Gerir a própria vida. Até quando? - Jornal Fato
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Gerir a própria vida. Até quando?

A diferença das gerações é um tema curioso e com a pandemia ela se aprofundou


- Foto: Portal Amigo do Idoso

Os idosos foram forçados a uma hibernação obrigatória a fim de proteger suas vidas e até o contato com crianças e jovens foi proibido. Convivo diretamente com idosos, as diferenças do envelhecimento entre eles é enorme, alguns aos sessenta anos são totalmente dependentes por conta de comorbidades tais como AVCs, Parkinson e Alzheimer, outros, cardíacos, diabéticos, com problemas ósseos requerem cuidados, porém muitos chegam naturalmente aos cem anos, com lucidez e no domínio de seus movimentos. A evolução da medicina e os recursos tecnológicos permitem aos idosos uma vida saudável e independente até o fim.

É comum ouvirmos de idosos que não podem fazer isso ou aquilo porque os filhos não permitem.  Numa pesquisa informal com mulheres idosas foi feita a seguinte pergunta: - Você permite ser mandada por seus filhos? Com exceção de uma que respondeu que às vezes permite, e outra que concorda com os filhos mas faz tudo ao contrário, todas foram unânimes em responder que não permitem ser mandadas pelos filhos. Sabendo o quanto isso é importante para a autoestima e a saúde mental e física, é gratificante ouvir que elas continuam gerindo à própria vida. Mulheres da minha geração nasceram para obedecer pais, irmãos, maridos, patrões e líderes religiosos. Muitas delas deram um basta à submissão patriarcal, partiram para o profissionalismo, se tornaram até gestoras financeiras da família.  Causa desagrado ouvir, principalmente de mulheres, que após séculos de luta pela própria independência elas se tornaram submissas à vontade dos filhos.

Ter um diálogo com os filhos, ouvir opiniões é saudável e produtivo, afinal adquire-se experiências relativas a uma geração repleta de novas ideias. Buscar conhecimentos nos faz mais seguros em nossas decisões, estar a par das novas tecnologias, muitas vezes orientados por filhos ou netos, tudo isso é salutar e nos coloca em conexão com o mundo.

Assim como devemos evitar qualquer intromissão na vida de filhos e netos adultos, a não ser quando nos pedem opinião, devemos exigir que respeitem a nossa liberdade enquanto tivermos cabeça e pernas para gerir nossas vidas. Mas conhecendo um pouco da psicologia dos idosos, posso afirmar que muitos deles, espertamente, usam os filhos como desculpa para desfrutarem de paz, sossego e fuga dos compromissos sociais. A mentira pode ser uma verdade que esqueceu de acontecer.


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