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Pássaros sobrevoam, sem pedir licença. Nem precisam.


- Foto Reprodução Web

Um pássaro branco, de trejeitos praieiros, atravessa meu horizonte. Suas asas, quais dois copos de Brahma (o primeiro é teu, coração), trazem-me frescor para enfrentar a quentura que se anuncia - também - para hoje. Mais pássaros sobrevoam por aqui, sem pedir licença. Nem precisam. Deus, além de não cerceá-los, jamais se atreveria a privar o cronista de contemplá-los.  

De repente, uma fragrância não identificada invade a janela. Talvez seja um parágrafo com aroma de boa querência. Tanto melhor, contudo, se fosse teu perfume, que descobri, dia desses, ser colhido na aveleira.  

No domingo, vi duas gurias acudirem um passarinho que, se não estou enganado, deve ter se batido contra alguma janela do prédio. Colocaram-no dentro de um pote vazio de margarina e, então, deram-lhe água. Ainda menino, plantei um grão de feijão no algodão, no fundo de um pote de Claybom. A semente germinou. Quanto ao passarinho, creio que as gurias conseguiram salvá-lo.  

Todos nós merecemos.  

 

PELO MOTIVO INVERSO

Bom malandro descia a ladeira, mas direto ao batente, quando uma borboleta - e o velho Braga nada tem a ver com essa parada - cruzou seu caminho. Uma borboleta branca, que, certamente, inspiraria os poetas a tirarem de suas mangas um naipe de adjetivos. O que não ocorreu, porém, com o bamba em questão. 

Assim como Zeca Pagodinho, noveleiro de primeira hora, o malandro se lembrou de uma frase dita por uma personagem, entre incrédula e debochada: "A pessoa, quando quer muito algo, vê sinal em qualquer coisa". Pode ser. No entanto, ele, que não é bobo nem nada (apesar de sua cara de otário), não teve dúvida: aquela borboleta branca lhe havia sido enviada por seu pai Oxalá.  

Logo adiante, outra borboleta cruzou seu caminho. Uma preta e laranja. "Eparrey", saudou o malandro, esperançoso. Não porque a labuta e a luta lhe são fáceis, mas, conforme aprendera com um de seus mestres, pelo motivo inverso.

 

HEI, EH-Ô, EH-Ô!

Desconfio que "o fogo, a terra, a água, o ar e a paixão" sejam cinco elementos que, ao invés de apunhalar, acariciam o coração de algum camarada a vaguear pelaí, distraído em si, enquanto rememora esse verso. Que lhe chama - e ele vai - à quimera segundo a qual os tais cinco elementos são, a bem da verdade, os cinco dedinhos do pé esquerdo de sua amada.

 

BERIMBAU

Berimbau me traz o tom

que norteia minha vida.

Vosso som é o meu dom,

que define a minha sina.

Berimbau, eu peço hoje

vosso axé no meu viver.

Pois está perto, não longe,

o nosso dia de vencer.

 


Felipe Bezerra Jornalista

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