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Contos Infantis

Através da leitura caminhei por florestas, nadei em rios e lagoas e velejei por mares mundo afora


- Foto Reprodução Web

Acho que mudamos. Disse acho, porque não sei bem o que acontece com o pensamento atual dos adultos e, muito menos, das crianças e adolescentes. Acho também: ninguém sabe. Mesmo para os estudiosos do assunto. Parece momento de transição. Existe um turbilhão de idéias, jeitos de se vestir e agir. Algo inusitado. Lembra passado remoto e logo em seguida um futuro incerto. Se bom ou ruim, não sei. Para mim: ora indiferente; ora preocupante. Em alguns instantes: indiferente. Pois, o comportamento de crianças e adultos, daqui alguns anos, não me fará diferença, provavelmente, na Terra, não mais estarei; preocupante, a busca de substâncias psicoativas que muitos acabam optando, não muda apenas comportamento, muda neurônios e suas sinapses tão importantes para a memória e cognição. Porém, esse é outro assunto. Tenho, no momento, interesse na literatura infantil que tanto me alegrava. Com ela, em minha infância, viajei. Através da leitura caminhei por florestas, nadei em rios e lagoas e velejei por mares mundo afora. Cidades grandes e modernas não conheci em meus livros de infância. As viagens se apresentavam em lugares simples, rico de natureza. Eram lugares sagrados em que o sol, lua e noites estreladas se sobressaiam e dominavam a imaginação. Entre o real e fictício, os artistas e protagonistas eram homens e mulheres. Seres humanos respeitando animais e árvores. Não existia temor, apenas coragem e respeito mútuo, ensinavam o valor do convívio, e assim passava o dia. Curioso, na vida real, em criança e quando adulto, nas coisas citadas e sonhadas não me arriscava.

Na memória aparece Tarzan, Aladim, Mandrake, Fantasma... Suas histórias e aventuras eram consumidas em leituras rápidas. Releituras aconteciam em noites frias e solitárias, embalavam o sono e assim a infância seguia encantada. Nas noites, os sonhos de coisas que viriam na vida adulta se apresentavam. Não ia longe nos pensamentos, logo voltava ao local de nascimento. Voltava ao local que cresceria. Não me imaginava em outro local. Mas, gostava de passear com as histórias das revistas em quadrinhos e nos livros mágicos de final feliz. Viajar sempre foi uma forma de alimentar e enriquecer meus sonhos. Contudo, as coisas alegres do dia a dia da infância não deixavam surgir o desejo de outro destino. A viagem em sonho era de curta duração, uma breve leitura. Miguilim, o personagem mirim de Guimarães Rosa, com seus oito anos de idade, apresentava o irmão menor como seu melhor amigo e confidente no descobrimento das coisas do mundo e me aguçava a curiosidade sobre cidades do interior do Brasil. Talvez seja isso, falta para os dias de hoje os sonhos e as curiosidades de irmãos.  Quem sabe, seríamos melhores com menos informática, menos coisas virtuais e mais histórias humanas; quem sabe, o uso da magia das palavras no combate ao desejo de substâncias que produzem as alienações; quem sabe, as palavras sejam as chaves para um comportamento diferente. São sonhos infantis, eu sei. Melhor assim, do outro jeito, do jeito que estamos, sem sonhos, não é viver. É, apenas, contar os anos.


Sergio Damião Médico e cronista

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