É Preciso Voltar a Reciclar... - Jornal Fato
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É Preciso Voltar a Reciclar...

Venho acompanhando há bastante tempo ? décadas, com certeza ? a questão do lixo urbano


Venho acompanhando há bastante tempo - décadas, com certeza - a questão do lixo urbano que, em determinado momento virou material reciclável e eu não me lembro de ter tido, no meio, algum outro nome. E deve ter tido, já que o pessoal do poder público adora mudar nomes, enganando e mantendo a má atitude costumeira, quase sempre.

Mais recentemente, venho acompanhando o trabalho da ASCOMIRIM, associação regular de coleta de materiais recicláveis de Cachoeiro. Ela e eles são 13 famílias cachoeirenses que se dedicam de corpo e alma à reciclagem, trazendo a Cachoeiro limpeza urbana que não víamos, sempre a troco de uma miséria de valor de retorno... para eles.

Isso era verdade, e deixou de ser verdade, não por culpa dos cidadãos, mas por culpa da administração pública.

Enquanto isso, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Cachoeiro, principalmente a dos últimos tempos, enquanto não chegava o dilúvio (isto é, um incêndio no ponto final de coleta do lixo reciclável), se esbaldava - e ainda se esbalda - em autoelogios, dizendo que pintavam e bordavam (quando xxxxxxx e andavam); que faziam isso e aquilo e que Cachoeiro era um exemplo no fazer... isso e aquilo.

Mas aquele trabalho maravilhoso de limpeza que os cidadãos das classes mais pobres faziam, falo da ASCOMIRIM e de sua gente, de repente acabou e não por culpa deles.

Em início do ano passado, um incêndio consumiu boa parte do local onde eles trabalhavam, num anexo ao que antigamente chamávamos de "Morro do Lixo", fim do Coronel Borges, saída para a capital do Estado.

Se fosse incendiado o gabinete de um dos graúdos do poder local, certamente que não duraria uma semana e tudo voltaria ao normal, num novo local muito mais bonito e saudável. Mas como o material descartável é coisa de "pobre", ah, deixa isso prá lá; a natureza vai recompor naturalmente, aliás, essa foi a justificativa para a mesma secretaria municipal de Cachoeiro abandonar criminosamente a Ilha do Meirelles. A Ilha não foi dedicada à natureza, mas, sim, à bandidagem.

A cidade de Cachoeiro precisa acordar para essas histórias que estão acontecendo e que ficam esquecidas na memória, perdidas, até que um dia tudo exploda, mas aí não terá mais jeito, exceto...

Estou tão indignado com isso e com outras coisas públicas que nem iria publicar esta minha página, aqui, nesta semana - estava preferindo esfriar a cabeça, na espera ridícula, como ora sinto que seja, de que um milagre acontecesse. Mas "tá aí".

O milagre irá acontecer, e demora um pouco ainda, daí esse meu retorno agora para dizer desse momento ridículo que nossa cidade passa. Enquanto tecem loas à natureza, deixam-na ao Deus dará; dizem que farão isso e aquilo e não fazem nem isso, nem aqui, e nem coisa alguma, creio que, em boa parte, por incompetência mesmo.

Que Deus ilumine aqueles que devem ser iluminados, mas só eles.

 

Agora Falando Bem

Nem tudo anda tão mal nos arraiais do poder municipal.

Após 20 anos de sua inauguração, eis que finalmente um ponto turístico de Cachoeiro - o mais visitado, Casa de Cultura Roberto Carlos - acaba de ser agraciado com profissionalismo na recepção dos visitantes - e visitantes devem ser considerados os cachoeirenses e os turistas.

Segundo noticia a prefeitura, foi lançado edital de concorrência pública para instalação de lanchonete, na área externa da Casa de Cultura Roberto Carlos, aproveitando a popularidade da residência onde viveu o cantor, oferecendo, ainda, lembranças e outras comodidades na visitação, sem contar a possibilidade de usar o espaço para encontros e happy hours, com maior integração da população cachoeirense.

O nome do estabelecimento, bem como dos seus produtos, deve ser relacionado ao cantor cachoeirense e a sua obra, diz a notícia oficial.

A secretária municipal de Cultura e Turismo, Fernanda Martins, a quem elogio, bem como à sua equipe, informou: - "Consideramos esta ação muito relevante por ser, a Casa de Cultura Roberto Carlos, o centro cultural mais visitado do município. Sentimos a necessidade de criar esse espaço, pela observação de vários visitantes que por lá passaram. Será mais um serviço oferecido no sentido de acolher o turista com qualidade e carinho". Isso é uma das coisas que faltava a Cachoeiro. Faltam outras, mas parece que agora vai. ("Quando se vê futuro de qualidade, minimiza-se o passado sem qualidade", dizia sei lá quem!).

 

Em favor da ASCOMIRIM e Recicladores de Lixo

Venho falando há algum tempo sobre o lixo em Cachoeiro de Itapemirim, sempre sob viés de que lixo, hoje, é riqueza, se devidamente explorado e tratado, riqueza que pode se estender principalmente aos desempregados e aos cidadãos e empreendedores locais com coragem para meter a mão na massa.

Em agosto, se não me engano, em reunião na Câmara Municipal de Cachoeiro, com presenças do Ministério Público Estadual e da ASCOMIRIM - Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Município de Cachoeiro, além de vereadores e de outras autoridades (reunião promovida pela ADERES, órgão estadual), presenciamos uma série de manifestações interessantes sobre o futuro daquilo que antigamente era só lixo.

Falou-se claramente da reciclagem do lixo, do que ela pode trazer de bons resultados econômicos e de geração de empregos para a cidade. Na ocasião, a ADERES entregou documento de 36 páginas sobre o lixo de Cachoeiro, repleto de gráficos e detalhes. Fui atrás do documento; só no início da semana recebi o documento discutido naquele agosto.

Pois bem, exceto pela atuação do Ministério Público Estadual, não vejo discussão ou ação sobre o lixo local e nem nada diretamente ligado à relação dele com o emprego na cidade - hoje só estou falando de emprego em Cachoeiro. É pena e é grave, pois oportunidades vão se perdendo, ainda que "apresentadas" à sociedade... em reuniões.

Foram feitas duas contratações de empresas, pela prefeitura local, para transportar e aterrar nosso lixo. Ambas as empresas, pelo que sei, vieram de fora e boa parte do lixo também será mandado para fora de Cachoeiro.

Ora, em vez de aterrar ou mandar nosso lixo para fora, pagando caro, o erário municipal, porque não aproveitá-lo aqui, principalmente papéis, papelões, plásticos, vidro e metais - lixo que, na sujeira intrínseca, pode-se dizer limpo e que agregaria muitos empregos e qualidade de vida?

O referido documento de 36 páginas diz que o lixo trabalhado pela ASCOMIRIM - Cachoeiro, é assim representado: - papéis (24%), papelões (23%), plásticos (31%), vidro (6%) e metais (3%), restando 6% de rejeitos inaproveitáveis e 7% de outros lixos que não entendi bem se servem para reaproveitamento.

Tenho outros assuntos sobre geração de emprego, e sei que isso não se resolve com medidas paliativas - veja o exemplo de Medellín, publicizado esta semana em Cachoeiro. É preciso agir olhando principalmente para o futuro, para se ter resultado - de nada servem coisas feitas só com discussões modorrentas. Ao contrário, exige-se, ao mesmo tempo da ação diária, estudos sérios com vistas a 5, 10, 15 ou mais anos no futuro. Fora disso, pode não funcionar de verdade, pode ser demagogia e pode ser gastar com gente de fora, milhões de reais por mês, dinheiro dos nossos impostos (desnecessário dizer que, se gastarmos com gente daqui, a gente daqui gasta aqui, e com nós mesmos). A riqueza que circula num mesmo local enriquece a todos do mesmo local.

(Essa crônica foi publicada originalmente, nesta página - CONEXÃO 478 -, em 14/10/2017: - a única coisa que mudo é no título - onde estava "Catadores", coloco, hoje, "Recicladores").

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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