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O mal nosso de cada dia

O mal existe? Certamente


Foto: G1

O mal existe? Certamente. Nas igrejas, na política, na sociedade, nas famílias, enfim, na vida, e isso desde que o mundo é mundo. Então, nenhuma novidade.

Mas até que ponto o mal que te desejam, ou trabalham para que te aconteça, vai de fato se concretizar?

Abordo esse tema lembrando de visitas e ligações que recebi, uma muito recentemente, para me alertar de que uma pessoa tinha trabalhado no mundo espiritual pela minha morte.

Tudo porque eu teria tomado o lugar dela num cargo público, o que ela não perdoava de jeito nenhum.

Todas as pessoas que me procuraram estavam apavoradas e me recomendavam aumentar a intimidade com Deus e as orações.

Estavam preocupadas principalmente porque eu estava há muitos meses com a mobilidade reduzida, após um acidente de trabalho e uma cirurgia que me deixou inativa por 10 meses.

De lá para cá as coisas têm sido muito difíceis, às vezes quase insuportáveis, mas em nenhum momento creditei as lutas e as dificuldades ao desejo daquela pessoa.

E isso não é porque desconheça ou não acredite na força do mal. Muito pelo contrário. Vejo sua ação devastadora cada vez que assisto ou leio matérias sobre política e religião.

Mas mesmo não sendo referência para ninguém quando o assunto é fé, a espiritualidade tem uma importância fundamental para mim.

Eu estou sempre na igreja? Não. De longa data, por motivos variados. Mas isso não me impede de manter um princípio que carrego comigo desde que me entendo como cristã (que abomina a religiosidade e a hipocrisia que exclui, discrimina, julga, fere e mata em nome de Deus).

A minha fé é de que o homem não pode me fazer mal, mesmo com toda a sua capacidade humana de articular, planejar e executar coisas ruins e nefastas.

E se levar um tiro, for esfaqueada durante um assalto, sofrer um acidente, levar uma queda ou se machucar gravemente por qualquer outro motivo?

É porque tinha que ser, porque fui imprudente, e também porque coisas ruins acontecem com gente boa (sem falsa modéstia, eu certamente posso ser considerada uma boa pessoa e gosto da pessoa que me tornei).

Desde que recebi esses recados, de fato muitas coisas ruins aconteceram, nenhuma delas em função do que aquela pessoa desejou, planejou e executou.

O dia que tiver que me intimidar diante do mal que sei que existe e está logo ali na esquina, à espreita, é porque definitivamente perdi a fé.

Porque por mais difíceis que as coisas sejam, e que os obstáculos pareçam intransponíveis, respiro fundo e sigo em frente, o que não é fácil como pode parecer para uma pessoa extremamente ansiosa como eu.

Minha fé é inabalável? De jeito nenhum. Sou demasiadamente humana. Às vezes ela está bem capenga. Mais aí recorro ao um versículo que sempre me moveu. Deus é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Sempre acreditei nisso.

Agradeço a cada amigo que se preocupa com essa maldição que foi jogada sobre mim. Ela não prevalecerá. Morro quando chegar a minha hora, não tenham dúvidas.

Enquanto isso sigo adiante.  Imperfeita, com problemas, querendo que a pandemia passe logo, torcendo que o bem vença o mal, sempre e em qualquer circunstância.

Não é difícil e nem impossível. Fora o livre arbítrio do ser humano, há tempo para todo propósito debaixo do céu. E os planos de Deus certamente se cumprirão na minha vida. Só os dEle e de mais ninguém.

E a propósito, a pessoa que queria a minha morte não está mais entre nós. E lamento profundamente por isso. Isso não me dá prazer. Só tristeza em pensar que uma pessoa tão jovem partiu. Eu sigo crendo que o melhor de Deus está por vir.


Anete Lacerda Jornalista

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