Livros e ladrões - Jornal Fato
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Livros e ladrões


Em viagem decido ligar para minha casa para saber como estavam as coisas. Ninguém respondeu aos chamados. Insisti várias vezes até que meu filho atendeu e informou-me que havia ocorrido um assalto. Estavam em casa ele, a funcionária, o marido dela no quintal e depois chegou minha filha. Revistaram a casa toda, levaram o carro da minha filha, as joias, o notebook e outras coisas mais. A casa foi literalmente revirada por um grupo de assaltantes experientes, sangue frio e que sabiam exatamente o que queriam:  dólares (que não tínhamos), joias e coisas de valor. Os ladrões entraram facilmente, bem cedo, porque havia alguns pedreiros que deixavam o portão aberto para repor material. Eles foram tão sutis e profissionais que o jardineiro que estava na frente da casa nem percebeu o assalto. Felizmente, meu filho conduziu tudo com calma, nem sei como conseguiu, pois estava dormindo e acordou no meio de gente estranha e armada. Levei um susto inicialmente, todavia fui acalmando à medida que ia ouvindo que todos estavam bem e que não foram molestados. Depois ligaram comunicando que o carro da minha filha, menos mal, foi abandonado no morro do lixo. Quando recebi essas informações, eu estava na estrada vindo do Rio de Janeiro, após uma consulta médica de rotina, em que o médico confirmou que estava tudo bem comigo. Diante do estado de espírito que me possuía, dificilmente ficaria abalada com más notícias. Se todos estavam vivos, o que pode significar bens materiais diante do grande dom da vida? Mas enquanto transcorria a viagem eu pensava: carregaram as joias - não muitas, mas algumas me foram presenteadas pelo meu marido em ocasiões especiais. Joias podem ser compradas novamente, apesar de ter perdido, após o assalto, todo o interesse por elas.

Contudo minhas maiores joias não interessaram nem um pouco aos ladrões. A casa fora toda vasculhada e colocada de pernas para os ares, porém um setor continuou intacto. Foi a biblioteca. Ladrões não roubam livros. Se roubassem livros e os lessem não seriam ladrões! Meu sentimento por meus livros é de amor e gratidão, por tudo que já fizeram por mim. Certa vez constatei que só tenho ciúmes de marido e livros - quanto aos livros até empresto, mas cobro quando não me devolvem. A leitura transforma, a leitura enriquece o nosso mundo interior, a leitura nos possibilita viajar por outras dimensões e por mundos reais ou fantasiosos. Quem ama os livros não conhece solidão e não teme os ladrões - pois esses não roubam livros!


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