Licença para matar - Jornal Fato
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Licença para matar

Fiquei muito mal na semana passada


Fiquei muito mal na semana passada. Quem milita no combate à violência contra a mulher sabe que muitas vezes nossa luta é inglória e os resultados muitas vezes são decepcionantes.

Muitas vezes vimos em julgamentos o agressor de mulheres ser "premiado" com uma pena leve e a vítima punida. Foi exatamente o que aconteceu após o julgamento do espancador de Mônica Peccini Mardegan.

No dia 17 de junho de 2017 ela teve os dentes quebrados, o nariz fraturado, quase foi esganada e morta pelo então namorado. O julgamento foi na semana passada. Já imaginei por parte da defesa do agressor questionamentos sobre a conduta de Mônica, sobre as roupas que usava, o comportamento duvidoso, entre outras coisas tão comuns quando ao invés de julgar o autor do crime, torna-se a vítima em ré.

É muito comum nos casos de violência contra a mulher. Ela já sofreu demais e ficou oito dias sem conseguir abrir os olhos após o espancamento por causa dos hematomas. Tem medo de sair até hoje, mas diz que precisa seguir em frente, apesar desse resultado tão decepcionante. O agressor foi condenado por lesão corporal e vai responder em liberdade.

Mas sabe o mais triste de tudo isso? Eu tinha esperança que os jurados, homens e mulheres, se colocassem no lugar dos pais da Mônica. Imaginassem suas filhas sofrendo as agressões que a vítima sofreu e se posicionassem a favor dela e condenassem o agressor à prisão.

Mas não foi isso que aconteceu. A maioria preferiu condená-lo por lesão corporal, e não tentativa de homicídio, e livrá-lo da prisão. Quero crer que essa pena leve não contou com o voto das mulheres do júri. Como a votação é secreta, nunca saberemos.

Se houve voto feminino na pena que premiou o espancador de mulheres com requintes de crueldade, lamento muito. Da minha parte posso dizer. A luta continua. Podemos fazer pouco, mas não nos calaremos.

Não assistiremos indiferentes mulheres virando estatística e engrossando os índices de feminicídio. Espero sinceramente que os que escolheram pena mais leve não se arrependam de darem a um homem violento licença para matar. 

O sangue das mulheres assassinadas que respingarem nas paredes e pisos terá passado também pelas mãos dos que escolherem aliviar para o espancador de mulheres.

Nosso grito atravessado na garganta continua o mesmo. Justiça. Por Mônica e por todas as vítimas.


Anete Lacerda Jornalista

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