Religiosa cachoeirense pode se tornar primeira santa capixaba - Jornal Fato
Religião

Religiosa cachoeirense pode se tornar primeira santa capixaba

Por causa de compromisso total com os menos favorecidos, tramita no Vaticano beatificação da freira Cleusa Carolina Rody, aclamada como mártir da causa indígena, da justiça e da paz


- Reprodução

A memória de uma religiosa que dedicou a vida à causa indígena, aos mais pobres e aos leprosos foi evidenciada neste domingo (28) pela Diocese de Cachoeiro de Itapemirim. 

Irmã Cleusa Carolina Rody é cachoeirense e pode se tornar a primeira santa capixaba. Por causa do compromisso total com os menos favorecidos, tramita no Vaticano a beatificação da mártir da justiça e da paz.

Morta de forma cruel por seu trabalho missionário junto aos indígenas, Irmã Cleusa protagonizou trajetória marcada pela entrega aos mais necessitados. 

E até hoje seu nome é aclamado como mártir da causa indígena pelos moradores da região de Lábrea, no Amazonas, onde foi assassinada em 1985, às margens do Rio Paciá.

Cleusa nasceu em uma família humilde em 1933, no dia 12 de novembro. Era filha de um ferroviário e de uma dona de casa. Viveu os primeiros anos no bairro Baiminas com seus seis irmãos. 

Sua inteligência acima da média era notória no curso de magistério no Liceu Muniz Freire, no Ferroviários, onde foi premiada com a medalha de ouro por ter sido a melhor estudante daquele colégio. Aprendeu a falar inglês, espanhol, alemão, o que contribuiu para ajudar muitas pessoas que chegavam doentes ao Espírito Santo. Pois era voluntária em hospitais e fazia a tradução, no caso de estrangeiros.

Mesmo podendo optar pela carreira na sala de aula, decidiu abraçar a vida religiosa, em 1953, quando fez seus primeiros votos, na comunidade de Ilha das Flores, Rio de Janeiro. 

Um ano depois, aos 21 anos de idade, foi designada para a reabertura da Casa da Missão Lábrea, onde foi fundado o Educandário Santa Rita, destinado às crianças carentes da cidade, onde trabalhou como professora primária. 

Mais tarde, irmã Cleusa decidiu não vestir mais o hábito religioso, usando apenas roupas simples recebidas como doação, ato motivado pelo desejo de diminuir diferenças e distâncias entre ela e as pessoas que atendia. 

No ano de 1958, de volta ao Espírito Santo, em Colatina, emitiu votos perpétuos de pobreza, obediência e castidade.

Irmã Cleusa Carolina abraçou a sua vocação como educadora e, no período em que passou em Vitória, que se estendeu até 1973, dirigiu o Colégio Agostiniano e obteve Licenciatura Plena em Letras Anglogermânicas, na Universidade Federal do Espírito Santos (Ufes). Dedicando-se, também, à formação de lideranças para criar Comunidades Eclesiais de Base. 

Foi nessa época que irmã Cleusa Carolina voltou a adotar o nome de batismo. O trabalho missionário estendeu-se dos centros educacionais para presídios, lares de pessoas doentes e leprosário.

Em Manaus, a freira ia para as praças ao encontro dos meninos de ruas, levando para a sua casa alguns deles que corriam perigo de vida, passando assim a ser mal vista pela polícia, acusada de ser conivente com a desordem e protetora de infratores e marginais. 

O compromisso para com a justiça pode ser observado no trecho de uma carta enviada à outra freira, irmã Lourdes, em maio de 1978, que diz: "Temos que construir fraternidade, é necessário, mas a justiça tem que estar na base de toda a convivência humana".

O engajamento com a causa indígena se tornaria mais forte em 1982. Foi a época em que a Prelazia de Lábrea resolveu se assumir como Pastoral Indigenista. 

A partir daí, a irmã representou esse grupo no Conselho Missionário Indígena (CIMI) do Regional Norte I. 

A participação ativa na causa indigenista fez com que a freira se tornasse querida entre os índios, mas, por outro lado, incomodou aqueles que os perseguiam.

Numa região de conflito entre proprietários de terra e entre as próprias tribos indígenas, Cleusa encontrou a morte quando justamente tentava apaziguar os ânimos após um duplo assassinato, de mãe e filho. 

A execução da freira, às margens do Rio Paciá, em 28 de abril de 1985, aconteceu após a morte da família de um índio seu amigo. 

A freira foi até a aldeia para que não acontecesse uma vingança. No caminho de volta, encontrou um índio, que seria o autor das outras mortes. 

Vendo o homem, disse ao canoeiro que a acompanhava: "Caia na água, meu filho, que você tem filhos para criar". Ele obedeceu imediatamente. Ouviram-se vozes, disparos e, minutos mais tarde, silêncio. A partir dali, o corpo dela foi encontrado dias depois, com marcas de tiro e outras graves lesões.  

Após a morte da irmã Cleusa, os ossos do seu braço direito, decepado na hora do bárbaro crime, estão, desde o dia 02 de junho de 1991, depositados na Catedral Metropolitana de Vitória. 

.

 

Comentários