Empreendedor leva, em média, 3 dias para abrir uma empresa no Brasil - Jornal Fato
Economia

Empreendedor leva, em média, 3 dias para abrir uma empresa no Brasil

Dado tirado do Mapa de Empresas, lançado pelo governo federal, mostra também que mais de 18 milhões de empresas estão ativas no País


Foto: Agência Brasil

O Brasil tem hoje 18,3 milhões de empresas ativas. Só no mês de março deste ano, foram abertos 274 mil empreendimentos e o tempo médio para abertura de um negócio é de três dias. Esses e outros dados integram o Painel Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério da Economia e disponibilizado gratuitamente para facilitar a análise de mercados, concorrência, clientes e fornecedores por tipo de atividade econômica. 

"A finalidade é fornecer, de forma permanente e atualizada, dados seguros e fidedignos sobre o quantitativo e o tempo médio de abertura de empresas no Brasil", afirma o diretor do Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração do Ministério da Economia, André Santa Cruz.

A ferramenta é online e reúne dados por região, estado, Distrito Federal e municípios. Além disso, o interessado pode filtrar as informações por ano, mês, natureza jurídica e atividade econômica. A ideia é que o Mapa de Empresas, segundo o diretor, ajude quem quer empreender a se planejar melhor, identificando quais atividades estão crescendo e decaindo no País, por exemplo. 

"Essa gama de informações é muito útil não só para os próprios empreendedores, porque os ajuda na tomada de decisões, mas para o gestor público, que vai conhecer melhor a região dele e formular políticas públicas mais embasadas", acredita Santa Cruz. 

De acordo com as informações na plataforma, os estados com menor tempo para a abertura de uma empresa são Sergipe, Distrito Federal e Rondônia, que levam em média um dia. São Paulo tem quatro dias e nove horas de demora, em média. Já a Bahia fica na lanterna, com tempo médio de 12 dias e 13 horas. 

Painel mostra dados como número de empreendimentos e tempo que cada região, estado e município leva para abrir uma empresa no Brasil/ arte: Érica Passos

O empresário paulista Robson de Camargo Silva, de 40 anos, conhece bem essa dificuldade. Impulsionado pela crise gerada pela Covid-19, o morador do bairro da Aclimação decidiu abrir uma empresa de roupas agênero (neutras) recheadas de estampas brasileiras. O trabalho foi intenso para que o lançamento da marca "Bananeira da Silva" fosse em fevereiro deste ano, mas isso só ocorreu em 1º de abril, quando finalmente conseguiu finalizar todo o processo. 

"Quando fui desligado do meu antigo trabalho e resolvi abrir minha empresa, precisei reformular toda a documentação com a ajuda de um contador. Para regulamentar tudo, foram mais de 30 dias, isso porque foi feito por um profissional", lembra. Além disso, ele conta, toda a burocracia e a "tonelada" de papéis para assinar adiaram ainda mais a grande inauguração. 

Robson recorda que, no meio de tudo isso, ainda veio a pandemia. "Quem tem cabeça para comprar alguma coisa nessa pandemia, de comprar roupa para ficar em casa? Tive que pensar em outras estratégias para esse momento. A gente tem que se reinventar e pensar em alternativas, descobri muito sobre meu potencial durante esse período", confessa. 

Site Bananeira da Silva/ print

O empresário aproveita para abrir o coração e falar sobre as dificuldades de ser empreendedor no Brasil. "A quantidade de impostos que temos que pagar é muito complicado, não temos respaldo do governo. Quando fui ao banco para pegar empréstimo e ter acesso à maquininha para receber os pagamentos, o banco não quis conceder o empréstimo porque eu era novo enquanto pessoa jurídica, mesmo tendo conta há anos como pessoa física. A gente não 'existe', não tem ajuda, infelizmente", lamenta Robson.

Na opinião do gerente de da unidade de políticas públicas do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Silas Santiago, a burocracia é um dos maiores empecilhos para quem deseja empreender no Brasil. 

"Antes, isso era um problema muito sério, mas já avançou muito. Com o trabalho do Sebrae e de parceiros isso tem melhorado muito", alega. Santiago garante que, hoje, o microempreendedor não enfrenta burocracia para abrir um MEI. "Ele pode abrir a empresa em dez minutos pela internet", comenta.  

Para as demais empresas, o processo, segundo ele, já evoluiu muito. "Empreender é difícil. Mas quando alguém toma a decisão de empreender, o Sebrae participa ativamente para facilitar esse ato de empreender."

Banco Mundial 

Segundo o governo, as informações contidas na plataforma podem ajudar o País a melhorar a classificação no ranking Doing Business, do Banco Mundial. O ranking reflete o ambiente de negócios de um país e avalia o impacto das leis e da burocracia no funcionamento de empresas - como o tempo gasto para abrir um negócio. Atualmente, a nação verde e amarela ocupa a posição 124 entre 190 economias. A meta é ficar entre os 50 melhores. 

Ranking Doing Business, do Banco Mundial, avalia ambiente de negócios de 190 países/ arte: Érica Passos

"Quanto mais alta a classificação de um país nesse ranking, melhor o ambiente de negócios. Isso é importante porque um bom ambiente de negócios favorece o investimento doméstico e a atração de investimentos estrangeiros", pontua o economista do Ibmec Márcio de Oliveira Junior. 

O ranking, conforme explica Márcio, é composto por dez tópicos: abertura de empresas, obtenção de alvarás de construção, obtenção de eletricidade, registro de propriedade, obtenção de crédito, proteção dos investidores minoritários, pagamento de impostos, comércio internacional, execução de contratos e resolução de insolvência. O Brasil não fica entre os 50 primeiros em nenhum desses tópicos. 

"Isso significa que nosso ambiente de negócios precisa melhorar, precisamos subir nesse ranking e, nesse sentido, o Mapa de Empresas é uma iniciativa positiva", elogia Márcio. 

Porém, o economista faz algumas ressalvas em relação à plataforma. "O Mapa só considera um tópico do ranking, que é a abertura de empresas, mas existem outros nove tópicos. O Brasil precisa melhorar não só em relação à facilidade para abertura de empresas, mas em todos os outros que compõem o índice", alerta Márcio.

Outra limitação observada por ele é que o Mapa carece de interação. "Seria extremamente relevante que as pessoas que tentam abrir seus negócios e encontrem dificuldade sejam capazes de informar ao poder público sobre isso. Consequentemente, o poder público poderia adotar políticas públicas para mitigar e até eliminar essas dificuldades", sugere.

De acordo com o Painel Mapa Brasil, o País tem 18.296.851 empresas ativas. No primeiro trimestre de 2020, foram abertas 846.957 empresas e fechadas 292.378. O tempo médio para a abertura de um negócio aqui foi de três dias e 19 horas, representando uma redução em relação ao ano passado, quando a média nacional estava em quatro dias e dez horas.  

Ainda segundo a plataforma, no primeiro trimestre deste ano, as atividades brasileiras de maior crescimento foram, nesta ordem, cabeleireiros, manicure e pedicure; comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios; promoção de vendas; e obras de alvenaria. 
 

Comentários