Conexão Mansur: A Impressora do Correio do Sul - Jornal Fato
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Conexão Mansur: A Impressora do Correio do Sul

Abaixo texto do cachoeirense e jornalista Sérgio Garschagen, o AZO


- Ilustração: Zé Ricardo
 

Pela sua importância histórica e atualidade, estamos publicando, abaixo, texto que retiramos da rede social (facebook), texto do cachoeirense e jornalista Sérgio Garschagen, o AZO, a fim de, novamente, tentarmos provocar discussão no sentido de não transformar definitivamente a impressora do Correio do Sul em mero ferro-velho.

Essa impressora histórica, onde Rubem Braga e seu irmão Newton, nas suas origens de um século passado, foi que deu origem à potência histórica e permanente que é a nossa literatura cachoeirense, até hoje.

E ela só existe hoje dado ao esforço moral e cachoeirense de Paulo Henrique Thiengo, que a desmontou e a guardou em São Vicente, distrito de Cachoeiro, desde 1996 e, modéstia parte, ao esforço meu, ao tê-la comprado em 2006, com o que eu possuía de poupança. Mas fique claro, o que eu e Thiengo queremos é que Cachoeiro assuma sua responsabilidade - a nossa estamos assumindo, desde 1996, desde 2006.

O texto do Sérgio, abaixo, por favor, amigo leitor, não o deixe de ler, reler e pensar nele e em nossa História e Cultura.

Só temos a ganhar e a ganhar honestamente.

 

Sérgio Garschagen (Azo) Falou e Disse

(AO FIM, A IMPRESSORA DO CORREIO DO SUL) - Em viagem à Califórnia, em 2012, passamos pela cidade de Salinas e, sem querer, esbarramos com a casa de um dos mais famosos escritores dos EUA, John Ernst Steinbeck, autor de "Ratos e Homens" e "Vinhas da Ira" e prêmio Nobel de Literatura em 1962. A casa de Steinbeck foi transformada em museu, que visitamos, claro. Vimos as máquinas de escrever de Steinbeck, sua escrivaninha, canetas e estantes com exemplares de suas obras e saímos impressionados com o zelo com que a cidade homenageia e cuida da memória de seu maior escritor.

O povo de Cachoeiro de Itapemirim cuida também da imagem do seu maior cronista e poeta, os irmãos Rubem e Newton Braga. Pouca gente sabe, mas Newton Braga foi crítico literário do "Diário de Notícias" do Rio. A Casa dos Braga é uma prova do carinho da nossa cidade com eles, mas poderíamos fazer um pouco mais.

Mas o que a maioria dos cachoeirenses desconhece é que a impressora, em que os irmãos Braga escreveram as suas primeiras crônicas e poesias está simplesmente desmontada, embora cuidadosamente preservada por dois abnegados cidadãos da cidade: o advogado Higner Mansur e o engenheiro Paulo Henrique Thiengo. Não fosse por eles, esta impressora (foto) já teria sido descartada e vendida como... simples ferro velho. Ambos a resgataram deste fim inglório.

A importância histórica do equipamento é incontestável. Esta impressora foi importada possivelmente por Bernardo Horta para publicar o jornal "O Cachoeirano" e, posteriormente vendida ao "Correio do Sul", jornal semanal fundado pelo irmão mais velho dos Braga e que Rubem Braga, por volta dos 12 anos de idade, editou as suas primeiras crônicas e enveredou pelo jornalismo e foi correspondente de guerra na Itália e seu irmão Newton Braga, publicou as suas primeiras poesias.

Esta impressora teve assim um papel de destaque na vida cultural e literária da cidade e, diria que, por extensão, até do Brasil. Afinal, foi muito importante e ajudou a catapultar e desenvolver a veia literária dos irmãos Braga e de Cachoeiro, cidade que Vinicius de Moraes disse, com bom humor, ser a capital secreta do país, pelas inúmeras personalidades artísticas e culturais que exportou para o Rio de Janeiro, quando a cidade ainda era a capital oficial e cultural do Brasil.

Por tudo isso, este equipamento merece ser resgatado pela municipalidade lá do sítio do engenheiro Thiengo, remontado e exposto no salão cultural do Palácio Bernardino Monteiro ou na entrada da Casa dos Braga, com uma placa ressaltando a sua importância histórica e, repito, cultural para a cidade. Não devemos e não podemos ignorar o nosso passado. Tampouco devemos permitir que esta impressora seja simplesmente vendida como ferro velho, atirando ao lixo a nossa história.

 

Um Simples Portão?

 

 

Depois de tomar um café no Café Mourad's, com o "brimo" Carlinhos Misse, ele, com seu olhar eminentemente de profissional da arte (de artista, melhor dizendo), me chamou a atenção para o portão de ferro, que está entre os prédios da antiga ESCELSA e do atual BANCO DO BRASIL.

O olhar artístico dele e sua voz, me chamaram a atenção: - estávamos diante não só de um reles portão de ferro, mas sim de uma obra de arte. Olhando atentamente, certifiquei-me disso: - tínhamos, ali, sim, uma obra de arte de bem mais do que 50 anos de instalada, e eu nunca a tinha observado, ao menos com olhar para além de um simples portão, vez que se trata de um portão de arte.

Outros motivos me fizeram registrar esse acontecimento, mas o motivo principal é este: - Já reparou que nossa Cachoeiro tem tanta coisa bonita, as quais nós não vemos, por falta de visão ou por outros motivos?

Sugestão que faço: - Vamos olhar com olhar mais forte e profundo para Cachoeiro e suas coisas. Tenho certeza que ganharão os cidadãos, a cidade e nós mesmos.

(Sugiro que façam como fiz. Atente para as coisas de sua terra. E quando passar por ali ou por outro local cachoeirense que o encante, tire uma foto e coloque-a onde quiser colocar, mas queira colocar ... em respeito a Cachoeiro. Isso me encantou).

 
 

Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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