Gira, mundo - Jornal Fato
Colunistas

Gira, mundo


 

Isso é certo: o mundo dá muitas voltas. A terra translada ao redor do sol, desenhando elipses imaginárias, enquanto se revolve sobre si mesma, alterando micrometricamente ângulos e velocidades, certezas e sentidos. Em suas rotas celestes, o planeta produz eclipses solares e lunares, equinócios e outros fenômenos astronômicos. E nós aqui, plantados em sua cacunda biosférica, nem suspeitamos de tanta inquietação.

 

Apesar disso, o mundo continua dando muitas voltas. Sempre girando. Dizem os cientistas que a terra possui circunferência máxima que supera os 40 mil quilômetros. Cada combinação dos variados e imperceptíveis outros movimentos que ela produz ao rotar e transladar demora mais de 20 mil anos para voltar a ocorrer. Portanto, para nós, para quem o fim é tão breve, objetivamente nada se repete enquanto o mundo roda. Nem a luz que nos chega do sol ou da lua; ela é sempre outra.

 

E assim, enquanto o mundo gira, ignorando as coordenadas, o tempo, o espaço e o tempo-espaço, alguém deve estar por aí gestando e parindo mais cálculos impressionantes, que posteriormente serão googlados por algum cronista sem assunto. Mas o que nenhum cientista poderá jamais provar, até porque aí já é da alçada dos poetas, que gostam de contradizê-los, é que o mundo realmente dá muitas voltas, mas, de forma surpreendente, quando para, para sempre no mesmo lugar.

 

Pois não é por isso que estamos eternamente às voltas com as mesmas dores e indagações? Repetindo os erros, revivendo amores, buscando em eventos e pessoas aparentemente diversos aquela velha emoção que já nos desiludiu? Não vivemos tentando recuperar, reformar, revitalizar, renovar, resgatar, ou seja, maquiar o antigo para disfarçá-lo com a máscara do novo? E, se temos o novo, não nos lançamos a todo tipo de esforço para moldá-lo, constrangê-lo, esculpi-lo segundo os padrões que já trazemos conosco, o padrão antigo? Não é lá, no antigo, que buscamos nos sentir confortáveis, ainda que inseguros, infelizes, amedrontados?

 

Gira, mundo, mas vê tem um jeito de nos desembarcar em outra estação.

 

 


Comentários