Papel da igreja na proteção à criança é debatido no ES - Jornal Fato
Religião

Papel da igreja na proteção à criança é debatido no ES

Participantes apresentaram problemas e cobraram soluções para que trabalho seja continuado


Foto: Ana Salles

Membros de diversas igrejas defenderam, em reunião virtual da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), nesta quinta-feira (8), o papel dessas instituições na proteção das crianças e adolescentes contra riscos como o uso de drogas e demais problemas emocionais e sociais agravados pela pandemia. Um grupo de trabalho foi criado com os participantes para debater saídas para os desafios atuais. 

Segundo o presidente da Comissão de Proteção à Criança e Políticas sobre Drogas, Delegado Danilo Bahiense (sem partido), o quadro atual tem provocado aumento das doenças emocionais, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico. "Nesse cenário, crianças e adolescentes, com suas percepções, sofrem a angústia de viverem ainda mais intensamente os conflitos domésticos", avaliou. 

Nesse contexto, ele reconheceu a atuação da igreja, em parceria com demais órgãos públicos, como um "instrumento de conforto". O pastor José Francisco Veloso, que tem um consultório de psicanálise, corroborou com as palavras do deputado. Atuando na ressocialização de dependentes químicos há 45 anos, ele revelou que o momento contribuiu para o aumento do uso das drogas. 

"O tráfico nunca lucrou tanto no sistema delivery na venda das drogas", disse. Ele cobrou que a sociedade se una para enfrentar esses desafios. "Não é um momento fácil. A sociedade hoje tem que entender que ela é uma só, não pode haver divisão religiosa, política", constatou o membro da Convenção das Igrejas Batistas do Espírito Santo.

Vice-presidente do Conselho Estadual sobre Drogas, o coronel José Carlos Fiorido fez coro à necessidade de união em torno dos problemas que atingem as crianças e adolescentes, sobretudo contra a dependência química. "É preciso pensar que o homem não é apenas um corpo, é um ser biológico, sociológico, psicológico, 'intelectoeconômico' (...) e um ser espiritual", destacou. 

Para o membro da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo (Feees), se o processo de atendimento não for pensado nessas camadas, os problemas não serão resolvidos na integralidade. Nesse sentido, propôs ações ao colegiado, entre outras, como estimular a implantação dos conselhos municipais sobre drogas e a criação de um programa para formar conselheiros tutelares especializados em dependência química.

Família

O pastor João Brito, da Igreja Evangélica Batista de Vitória, avaliou que não se pode tratar o problema de assistência às crianças sem valorizar a família, onde estaria a raiz do problema. "Estamos vivendo numa sociedade que esqueceu os valores da família", disse. "Não podemos tratar o rio sem tratar da nascente", fez uma analogia. 

Ele falou sobre problemas enfrentados por casas-lares, que atualmente estariam "virando quase casas de passagem" devido à rotatividade de crianças atendidas. Conforme disse, muitas delas apresentam problemas complexos e acabam dividindo espaço com outras já adaptadas à rotina. 

Além disso, pediu mais atenção à atividade, sobretudo ao jovem atendido que, ao atingir 18 anos, deve sair das casas-lares. "Se você pegar um menino de 18 anos, já com histórico difícil, soltá-lo e achar que ele está pronto para vida, é uma ilusão", frisou. 

O pastor Eldo Rossow, da Igreja Batista Getsêmani, também participou da reunião. Mesmo entendendo a importância da fiscalização, cobrou que o Estado facilite a atuação social dessas instituições, hoje permeada de regras. "A gente precisa de mecanismos que ajudem realmente a igreja e incentivem a igreja. Porque acaba acontecendo que a igreja que quer ajudar acaba sendo penalizada pelo próprio Estado", pontuou. 

"Vejo que a igreja pode, como uma grande família, realmente fazer um diferencial", salientou o pastor, com base nas observações feitas por ele de problemas oriundos da pandemia. Ele citou o dissolvimento das famílias e filhos sem pais e mães. O aumento das tensões familiares também foi abordado pelo pastor Igor Abraão de Oliveira Campos, da Comunidade Cristã Missão Serra. 

De acordo com o religioso, o cenário desafiador tem revelado a superficialidade de inúmeras famílias, resultando em divórcios e, consequentemente, na geração de crianças e adolescentes sem identidade, com vulnerabilidade emocional, social e espiritual. Nesse caso, considerou que a igreja pode se tornar uma "agente de paternidade" para redirecionar as ações dessas pessoas. 

A representante da Arquidiocese de Vitória, Ana Petroneto, ressaltou a importância da igreja na formação dos princípios e valores da pessoa em uma sociedade conflituosa e avaliou que essas instituições podem criar canais para ajudar os cidadãos no atual cenário. "Nesse tempo de pandemia as igrejas têm um papel importante, que elas podem perfeitamente criar canais de escuta. As pessoas estão sozinhas, desesperadas, sofrendo por necessidades materiais, mas também por necessidades espirituais", ponderou. 

A reunião também teve a participação do deputado Luciano Machado (PV); do reverendo Jaílton Lima do Nascimento, da Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória; da gerente de projetos da Associação Judaica Alef Bet, Vanessa Abreu; do pastor Anderson Aurora; da representante da Igreja Maranata, Mônica Medici; além do titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), em Vitória, Diego Bermond.

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