Nosso Itapemirim - Jornal Fato
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Nosso Itapemirim


 

Mesmo com toda tristeza, pelo mar de lama - rejeito de minério de ferro da barragem Samarco, em Mariana (Minas Gerais), que assola o Rio Doce, ainda assim, experimentei momentos de alegria ao caminhar junto ao Itapemirim no centro de Cachoeiro e por toda Avenida Beira-rio. Foi no último fim de semana, logo após a chuva, em domingo pela manhã. A euforia permanecia por toda caminhada, observava nuvens em nosso céu, um prenúncio de dias melhores para o rio, agricultura e animais. Parece estranho que tão pouco aos olhos de muitos me faça tão feliz. Talvez seja o sentimento de perda do rio observado e experimentado nos últimos meses. Nunca imaginei que, ao caminhar, um céu carregado em nuvens escuras e a chuva seriam motivos de satisfação. Logo eu, amante do país tropical e sol forte. Em tempos atuais, com a seca e o sofrimento do rio, mudamos preferências e torcemos por chuvas em verão que se aproxima.

A alegria do último fim de semana foi coisa rara durante o ano. Notícias da economia do país, as perdas econômicas e naturais do Espírito Santo são desalentadoras. O rio Itapemirim apresentava-se, e temo que volte a se apresentar, como o Rio Doce dos últimos anos. O Rio Doce, bem antes do mar de lama da Samarco, já se encontrava em situação catastrófica. Já apresentava sinais de abandono em suas nascentes, desmatamento em seu entorno e um mar de esgoto em seu leito. A decretação de sua morte, ou da perda de vidas nas profundidades de suas águas, nos próximos anos, era anunciada e prevista pelos ambientalistas. O rio foi negligenciado pelas autoridades antigas e atuais. Esquecido por governo capixaba e mineiro. A empresa Samarco (metade brasileira e metade holandesa), por não ser fiscalizada, deu o tiro derradeiro.

O que acontece no norte capixaba serve de alerta para nós. O nosso rio, apesar de melhor aparência, menos desmatamento e maior volume d´água, também agoniza. Vive em constante dependência de São Pedro - nosso santo protetor. Depende de chuvas, algo, aí sim, natural. Natureza que não dominamos, apenas agredimos. Observar as pedras e o baixo volume de águas do Itapemirim nos momentos de estiagem é desesperador. Lembra um enfermo em leito de hospital, com quadro clínico agravando-se dia a dia, anunciando a necessidade de UTI ou uma morte iminente. Como o enfermo, a prevenção da doença não foi realizada, a doença se apresenta e o remédio ineficiente.

 Quando criança não conhecia rios. Apenas um "braço do mar" com água salgada. Na idade adulta, há trinta anos em Cachoeiro, conheci e me identifiquei no rio Itapemirim. Tenho medo que o nosso rio morra. Sofra como sofre o Rio Doce. O mal pode ser diferente, mas o efeito venenoso semelhante. Precisamos mudar modo de vida. Paradigmas. Vejo comportamento das pessoas inalterado - lavam calçadas, jogam guimbas de cigarros e lixos pelas ruas da cidade. Em algum momento esse lixo alcançará o leito do rio. Vejo ações tímidas pelas autoridades responsáveis na conservação do rio. A morte do Itapemirim será a morte de todos nós. Precisamos, urgentemente, abraçar o Itapemirim. Podemos começar na Praça de Fátima, no domingo pela manhã, junto com as crianças.

 

Sergio Damião Santana Moraes

 

 


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