Zozô - Jornal Fato
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Zozô

O eterno Rei Momo de Cachoeiro de Itapemirim


- Foto Divulgação

Revendo uns textos sobre personagens de Cachoeiro em um oportuno feriado, minha mulher reclama que escreva algo sobre o folclórico Zoroastro de Faria, Zozô, eterno Rei Momo dos carnavais cachoeirenses.

Talvez seja por conta de nosso encontro com ele, já bem idoso, em pronto socorro onde Zozô, com restinho de voz, chamava: "Mirielle, Mirielle, Mirielle?" Estava aguardando remoção para o hospital em um box ao lado daquele em que nos encontrávamos. Desta vez ela era a adoentada.

Com o passar do tempo, descobrimos pelas conversas que ouvíamos pela cortina que a tal Mirielle era a técnica de enfermagem que dele cuidara no hospital por ocasião de uma internação sua anterior. Segundo ouvimos, Mirielle seria a "noiva" de Zozô e ele, suponho, ao chegar ao pronto socorro, que até bem pouco tempo era um hospital, logo associou o local a sua amada.

Curioso da história é que, internado no hospital por conta de intervenções cirúrgicas de urgência há exatos dois meses, acabei sabendo que Zozô também estava lá internado, chegou depois de mim e se internou no quarto em frente. E, como se sabe, ele, mesmo debilitado pela idade, "chegou chegando".

Segundo ouvi dizer, ele já idoso (90 anos?), dividia o quarto com um outro internado de 50, que tinha por hábito assistir televisão até tarde. Tal fato gerou confusão no ambiente e pode ter sido esse o fator decisivo do encontro entre os dois enamorados. Não me recordo de nenhuma técnica de nome Mirielle.

Até aqui tudo bem, mas quem é Zozô, me perguntariam meus filhos? Bem, o pouco que sei é que se trata de um personagem folclórico da Cachoeiro de uns 30 ou 40 anos atrás. Sua figura icônica na farmácia "Silva", aquela que tinha uma balança com ponteiros a lembrar um relógio daqueles antigos, é algo que não se esquece.

Seu carisna talvez até ajudasse ao proprietário comercializar mais medicamentos. Naquela época não existiam as grandes redes de drogarias, com aqueles complicados programas de descontos como hoje. A conquista do cliente era algo artesanal, na base da simpatia. Qual criança iria se aventurar a "tomar injeção" na farmácia se o profissional não fosse conhecido? Ainda bem que tive "primo Arnoldo" na minha vida?

Não acredito que Zozô possa ter aplicado injeção em alguém, ou que o farmacêutico possa ter permitido, mas fato é que o primeiro sempre estava lá a esbanjar sua alegria e simpatia. Fascínio puro!

Talvez por isso, e pelo excesso de peso de outrora, tenha se tornado o eterno "Rei Momo do Carnaval Cachoeirense" como anunciava Joacyr Pinto em sua lendária "Revisa Sete Dias".

 

por Evandro Coelho de Lima


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