Entre corpos e pernas que passavam ligeiros,
corações envelhecidos na rigidez cotidiana e
feições em cicatrizes,
vi em quadro, pendurado na parede suja,
a frase: Seja feliz!
Como sentença e solução imediata,
senti a possibilidade de bálsamo
e tempero saboroso para os dias em branco.
Ressoou por muitas datas esta frase
e reencarnou o gosto do sorriso.
Estanquei cortes inflamados
e cancros que se rebelavam nas dores.
As palavras penduravam, como enfeites,
afetos em mim.
Felicidade é ousadia desprendida.
É fino trato e afago nobre.
E perpetua esperança,
tão rareada nos tempos de dureza.
Sorrir é ser solidário com o olhar do outro e suas partes.
É aformosear cenários da vida
e trazer essências amanhecidas.
E ser feliz é ter ousadia saltando de dentro.
E falta de tempo para madrugar medos.
Logo, apanhei a frase interna
e rabisquei todos os cômodos.
Percebida que traria cheiros
e canções para minha alma menina,
estendi a cartas, aos versos e a quem passava.
Fui louca, estranha e até engraçada.
Mas, de tanto dizer,
vi perpetuados ouvidos e dizeres.
Já propagavam muitos: lá vem a insana com sua poesia bacana.
Vem trazendo festa com o tal de ser feliz.
E, sob os tempos de Sol e estrelas,
distribui os recados da nova ideia.
E de parede suja, de quadro torto,
brotava o bem inadiável,
a emoção etérea,
o visgo perene da humanidade.
Seja feliz!
(Pendure em você! A felicidade agradece.)