Por ser um pouco mais vivida, fui testemunha, em dois períodos da história do Brasil, de eleições bastante acirradas. Em ambas os candidatos fizeram promessas das quais não puderam cumprir ? Jânio Quadros com sua vassoura iria varrer a corrupção do país e Collor de Mello prometia perseguir e exterminar com os marajás. Na eleição deste ano o radicalismo atingiu o ápice, com candidatos extremamente inflexíveis e com propostas de difícil execução.
E esse clima de radicalismo atingiu as ruas, as redes sociais, as famílias, enfim todos os setores da sociedade. Nesta campanha as pessoas estão predispostas a acreditar em qualquer asneira ? até por conta da violência, da crise financeira e do desemprego em que se vive. As convicções são repassadas sem nenhum filtro, desde que estejam de acordo com as próprias. Fake News são atiradas nas redes, mentiras compartilhadas, e por conta de tanta radicalização, amizades são desfeitas, familiares se estranham e a violência toma conta de um processo democrático, que deveria ser encaminhado pela tolerância e respeito comum.
A nossa liberdade não nos dá o direito de ofender, julgar e discriminar ninguém. Respeitar a opinião do outro é atitude de gente madura e democrática. Em todos os espaços em que nos fazemos presente ? família, trabalho, redes sociais, nossa palavra deve ser ponte que une e não abismo que desagrega. Não compensa criar rixas e inimizades por conta das nossas convicções, existem temas que não merecem ser discutidos. Cada um segue o caminho que lhe apraz, não mudamos o outro, apenas faltamos com o respeito invadindo o espaço comum. A liberdade de expressão não nos dá o direito de tentar impor a nossa opinião. Vivemos numa democracia, e nela os partidos coexistem por norma constitucional, e a consideração começa de cima para baixo e vice versa.
E não é alienação, mas diante do quadro político que se desenha hoje, prefiro me afastar de tudo e todos que possam tirar a minha paz. Se os gladiadores se matam na arena, eu não fico nem na plateia. Me nego a entrar em conflito e peço que me respeitem. A moeda cobrada é muito alta para quem se deixa envolver, e cada amigo é precioso demais para com ele entrar em atrito. E num cenário em que a realidade mais parece ficção, tô fora!