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Vida que segue

Desde 16 de março estou em quarentena, só saindo de casa até o quintal, para caminhar e tomar sol


Desde 16 de março estou em quarentena, só saindo de casa até o quintal, para caminhar e tomar sol. E como escrevo as experiências do dia a dia, sempre com partilhas das muitas atividades, sinto-me um pouco sem temática. Meu freio foi puxado e agora vivo experiências mais simples, porém muito profundas, o ponto de vista hoje é outro. Tenho sentido muito a ausência de compartilhar e conviver com as amigas que tanto me são queridas. Tento atenuar nas redes sociais - e feito descobertas extraordinárias, uma afinidade incrível com grupos novos e o afastamento dos que iniciaram com um objetivo e se desviaram. E às vezes sinto tanta abstinência de convivência que ligo para vários amigos, e vou me abastecendo.

Nesta Semana Santa em especial aconteceu algo inusitado. Minha Paróquia é a Igreja da Consolação, e ela mantém suas atividades divulgadas e apresentadas na internet, pela ausência dos fiéis presenciais.  No Domingo de Ramos a Igreja comemora a entrada de Jesus em Jerusalém, entrada festiva em que o povo acolhe o Senhor com ramos. Com o fechamento das Igrejas, os fiéis foram orientados a enfeitar suas portas, janelas ou portões com ramos de palmeira, numa homenagem a data festiva. E a paróquia, numa atitude muito humana, visitou todas as comunidades, ruas por ruas, com sacerdotes e diáconos aspergindo água benta nos fiéis. E em nosso morro aconteceu algo inusitado. Temos partilhado a nossa vivencia na quarentena, mas sem nenhum contato físico. E no Domingo de Ramos enfeitamos nossas casas, assistimos a Santa Missa pelo facebook e saímos à rua aguardando a passagem dos ministros da Igreja. E foi uma grande emoção encontrarmos nossos vizinhos, as família nas portas das casas, todos se cumprimentando à distância, enviando abraços e beijos, sem nenhum contato físico, mas num grande transbordamento de amor. E o fato se repetiu na Sexta da Paixão com o Cristo crucificado e na Páscoa com o Santíssimo Sacramento. Se os fiéis não podem ir às igrejas, esta vem até os fiéis, assim é a igreja de Cristo.  Quando acabar esta pandemia há de surgir um grande respeito pela vida, pelo natureza, uma humildade maior, uma valorização das coisas simples e muito amor pelo ser humano, a partir da família, dos amigos, dos vizinhos, num só coletivo que envolve todo o planeta. Quem viver verá.

 

Marilene De Batista Depes


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