Rubem Braga - Jornal Fato
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Rubem Braga

A exposição sobre o cronista foi um sucesso e, após ser apresentada pelo país afora, chegou à nossa terra


- Foto: Divulgação

Nasceu em 12 de janeiro de 1913.  Em seu centenário, uma exposição no Palácio Anchieta marcou a passagem em nosso Estado. Melhor seria ter começado por nossa cidade, na Casa dos Braga. Penso: a interiorização das ações de governos não é intensa como a vida dos cronistas e poetas. Mesmo assim, a exposição foi um sucesso e, após ser apresentada pelo país afora, chegou à nossa terra. Com Rubem, a crônica tornou-se uma forma literária reconhecida e desejada. Suas fotos lembram um homem ranzinza, porém, seus textos desfazem a imagem inicial e fica um ser sensível, capaz de lembrar-se de coisas que só as crianças lembrariam. Coisas do mistério Rubem Braga. Para entender os mistérios de sua personalidade, os livros: Rubem Braga - Um Cigano Fazendeiro do Ar, de Marco Antonio de Carvalho, uma Biografia; Na Cobertura de Rubem Braga, de José Castello, histórias de seu apartamento, Rio de Janeiro, convívio com os amigos, local para seu jardim; O Jornalismo Literário de Rubem Braga na Guerra, de Cláudia Sabadini e Rondinelli Tomazelli, registro do cronista na Segunda Guerra Mundial, junto com a FEB em 1945, e seu retorno após 25 anos, à Itália; 200 crônicas escolhidas de Rubem Braga, uma reunião de seus melhores textos de 1935 a 1977, da editora Record. Sobre Rubem Braga, a Confreira Maikely Colombini, da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), afilhada acadêmica da Maria Elvira e Higner Mansur, escreve: Um Cosmopolita Afeito à Sua Província. Dos Sabiás da Crônica, dos seis mestres, de Rubem à José Carlos de Oliveira, o Braga era o canto mais bonito.

Das 200 crônicas, algumas sobre a cidade: Em Cachoeiro, de 1947, relata o Centro Operário em frente sua casa e da nobreza de Cachoeiro de Itapemirim, por conta de suas pessoas, um maestro da banda local, lembra um lorde; Histórias de Zig, crônica sobre o cachorro da casa, enterrado sob o velho pé de fruta-pão do quintal; Quinca Cigano, relata os pios de aves da família Coelho na Ilha da Luz e o velho tio, um cigano solitário; O Cajueiro, é o relato da carta da irmã mais moça sobre a queda da árvore, lembra que foi em fim de setembro e estava carregada de flores; Os Trovões de Antigamente, refere-se aos ecos do nosso vale e como são diferentes os trovões do velho são Pedro, em Cachoeiro; A minha glória literária, é o despertar do cronista com suas composições e ironias. Entre as 200 escolhidas, gosto, também: A viajante, trecho desta crônica encontra-se gravada na entrada da nossa Rodoviária, local que necessita de manutenção e O Mistério da Poesia, cita os primeiros versos de um poema de autor desconhecido, é o bastante: "Trabajar era Bueno em el Sur... Cortar los árboles, hacer canoas de los troncos". Explica a beleza do efeito poético e compara com versos de Camões: A grande dor das coisas que passaram. Finaliza: o poético nasce do sentido solene que se dá as palavras de todo o dia. Voltando a Cachoeiro: Os sons de Antigamente, lembra do relógio de sua casa, adquirido pela família, o "relógio que não diz coisa com coisa", como um amigo alertou. O relógio que marcou a morte do pai e da mãe, relógio que, por falta de zelo e da nossa memória, não existe mais.


Sergio Damião Médico e cronista

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