Conexão Mansur: Ildefonso da Silveira Vianna, Cidadão - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Ildefonso da Silveira Vianna, Cidadão

Documento que merece reedição e utilizo ele, aqui, especificamente para homenagear ao Tenente Coronel Ildefonso da Silveira Vianna


- Ilustração: Zé Ricardo

Em junho de 1987, editamos, sob patrocínio da Loja Maçônica Fraternidade e Luz, do Grêmio Bibliotecário Cachoeirense, e da empresa cachoeirense ITADIL, o livreto PONTE MUNICIPAL - PRIMEIRO CENTENÁRIO, cujo objeto de fundo era tornar visível aos cachoeirenses e aos estudiosos a história da construção de nossa primeira ponte municipal, subsistente até nossos tempos - que é, hoje, a Ponte de Pedestres ao lado da Ponte Fernando de Abreu, centro da cidade, de passagem de veículos.

O livreto, composto por longo e primoroso artigo de Levy Rocha e pelo "Relatório apresentado pelos Vereadores da Câmara Municipal no quatriênio de 1883 a 1886, aos seus sucessores, na sessão de juramento e posse que teve lugar no dia 16 de março de 1887" só foi possível por este último e mais que centenário documento estar de posse de Gil Gonçalves, mais importante guardião dos documentos da História de Cachoeiro.

O relatório tem 15 páginas, datado de março de 1887 (portanto um século anterior ao "nosso" livreto) e está assinado pelo Presidente da Câmara, Gil Diniz Goulart (seria Prefeito, na linguagem de hoje) e pelos demais vereadores daquela legislatura.

É documento que merece reedição e utilizo ele, aqui, especificamente para homenagear ao Tenente Coronel Ildefonso da Silveira Vianna, construtor da Ponte aqui referida - primeira ponte de envergadura que atravessa o Rio Itapemirim, cujas fundações ainda estão lá, fincadas no Rio Itapemirim, dando sustentação à via de passagem hoje apenas de pedestres. Era onde estava o antigo Mercado Persa.

Não mais não vou alongar e nem julgar. Apenas transcreverei abaixo, ipsis litteris, o que conta do Relatório Oficial de 1887:

"A obra primitiva foi pelo engenheiro Dr. Deolindo José Vieira Maciel projetada de pedra e madeira e orçada em 35:000$000. Depois de repetidos anúncios pelos jornais desta Vila, de Campos e da cidade do Rio de Janeiro, foi a obra projetada posta em hasta pública, mas só apareceu um cidadão, o tenente coronel Ildefonso da Silveira Vianna, que, mediante certas modificações do plano anunciado, se propôs realizar a construção pela soma orçada.

Consultado o engenheiro, autor do projeto, e sob informações por ele dadas, de que as modificações não prejudicavam a solidez nem a boa servidão pública com que fora concebido o projeto, a Câmara firmou contrato com o referido tenente coronel Silveira, que logo pôs mãos à obra...

Praticamos um ato de justiça informando que o empreiteiro é digno de louvor e merecedor da gratidão desta Câmara porque deu a esta obra uma escrupulosa execução, superior às condições do contrato, pelo que terá com ela avultado prejuízo...

Ficou assim evidentemente provado o que é geralmente sabido: - que o tenente coronel Ildefonso da Silveira Vianna, como os verdadeiros patriotas, só por amor ao bem público e prosperidade de nossa vila, propôs-se a realizar essa obra, mediante orçamentos muito baixos, e que não davam margem para o menor lucro".

O texto aí de cima, de fundamental importância para nossa História Política, serve de fundamento para o agradecimento especial que faço ao Presidente da Câmara, Vereador Brás Zagotto, que teve a iniciativa do projeto de lei dando à ponte (passagem) o nome do tenente coronel Ildefonso da Silveira Vianna, como a aprovação unânime dos Vereadores, aos quais, da mesma forma, também agradeço, com a máxima sinceridade. A lei municipal tomou o número 8118, data de 19 de abril de 2024, já publicada em Diário Oficial do Município.

 

A Ponte de Ildefonso Vianna

(Extraído da Conexão Mansur 207, de maio de 2012, com ligeiro recorte, para não ser demasiadamente repetitivo)

 

 

Março de 1887: a Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim (presidente o Dr. Gil Diniz Goulart), em relatório publicado, regozija-se pela próxima inauguração da Ponte Municipal, cujos pilares, ao lado da Ponte Fernando de Abreu de hoje, próxima à Maçonaria (Guimarães Rosa) ainda sustentam pesada estrutura da ponte de passagem de pedestres. Dois meses depois, 11 de maio de 1887, era inaugurada a ponte, primeira da espécie no Espírito Santo, reconheceu o Bispo D. Pedro Maria de Lacerda.

Dizia D. Pedro: "Quarta-feira de Cinzas, 10 de março de 1886: Cheguei-me à entrada da futura ponte sobre o [Rio] Itapemirim. É obra im­portante e a primeira da Província em seu gênero. Apenas tem os pilares grossos e mui altos todos de pedra e os grossos muros das entradas. Falta a superestrutura que será de ferro, e é esperada de sorte que daqui a 5 meses esta Vila terá uma obra monumental e de imensa vantagem para as duas margens ao longo das quais se estende a Vila. A ponte fica no centro da Vila, mas na extremidade de cima, talvez por ser o terreno mais sólido e mais alto ou pelo que for. O empresário tinha vindo da Corte comigo no Vapor Mayrink. Dizem aqui que ele perderá porque pensou que a obra não lhe sairia tão cara". (Pág. 239 dos "Diários das Visitas Pastorais de 1880 e 1886 à Província do Espírito Santo", organizado por Maria Clara Medeiros Santos Neves, Phoenix Cultura, 643 págs., R$ 35,00).

O empresário a que se refere o Bispo é o tenente coronel Ildefonso da Silveira Vianna, a quem Gil Goulart não poupara elogios.

 

Quem Foi Ildefonso Vianna

Evandro Moreira

Ildefonso da Silveira Vianna era proprietário, com seu irmão José Vianna, da Fazenda Aquidabã, recebida por herança de seu pai, o Major Custódio da Silveira Vargas, que as adquirira de Antonio Francisco Moreira que, por sua vez, as houvera do Coronel Heliodoro Gomes Pinheiro, parente dos "Areia" de Itapemirim. Em fevereiro de 1887 casara-se com dona Rosalina Teixeira de Vasconcellos, filha de José Guilherme Teixeira (irmão de Pedro Duarte e de Dona Joana Paula das Dores). Enviuvando-se, casou-se com a cunhada dona Maria. Mais tarde, viajou à Europa e, no retorno, fixou-se no Rio, onde faleceu em janeiro de 1914, tendo passado suas terras para o comerciante Samuel Levy, que por sua vez legou à filha Carly, que se casou com Anacleto Ramos".

(Extraído da pág. 96, do livro "Cachoeiro Uma História de Lutas, volume 1, que lamentavelmente está esgotado).

Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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