Jonas e Victor: crônica de uma ruptura anunciada - Jornal Fato
Política

Jonas e Victor: crônica de uma ruptura anunciada

Casamento político selado já na hora de subir ao altar eleitoral não resiste a interesses políticos divergentes após o sim das urnas. Nada de novo


Se alguém tinha dúvidas do abismo existente entre o prefeito de Cachoeiro, Victor Coelho (PSB), e o vice-prefeito Jonas Nogueira (PP), os acontecimentos das últimas semanas dissiparam. O casamento político selado já à beira do altar eleitoral, em 2016, ruiu. Se aproxima do final a parceria firmada por conveniências eleitorais de momento - que atendia a ambos- mas que não resistiu aos interesses políticos diversos.

O ponto mais alto desta dissociação, até agora, se deu ontem, quando o vice-prefeito postou em grupos de WhatsApp as imagens (gravadas em 12 de junho, segundo ele) de seu gabinete - que nunca assumiu - em condições deploráveis e foi rebatido pelo secretário de Governo, Weydson Ferreira, também no mesmo aplicativo de mensagens com a mesma sala, filmada hoje, e impecável.

Weydson é o principal conselheiro e, neste caso, o porta-voz do prefeito. E critica Jonas por jamais ter dado expediente no local. Cobra dele a parceria celebrada há dois anos. Em debate numa rádio, nesta semana, Jonas alegou que prefere despachar de seu escritório, por não ter qualquer atribuição no governo, a não ser a constitucional, de substituir o prefeito.

Toda essa discussão mostra que não há diálogo direto para dentro do Governo. As discordâncias são expostas em público, o que evidencia a mágoa que não vem de agora e, óbvio, interesses políticos divergentes no futuro. Victor é apontado como candidato à reeleição. Jonas também almeja a chefia do Executivo.

 

DESAVENÇAS

Depois das eleições de 2016, o prefeito e vice jamais falaram a mesma língua. Já no período de transição, Jonas se sentiu alijado das definições sobre o secretariado. As pastas reservadas ao PP foram escolhidas por Victor. O próprio Jonas foi convidado a assumir uma e recusou. Acreditava que teria protagonismo maior.

Logo nos primeiros dias de gestão, o titular teve problema de saúde e precisou de internação. Despachou do hospital e depois de casa, mas não permitiu que o vice assumisse. A guerra fria se estabeleceu desde então.

Nitidamente, o staff de Jonas alocado na Prefeitura funciona em sintonia diferente do grupo mais próximo a Victor. Mas, as aparências foram mantidas. Houve tentativa de reatar, em março. Enquanto Victor, Weydson e o secretário de Desenvolvimento Econômico Felipe Macedo - indicado pelo PP - foram à China, Jonas, finalmente, assumiu a Prefeitura.

No decorrer do período, trouxe a Cachoeiro a liderança máxima do PP capixaba, o deputado federal Marcus Vicente, que anunciou recursos, mas, apesar dos convites, ninguém do secretariado compareceu para recepcioná-lo.

 

ELEIÇÕES

A esta altura, as eleições gerais se aproximavam. Embora candidato a deputado federal, Jonas, efetivamente, fez campanha de prefeito e ficou na casa dos 14 mil votos. Os candidatos apoiados pelo prefeito e seu grupo, eram outros.

Embora ainda abaixo das expectativas iniciais, a votação do progressista o cacifou como possível candidato em 2020. Era evidente que isso exigiria dele assumir posições que demarcassem claramente as diferenças entre o seu jeito de ver a administração pública e o modelo atual.

A primeira oportunidade foram as discussões acerca do projeto do Executivo para subsidiar em R$ 1,6 milhão anual o sistema de transporte coletivo do município (15 centavos por passagem), em análise na Câmara.

Jonas tem se manifestado de maneira veemente contra as planilhas em que o subsídio se baseia. E tem cabido ao secretário de Governo rebatê-lo, para preservar o prefeito deste desgaste.

O episódio dos vídeos vem na sequência, numa guerra político-digital que ainda deve passar por exonerações antes de chegar ao pleito, em 2020.

 

O FIM DESDE O COMEÇO

Dois anos atrás, os vídeos eram diferentes. Na abertura da propaganda eleitoral gratuita, uma cena se tornou célebre. No calçadão da Avenida Beira Rio, os então candidatos a prefeito e vice caminham um em direção ao outro, enquanto se apresentam para a câmera. Quando finalmente se encontram afirmam: "acredite. Vamos juntos construir uma nova história".

Os cachoeirenses acreditaram, votaram e elegeram a dupla com a maior votação da história do município. O que não perceberam é que, desde o início, os dois já seguiam em direções opostas.

 

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