Em entrevista à CNBB, Dom Luiz fala sobre o que aprendeu em solo africano - Jornal Fato
Religião

Em entrevista à CNBB, Dom Luiz fala sobre o que aprendeu em solo africano

Recém-empossado como bispo da diocese de Cachoeiro de Itapemirim, dom Luiz Fernando Lisboa traz consigo uma experiência missionária de quase 8 anos em Moçambique


Recém-empossado como bispo da diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES), dom Luiz Fernando Lisboa traz consigo uma experiência missionária de quase oito anos em Moçambique, na África. Como participante de uma Assembleia Geral da CNBB pela primeira vez, o prelado partilha o que aprendeu em solo africano e quais são as suas expectativas para o futuro, conforme pode ser conferido na entrevista a seguir.

 

O senhor é bispo desde 2013, porém não tinha atuação episcopal no Brasil até o início deste ano. Como acolheu a nomeação para estar à frente de uma diocese brasileira, no caso, a de Cachoeiro de Itapemirim? 

Acolhi com muito carinho essa nomeação porque foi um pedido do Papa Francisco. O fato de vir para uma diocese aqui no Espírito Santo me agradou muito porque é um estado em que as dioceses são marcadas pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ou seja, por essa maneira de ser igreja. Então, vim com bastante alegria! É claro que uma mudança é sempre difícil, traz muitos desafios, mas estou bem e disposto a enfrentar todos os que vierem pela frente. E continuar caminhando com esta igreja, que tem uma trajetória tão bonita! 

 

Como vê o trabalho como bispo aqui no Brasil? Quais os grandes desafios nessa nova missão? 

Ser bispo, em qualquer lugar, é um grande desafio, assim como é um desafio a vida de hoje para todas as pessoas, para os profissionais, para os trabalhadores, para os padres. Estamos vivendo um tempo muito especial, em que, como diz o Papa Francisco, há muita indiferença, muita radicalização em praticamente todas as áreas, um tempo da pós-verdade. Então vejo como um desafio muito grande esse trabalho como bispo aqui no Brasil. Em outras realidades, como já estive, também há outros tantos desafios, porém o importante é não ter medo deles, sobretudo se temos uma consciência clara de nossa missão e a segurança de que Deus está conosco, caminha conosco, além de termos a alegria de ter um papa como Francisco. 

 

O que o senhor aprendeu como missionário na África e considera que poderia ser muito bem aplicado na realidade de sua diocese atual? 

Aprendi muito sendo missionário na África porque, quando saímos do nosso país, fazemos a experiência de ser estrangeiro. Moçambique, concretamente, é um mundo de culturas diferentes, falam-se mais de 30 línguas. Na diocese onde eu estava, que abrangia todo o estado de Cabo Delgado, falam-se cinco línguas além do português. Então, é uma verdadeira imersão na realidade, um "tirar as sandálias", como Deus pede a Moisés, é fazer a experiência da escuta, é procurar perceber e fazer o diálogo com as culturas e, a partir daí, tentar fazer a nossa parte. Tive uma experiência muito forte lá, porque além de todos os desafios da pobreza da África, há também uma riqueza cultural muito grande e, ultimamente, durante mais de três anos, enfrentamos uma guerra terrível, o terrorismo, que fez e continua a fazer sofrer muita gente, milhares de pessoas. Foi uma experiência muito rica e, ao mesmo tempo, muito forte. 

 

Embora esteja há pouco tempo no Espírito Santo, como o senhor vê a criação do regional Leste 3 e quais benefícios virão dessa medida? 

Acolho com muita alegria a criação do regional Leste 3. Foi um tempo muito rico, segundo ouvi dos irmãos bispos, a participação no regional Leste 2 com nossos irmãos bispos de Minas Gerais, mas é interessante [a divisão] porque a igreja do Espírito Santo tem uma caminhada muito própria, que é toda baseada na experiência das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), dos Círculos Bíblicos, e isso é muito forte aqui. Somente na nossa diocese de Cachoeiro de Itapemirim, por exemplo, temos um volume de 30 mil a 40 mil livrinhos dos Círculos Bíblicos espalhados pela diocese. Então é um trabalho bonito que se faz e nós queremos aprofundá-lo. Acredito, então, que como um regional, as quatro dioceses do Espírito Santo, sendo uma voz forte, poderá contribuir com toda a Igreja no Brasil, mostrando nosso rosto, nossa maneira de ser e de viver a fé. Congratulo-me com os padres, lideranças, religiosas e irmãos do regional do Espírito Santo. É claro que, por ter sido aprovado agora, haverá todo um processo, com muitas reuniões e encontros, até que se lance oficialmente o regional Leste 3.

 

Esta é a sua primeira participação em uma Assembleia da CNBB. Qual sua opinião a respeito? O senhor já tinha alguma noção de como eram os trabalhos? 

Sim, é minha primeira Assembleia e, desde que me entendo por gente, acompanho a CNBB e a considero a voz forte da Igreja Católica no Brasil. Sempre admirei a CNBB, ela teve grandes presidentes, grandes bispos que nos inspiram hoje, como dom Hélder Câmara, dom Pedro Casaldáliga, dom Tomás Balduíno, D. Luciano Mendes de Almeida, dom Aloísio Lorscheider e tantos outros. Temos neste momento muitos bons bispos na CNBB. Então é uma alegria poder participar, é a minha primeira Assembleia e está sendo de forma virtual, mas é uma satisfação poder ver o rosto e ouvir a fala de muitos bispos e conhecer um pouco a CNBB. Não posso dizer mais do que isso porque estou conhecendo agora, como bispo, a CNBB. Tenho a experiência da CEM, que é a Conferência Episcopal de Moçambique, onde fiquei mais de sete anos como bispo.  

 

O que mais o tem encantado nessa experiência de participação na Assembleia da CNBB? 

É justamente o fato de a CNBB ser tão respeitada em toda parte. Tivemos a alegria de ter um encontro com o presidente do Celam [dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, arcebispo de Trujillo, no Peru] e pudemos ouvir dele - e de outros que são ligados ao Celam -, todo o respeito e reverência que eles têm pela CNBB, o que nos responsabiliza muito mais. Por isso é importante que tenhamos muitos espaços de participação, de convivência - embora nesse tempo não seja possível -, de respeito uns pelos outros, porque penso que carregamos esse nome forte, CNBB, tão importante na América Latina e um marco para o mundo inteiro. 

 

Qual o legado que o senhor leva da participação na Assembleia? 

É poder ouvir, interagir com alguns irmãos bispos e cardeais que respeito muito. É uma experiência ótima, que vai me ajudar muito em todo o meu trabalho. Quero estar sempre muito unido à CNBB e deixo um agradecimento especial a dom Walmor, a dom Joel e aos outros membros da presidência, pela maneira serena e tranquila com que estão conduzindo a nossa Assembleia. Quero dar os meus sinceros parabéns! 

 

O que tem achado de a Assembleia estar sendo feita de modo totalmente virtual? Quais sugestões daria a fim de melhorá-la? 

A Assembleia, embora virtual e talvez por ser a minha primeira, está sendo muito boa. Quero agradecer a todos os técnicos, a todos os que estão trabalhando para que esta Assembleia pudesse ser realizada. Houve pouquíssimas falhas, pois quem está por trás, quem a preparou, o fez de forma muito bem-feita. Ela está sendo muito bem conduzida. Não teria a coragem de dar sugestões porque é minha primeira Assembleia, e de forma virtual. Quero, portanto, somente agradecer! Agradecer todo o trabalho da presidência, do secretariado, dos assessores, dos técnicos e a cada uma das pessoas que têm tornado possível esta Assembleia. Um grande abraço de agradecimento a todos! 

Fotos e informações: Departamento Diocesano de Comunicação e CNBB

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