Milton Paracatu - Jornal Fato
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Milton Paracatu

Em algum momento do século passado estava eu trabalhando no Banco do Brasil, em Cachoeiro


Em algum momento do século passado estava eu trabalhando no Banco do Brasil, em Cachoeiro, no lugar em que ele está hoje, quando pelas 16 horas me deu "vontade louca" de não trabalhar mais, ao menos naquele dia de verão em que quase todo mundo de Cachoeiro estava na praia, principalmente Marataízes.

Meu chefe era Milton Ignácio da Silva; ninguém o conhecia por esse nome. Ele era mais conhecido como Milton Paracatu, nome que adquirira graças a viagem bem doida que fizera anos antes à cidade de igual nome, interior mineiro, na rota para Brasília.

Dada minha "vontade louca" de não trabalhar mais naquele dia, instante que coincidiu com a atividade intensa de serviço do Paracatu, numa daquelas horas que só bancário entende: - horário final de juntar todos os cheques depositados no dia, para encaminhá-los à "compensação", nem tal momento de tensão no serviço do Paracatu entendi respeitar.

Paracatu atolado na mesa, imerso na papelada imensa, cercado de cheques de todas as origens de bancos e cidades do Brasil, achei que era chegada minha hora de fugir do banco, mas com autorização do chefe Paracatu.

Aproximei-me da mesa dele e falei com máxima seriedade:

- "Paracatu, estou precisando de ir mais cedo pra casa; o dia foi muito pesado hoje. Posso ir? Aí amanhã compenso e chego um pouco mais tarde".

Milton Paracatu, atarefadíssimo como sempre, olhou de lado pra mim, sem virar o rosto e sem sequer pensar noutras coisas, aprisionado que estava pelo seu serviço, foi logo me liberando:

- "Valeu, sem problema, pode ir. Até amanhã", disse-me ele, numa velocidade que coincidia com a velocidade que ele exercia sua atividade de funcionário do Banco Brasil. Parti pra casa.

No outro dia retornei cheguei um pouco mais tarde, cumprindo o que prometera. Paracatu, como era o início do expediente diário, bem descansado da tensão de atendimento bancário, viu quando cheguei e veio logo pro meu lado, pedindo satisfação do que ele entendeu como atraso meu.

Ao que retruquei imediatamente:

- "Mas Paracatu, estou cumprindo exatamente o que tinha te prometido ontem; que eu sairia mais cedo ontem e voltaria mais tarde hoje. E tenho testemunha do acontecido. A testemunha é o mais que sério colega do Banco do Brasil, Sebastião Nunes de Almeida, que pode confirmar tudo o que estou falando e o que fiz".

Nem precisei chamar a testemunha. Rindo desbragadamente ao meu lado e ao lado do Paracatu estava Tião Nunes, que confirmou tudo o que eu dissera.

Como não tinha jeito de "ladear" o testemunho do Tião, ficou tudo por isso mesmo.

Melhor (ou pior?), ficou tudo por isso mesmo uma ova. Paracatu me avisou imediatamente que naquele dia especialmente, precisava que eu desse mais duas horas de expediente, já que o serviço estava demais e ele precisava de mim.

Não teve jeito, trabalhei mais duas horas naquele dia e quem era eu para pedir que me pagassem hora extra!

(Essa história, absolutamente verdadeira, foi lembrada por Tião Nunes, entre risos e ótimas e saudosas lembranças do amigo, colega e chefe Paracatu, enquanto servíamos do bom café do ESQUINACAFÉ - café que foi pago pelo também grande amigo José Paulo Jorge, o qual nos servirá de testemunha deste relato, tal qual Tião fora).

 

Vem pra Cachoeiro, GABEIRA!!!!

Em crônica publicada no jornal carioca "O GLOBO", de início do mês de fevereiro do ano passado - 2020 - Fernando Gabeira escreveu sobre as chuvas e enchentes que se abateram sobre algumas das muitas regiões do Brasil, inclusive sobre nossa cidade - Cachoeiro de Itapemirim (vivo só pensando em ti).

Com seu viés mais que importante de jornalista pesquisador e de qualidade, vendo mais para o que vai acontecer do que para o que já passou, assim se manifestou Fernando Gabeira, na sua crônica do jornal:

"Estou esperando passar um pouco a emergência e visitar algumas cidades atingidas, como Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, com uma pergunta: qual o nível de preparação da cidade quando caíram as chuvas? Dessas respostas podem surgir algumas indicações válidas para um universo mais amplo".

Da Ponte Carim Tanure
 
Da Ponte Fernando de Abreu - Municipal
 

Passados quase dois anos, tendo em vista que à emergência das chuvas veio a mais que emergência da pandemia, somente agora Gabeira começa nova caminhada, com certeza absoluta e comprovada, tentando anunciar boas novidades em algumas cidades e a falta de novidades noutras.

Foi isso que entendi do que ele escreveu (repito para não ficarem dúvidas):

- "qual o nível de preparação da cidade (de Cachoeiro de Itapemirim) quando caíram as chuvas? Dessas respostas podem surgir algumas indicações válidas para um universo mais amplo". Ou não!!!

Ilustrando a página, fotografias tiradas dia 20 do corrente, às 17,30 horas, de cima da Ponte Carim Tanure, no centro da nossa cidade - Praça Jerônimo Monteiro e da Ponte Fernando de Abreu, cognominada Ponte Municipal.

E aproveitando a crônica de Fernando na Gabeira, não me custa incentivá-lo:

- VEM PRA CACHOEIRO, GABEIRA!!!!

 

BERNARDO HORTA

Bernardo Horta de Araújo, diz Newton Braga, é a maior figura de nossa História. Filho do Desembargador José Feliciano Horta de Araújo (que dá nome ao Fórum) e de D. Izabel de Lima, filha do Barão de Itapemirim, nasceu em 20 de fevereiro de 1862, Itapemirim, na Fazenda Muquy, terras do avô barão.

Fundador do 1º Clube Republicano do Estado, foi Presidente da Câmara Municipal de Cachoeiro (1902/1903), cargo que equivalia ao de Prefeito (fruto de seu trabalho, em 1º de novembro de 1903 foram inaugurados a luz elétrica (na Ilha da Luz) e o prédio da Prefeitura de Cachoeiro (no local onde está, hoje, a Câmara).

Casou-se com D. Angelina Ayres Horta, filha de Joaquim Ayres (maçom, fotógrafo e fundador do Grêmio Bibliotecário Cachoeirense (biblioteca da Maçonaria), como Bernardo).

Farmacêutico, formado em Ouro Preto - MG (dezembro/1881), jornalista (redator-chefe do "Cachoeirano") e político (vereador e deputado federal). Seu nome está inscrito em nossa história principalmente pela atuação política. Simples, idealista, honesto, sonhador e grande orador, como define Evandro Moreira, esses predicados foram sua glória e o seu martírio.

No término de seus dias, pobre, endividado, doente e desprestigiado, desgostoso com os rumos da República, suicidou-se no Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1913, dia em que completava 51 anos, cinco dias após a inauguração do Grupo Escolar Bernardino Monteiro. Imagine o sofrimento do grande homem: esquecido por Cachoeiro, num canto qualquer do Rio, enquanto aqui inauguravam a Fábrica de Tecidos e a Fábrica de Cimento (fins de 1912) e o mais portentoso de nossos prédios públicos. "Deixou um nome limpo na vida pública, como na particular", diz Antonio Marins.

Bernardo Horta pediu "lhe fosse dada sepultura rasa e fosse feito enterro de última classe". A cidade teve vergonha e quando seus restos mortais foram trasladados para cá, teve verdadeira multidão a acompanhá-los. Depois, a única homenagem que a cidade lhe prestou - e sobreviveu - foi dar o seu nome a uma de nossas principais ruas. É muito pouco.

(Em 19 04 2007 Nelson Sylvan me passou as seguintes informações, verbalmente:

A esposa de Bernardo, Angelina, tinha o apelido de Nininha e morreu tuberculosa, por volta dos 20 anos de idade. Casou-se com aproximadamente 13 anos e teve cinco filhos: Maria Izabel, Fábio, Zilma, Lélia e José. José casou-se com Iná Avidos, filha de Florentino Avidos que, por sua vez, era casado com uma das irmãs de Jerônimo Monteiro.  Zilma casou-se com o escritor Henrique Pongetti e tinha uma pousada no Alto da Boa Vista (Rio). Os filhos de Bernardo Horta, logo após o falecimento dele, foram criados pela mãe de Nelson Sylvan, que era da cidade de Areia - PB. O bisneto de Bernardo, que também se chama Bernardo é jornalista, afirmou, em carta dirigida a Nelson, que Bernardo Horta tinha o apelido de "Beré".

(Repito essa pequena biografia de Bernardo Horta, para que Cachoeiro não se esqueça que existe político honesto, sim).

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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