Feminicídio: cada vítima leva um pedacinho de nós - Jornal Fato
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Feminicídio: cada vítima leva um pedacinho de nós

Queria ter palavras suficientes para externar a dor e a tristeza pela morte de mais uma mulher por feminicídio


Foto: DAVID CLIFFORD/ARQUIVO

Queria ter palavras suficientes para externar a dor e a tristeza pela morte de mais uma mulher por feminicídio.

Mas nenhuma delas será capaz de mensurar o tamanho da indignação pelo assassinato de Roseli Valiati Farias, a quem conhecia dos contatos profissionais nas vezes em que ela me atendia na gráfica em que trabalhava.

Não vou falar de suas virtudes, da sua gentileza no atendimento, na profissional de excelência e na amiga querida por todos. Tudo isso já foi amplamente exposto nas redes sociais desde segunda-feira, dia em que o seu desaparecimento foi tornado público.

Vou falar do risco que corremos todas nós simplesmente pelo fato de sermos mulheres. Vou falar dos homens que acham natural pensar nas mulheres como posse, e não como parceiras de vida.

Abordo a frieza de um homem que mata uma mulher dormindo (o que teria provocado um sono tão pesado numa pessoa que vai a um lugar assistir um jogo?), passa mais de 24 horas com seu corpo sem vida em casa, sem que isso o incomode.

Que é procurado em casa pela polícia, mas não pode abrir a porta porque sua vítima está estendida no chão da sala. E que logo depois vai à Delegacia prestar depoimento?

O assassino, claro, mente, nega ter visto Roseli no dia anterior e volta para casa, certamente pensando mil maneiras de se livrar do corpo da mulher cheia de vida e sonhos, que foram cruelmente interrompidos.

Ao que tudo indica, o homem não se arrependeu e friamente calculou todos os passos para se livrar do corpo sem deixar marcas. Do carro já tinha se livrado.

Sabe o que penso? Qualquer pessoa que defende ardorosamente o armamento da população é capaz de matar, claro, especialmente as mulheres.

Qualquer um que se recusa a tomar vacina contra o coronavírus é capaz de matar mulheres, crianças, negros e LGBTQIA+.

Qualquer um que fecha os olhos para mais de 600 mil mortos pela Covid-19 e defende um governo que poderia ter evitado pelo menos 80% dessas mortes também é capaz de matar.

São pessoas que fazem pose, usam boas roupas, ocupam posição de destaque na sociedade, usam belas palavras, mas estão com as mãos sujas de sangue, por ação ou omissão como o presidente que insistem em defender.

Muita coisa precisa ser esclarecida. A polícia fez um belíssimo trabalho, mas ainda existem muitas perguntas sem respostas.

E a família, os amigos, a sociedade merecem uma resposta. E a certeza de que crimes hediondos como esse não ficarão impunes.

Justiça por Roseli Valiati Farias. Justiça por todas as vítimas de feminicídio.


Anete Lacerda Jornalista

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