tem que se reinventar todos os dias para mostrar que é capaz, que não é inferior e que pode estar no mercado de trabalho em pé de igualdade com os profissionais qualificados. No meu caso, apesar da obesidade, em alguns momentos me sentia invisível diante da discriminação e preconceito que doíam na alma. É uma questão cultural. Difícil de mudar. Por isso é importante abordar preconceito, e discriminação, gordofobia e bullyng com as crianças. Elas nos dão esperança. Espero que E Se Fosse Você incentive a cultura da paz e do respeito. Sou daquelas que acreditam que pequenas atitudes podem mudar o mundo.

Jornal Fato - Qual a importância deles no ambiente escolar?

Anete Lacerda - A escola pode ser um ambiente traumático para as crianças que não se encaixam em padrões sociais e estéticos, mas também pode ser uma época linda de muito aprendizado e diversão. A variável que determina isso é o respeito às diferenças encontradas naquele ambiente. Isso me moveu a escrever sobre gordofobia e racismo, tocando também em outras opressões. Precisamos discutir o bullying e as marcas que ele pode deixar na vida das pessoas, assim como também dar nomes aos preconceitos vividos e conversar sobre eles para desfazer concepções tóxicas que não são verdadeiras.

Jornal Fato - Você acredita que a sociedade ainda é massacrante com a cobrança de um padrão estético?

Anete Lacerda - Apesar de avanços geracionais nos trazerem esperança na quebra desse padrão estético, ainda há muito que se caminhar para que a gordofobia não atrapalhe a vida de pessoas gordas. Quando paramos e pensamos em padrões estéticos, vemos o quão cruel ele é até mesmo com pessoas mais próximas ao padrão de beleza considerado perfeito, que nunca se sentem satisfeitas em seu corpo. Por isso uma discussão sobre o tema, que quebre com esse ciclo de ver beleza em apenas um tipo de corpo ou cor de pele é extremamente importante, porque é verdadeiro que pessoas fora de padrões construídos socialmente sejam reconhecidas como lindas. A sociedade precisa saber e entender isso. Acima de tudo, precisa respeitar.

Jornal Fato - Esse livro já pode ser encontrado no mercado?

Anete Lacerda - Sim. O Livro será encontrado nos principais e-commerces (Amazon, Casas Bahias, Submarino, Americanas, Mazine Luiza, WalMart) e livrarias do país que trabalham com os parceiros da Colli Books. No Espírito Santo é a Distribuidora Conectar, no Sul do país, A Página, em São Paulo, a Prosas, Catavento e Suinara, e no Rio de Janeiro e restante do país, a Catavento. O preço de capa é 39,90.

Jornal Fato - Que mensagem você deixa para as pessoas que sofrem com algum tipo de preconceito e para aqueles que praticam o preconceito, seja ele qual for?

Anete Lacerda - Para as pessoas que sofrem algum tipo de preconceito, quero dizer que isso não pode ser visto como normal. Não é natural e é lamentável que ainda aconteça. Não é justo que alguma característica sua seja menosprezada e que usem dela pra te fazer se sentir uma pessoa pior, o que você definitivamente não é. Bom é saber que nem todo mundo é assim, e se cercar de pessoas que entendem pelo que você passa e com as quais você possa construir junto um ambiente que te valorize e te ajude a se empoderar. Isso é muito importante e renovador. Aos preconceituosos, digo que sempre há tempo de rever seus atos e conceitos, e que se deve ter cuidado com discursos porque eles podem ferir pessoas tanto física como emocionalmente, e se isso não incomoda de alguma forma, tem alguma coisa muito errada. Não comigo ou com outras pessoas que sofrem bullyng, mas com quem enxerga a falta de empatia e respeito com algo natural e divertido.

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