Ainda é possível avançar muito nos próximos 18 meses - Jornal Fato
Entrevista

Ainda é possível avançar muito nos próximos 18 meses

?Quero que seja avanço controlado, para que eu não deixe problema para o futuro


 

Executar 80% das obras pactuadas no Orçamento Participativo. Essa é a meta ousada que persegue o prefeito Carlos Casteglione (PT), mesmo num cenário em que o maior desafio é equilibrar as demandas crescentes com o orçamento que não para de cair.

 

Na terceira e última parte da entrevista, concedida na última sexta-feira, ganham foco os trabalhos sociais, em que o assistencialismo puro e simples tem dado lugar à emancipação do cidadão, seja com incentivo à produção da agricultura familiar ou a geração de emprego em micro e pequenos empreendimentos.

 

Fechar bem o mandato, sem deixar pendências para quem vai sucedê-lo é, também, preocupação do prefeito, que anunciou a criação de comitê para acompanhar o andamento de obras. Ele não quer deixar novos elefantes brancos.

 

 

FATO - O senhor diz que sua marca é prestar serviço a quem mais precisa. A estratégia de investir em drenagem e contenção de encostas faz parte deste modelo?

Carlos Casteglione - Tínhamos 17 áreas de risco e já resolvemos 80% destes riscos. Essa é outra imagem que puxo do passado. No primeiro dia de 2009, em todo aquele ano, e o início de 2010, passamos com ocorrências de alagamentos e deslizamento de encostas. Era um terror na vida das pessoas. Hoje as chuvas caem e não temos mais nada disso. Ao longo desse governo conseguimos entregar mais de 160 grandes obras de muro de contenção e 60 mil metros de rede de drenagem para a população. Essa é uma marca. Mudou a realidade. A gente focou nossos investimentos sem medo de enfrentar o desgaste. Ninguém é lembrado por enterrar manilha. Mas eu, como sempre disse, não podia pensar nisso. Tinha que pensar nas pessoas que mais precisam. Eu fiz a escolha de resolver os problemas. Fizemos todas as contenções do Zumbi. Agora estamos fazendo a última obra de pavimentação da última rua do bairro Zumbi. É algo emblemático. Isso se resolveu com trabalho, parceria, compreensão e muito esforço.

 

Como o senhor mesmo disse, são obras que depois de enterradas se esquece. Mas, durante a execução, causam desgaste.

São desgastantes sim, mas trazem também satisfação. Os alagamentos do Detran, no bairro Ferroviários: acabaram. O muro da Nova Venécia, no Zumbi, e o da Gladistone Rubim (no Sumaré) são simbólicos. O muro da última rua da Vila Camponesa, no Coronel Borges, está lá, prontinho, para resolver o problema das pessoas. Estão em andamento todas as obras de muro de contenção do bairro Recanto, inclusive a famosa Rua José Turini. Tem uma rua - Angelo Boss (no Baiminas) - que está dando muita polêmica. Fui lá, na semana passada. Tem poeira, tem lama, tem tudo. No Detran também teve. Mas a alegria que eu tenho é poder chegar lá e ver essas manilhas enormes plantadas e não apenas num pedaço da rua, mas desde o início, para ligar a rede numa rede maior.

 

Ainda falta muito para resolver o problema das encostas de Cachoeiro?

O pacote de obras do bairro Bela Vista, do ponto de vista da macrointervenção de ruas sem calçamento, é o último (serão R$ 3,9 milhões em drenagem, muros de contenção e pavimentação). Resolvemos todos os outros. É uma obra que tem a marca Casteglione de fazer. A previsão era de R$ 2 milhões, só que a rede em que iríamos ligar não suporta tudo o que vamos captar. Tivemos que começar a partir do Rio Itapemirim, subindo pela Rua do Paulo Pereira, para poder fazer a ligação do sistema. O mesmo ocorreu no São Francisco. Para levar a drenagem a duas ruas no alto do bairro, escolhidas no OP, precisamos iniciar da Linha Vermelha, pois a rede que existia, não comportaria.  Essa é a lógica das obras de qualidade, das obras diferentes. Antigamente se fazia o quê? Colocava lá uma massa de asfalto, não tinha rede de drenagem, nada, e a água, depois, invadia a casa das pessoas.

 

Haverá tempo para entregar as habitações do programa Minha Casa, Minha Vida?

Vamos entregar todas as unidades. Do ponto de vista do compromisso das empresas com a Caixa, elas estão praticamente no ponto final. No Marbrasa, houve problema. A empresa abandonou e a Caixa teve de habilitar outra. As obras, hoje, estão no mesmo estágio no Gilson Caroni e Marbrasa. A seleção, no caso da Marbrasa, está mais adiantada. As famílias estão selecionadas. A Caixa apenas não divulgou, ainda. Estamos realizando o cadastro do Gilson Caroni agora. Temos a constatação de que a demanda por moradia em Cachoeiro também reduziu. O esforço é grande para encontrar famílias que possam ser habilitadas.

 

O que falta para os conjuntos habitacionais ficarem prontos?

Frente a essa crise de recursos que a gente tem, o compromisso da Prefeitura é fazer os acessos e a unidade de saúde, que já está em andamento. O Idurb vai licitar e executar os acessos. O governador e o secretário (de Estado de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano) João Coser estão trabalhando junto comigo para fazer uma obra rápida para a gente programar a entrega para o final desse ano. São quatro conjuntos habitacionais, em dois bairros, com 1.740 apartamentos.

 

Fora isso, há mais ações do programa habitacional no município?

Estamos construindo, no Village, 35 casas, para poder fazer uma revitalização do Conjunto Fé e Raça, de onde vamos deslocar 35 famílias para as casas novas, que estão praticamente prontas. Serão entregues neste ano e no ano que vem vou iniciar a revitalização do Fé e Raça: a chamada urbanização de área de periferia, programa do Governo Federal. Já tem recurso.  Também fizemos um investimento grande de habitação rural. Estamos construindo 50 casas em Monte Alegre e já entregamos 17 unidades para agricultores familiares.

 

Já que falou de Monte Alegre, o que tem realizado no meio rural, além das casas?

A gente percebe uma diversificação importante na agricultura. As transformações que fizemos.  Tínhamos uma imagem de uma sopa e passamos para um programa de segurança alimentar que tem repercussão importantíssima no meio rural. Hoje temos as pessoas numa alegria grande. Elas não dão conta de produzir para entregar. Feiras, merenda escolar, PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) federal e PAA do MPA (Movimento de Pequenos Agricultores) - que paga R$ 5,10 a dúzia de ovos. Monte Alegre é um bom exemplo. Mudou. Recebia os caminhões da Prefeitura para levar cesta básica e doação. Agora vão lá para trazer alimento que eles produzem e vendem. Nós só conhecíamos o leite, em Cachoeiro. Café se sabia que produzia, mas não para onde ia. Aí é preciso dar crédito também ao José Arnaldo - ex-secretário de Agricultura, no governo Valadão - que puxou esse processo, o (José) Arcanjo - atual secretário - engatou nisso, diversificou e organizou. Meio rural precisa organizar a cadeia produtiva, ter apoio na produção, de transporte, com vias acessíveis e razoáveis, e comercialização.  A gente organizou o comércio. Foi um passo importante. Ainda relacionado a isso, o deputado Rodrigo Coelho nos deu notícia de que o governo do estado vai liberar recursos de R$ 400 mil neste ano ainda para a gente começar a reforma do Mercado da Pedra.

 

Nesse cenário de crise econômica, o desemprego é algo que preocupa?

Quando assumimos a prefeitura, tínhamos em Cachoeiro nível de desemprego que superava 15%. Focamos nosso projeto de desenvolvimento no incentivo à micro e pequena empresa e, evidentemente, a economia do país também ajudou. Chegamos a emprego pleno, no decorrer dos anos de 2013/14, menos de 5% de desemprego. Hoje estamos com alguns problemas, que, espero, sejam conjunturais. Mas não temos grande desemprego. Continuamos abaixo da média nacional. Temos programa de efetivo apoio à micro e pequena empresa - com sala do empreendedor e microcrédito e, inclusive, qualificação profissional, para poder readequar as pessoas. Mesmo com a crise, o setor de comércio cresce, com novas empresas e empreendimentos. Mesmo no setor de indústria, de mármore e granito, vemos que as pessoas continuam investindo. Espero que a gente vá transpor esse ano difícil para poder retomar o bom momento no próximo ano.

 

E quanto a grandes empresas, como já houve, Cachoeiro pode esquecer?

Nunca me foquei em grande empresa. É consequência de conjunto de ações que não depende exclusivamente do município. Acredito que se viabilizarem os projetos de portos que estão previstos para a região, nós podemos atrair uma grande empresa. Vou continuar lutando, pois precisamos ter logística com foco aqui. Ter a ferrovia viabilizada é importante. Ter a duplicação da BR 101 é fundamental para a gente poder direcionar e continuar no foco de manter as nossas empresas aqui e ampliar, especialmente as do setor de rochas ornamentais.

 

Qual é o maior desafio de sua gestão, nesses 18 meses que restam?

É equilibrar as demandas e a redução de recursos. O desafio de trabalhar com poucos recursos, já venci. Ao longo de todo esse tempo e com todas as dificuldades, fui á luta, batalhei e a gente deu conta de fazer o máximo do que estava previsto.  Talvez não seja ainda o que fosse a expectativa da população, mas eu tenho a certeza de estar fazendo o máximo do que é possível.

 

A receita continua em queda?

As receitas caem permanentemente. Estamos com perda em torno de 10% da previsão orçamentária de receita efetiva comparada com o mesmo período do ano passado. Uma preocupação sempre na cabeça é de que isso pode ficar pior um pouquinho, pois o cenário nacional não indica, também, melhorias em curto prazo.  Minha expectativa é de melhoria para o final deste ano e início do ano que vem. Do ponto de vista de receita municipal a gente não tem nem estabilização. Trabalho com a expectativa de que continue havendo queda.

 

E qual a mágica para trabalhar com demandas que só aumentam e receitas que despencam?

Trabalhar dentro daquilo que a gente tem já pactuado. Estamos com problema de recurso novo. Portanto, não estou trabalhando com novos projetos que dependam de recursos externos, mas apenas aqueles que tenham garantia de recurso próprio.

 

E com esse cenário, o desafio de concluir o Orçamento Participativo será vencido?

Meu objetivo é chegar ao máximo possível dos meus compromissos com o Orçamento Participativo. Hoje estamos com índice em torno de 80% das obras pactuadas nos cinco ciclos - quatro do primeiro mandato e um do atual - executados, em execução e viáveis para executar. Temos o conselho do OP, onde conversamos francamente sobre o que não dá para executar. Ainda não posso dizer qual, mas tem um limite que não vamos conseguir executar. Minha meta, nos próximos 18 meses é chegar a 80%. É média que nenhum modelo, nem o de Porto Alegre, conseguiu. Vamos iniciar coisas viáveis.

 

Então o senhor não vai deixar elefantes brancos para o seu sucessor?

Criei um comitê de gestão e planejamento, que tem, junto comigo o Dr. Abel (Santana, vice-prefeito) e mais nove pessoas. São oito do governo e uma de fora, que é o ex-secretário da Fazenda, Lúcio Berilli. Estamos construindo um grupo de monitoramento de todas as ações do governo - de obras e serviços - para fazer com que haja o cumprimento da meta até o final do mandato.  Comecei o meu governo fazendo o enfrentamento das obras paradas e quero terminar deixando tudo o que iniciei pronto. E o que não for possível, vou dizer onde é que está o recurso para a conclusão. Se planejamos o início, é preciso planejar também o final. O que eu não der conta de fazer, por toda conjuntura, inclusive a econômica, de receitas, vou, amparado no debate técnico com esse grupo, dizer à sociedade. Nessa lógica de entender tudo o que nós avançamos e que ainda é possível avançar muito nos próximos 18 meses. Mas quero que seja avanço controlado, para que eu não deixe problema para o futuro. Não teremos novos elefantes brancos.

 

Diante de tudo o que foi exposto nesta entrevista, qual meta será possível atingir de tudo o que foi planejado?

O sentimento que já tenho hoje, mesmo com tantas dificuldades, é que vamos chegar a um bom nível.  Creio que atinja mais de 70% do que a gente se comprometeu. É uma coisa factível. O sonho é chegar a 100%. Todas as oportunidades que tiver de fazer para superar esta previsão (de 70%), vou fazer.

 

 

 

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