A Dedé Caiano - Jornal Fato
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A Dedé Caiano

Faz tempo queria falar dele. Muito tempo


Faz tempo queria falar dele. Muito tempo. Agora, enfim, negocio comigo mesmo e decido chamá-lo: "Dedé Caiano"!. Jamais lhe soube o prenome. Mas o sobrenome era ímpar: Sampaio. Um clã musical, que desde priscas eras,  com o velho maestro, foi passando por Raul, Sérgio, Hélio e Haroldo. E no meio, Dedé. Era seu DNA - música! Face sulcada, quase esquálido, dono de uma gargalhada inconfundível e projetos mirabolantes. Além da música, devotou-se, também, à poesia, que redigia concretamente, e disseminava, feito um pastor para qualquer possível rebanho de ouvintes. Dessa forma, singrou a cidade inteira, e redondezas. Dedé Caiano sim, fez de sua vida a própria arte, e da arte sua vida. De hábitos simples. Em seus olhos brilhavam os trechos das próximas metáforas. Dos futuros versos. Aliás, diga-se de passagem, vivia grávido de poemas, e quando falava deles, era um pai amantíssimo, a falar, deslumbrado, dos filhos amados. Certa feita, o encontrei num educandário citadino, a discorrer sobre poesia, para adolescentes. Quando concluiu, eu não me contive, e como uma lágrima que permanece até hoje em mim, arrematei, enaltecendo o poeta, o operário das palavras, o Dom Quixote de toda poesia. Dedé, querido por todos os deuses da linguagem e que, tal como.na canção de Sérgio, levou a poesia nossa de cada dia, para as calçadas, e que agradeço a Deus, pela perseverante e indômita vontade de falar de amor, em tempos de chumbo. Faleceu sozinho de inanição. Quase ignorado, assim como a arte, nas montanhas capixabas. Nenhuma estatua. Nenhum título e pouca alusão. Quiçá, como disse um amigo meu, Fernando, estamos aprisionados à brevidade virtual. Dedé Caiano, é infinito, como o cosmo. Hoje mora, onde moram, talvez, as estrelas e, cada vez que piscam, vão derramando rimas sobre sua passagem. O poeta não morreu! Viva Dedé. Viva a poesia e a música. Vivam os loucos que a amam, loucamente, a demência do amor e são fatalmente capazes de lhes emprestar a hora, interminável.

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Quem faz um poema abre uma janela.

Respira, tu que estás numa cela abafada,

esse ar que entra por ela.

Por isso é que os poemas têm ritmo

- para que possas profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

 

Mario Quintana


Giuseppe D'Etorres Advogado

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