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A disputa pelo voto bolsonarista no ES

Os candidatos têm se esforçado para angariar e exibir apoios, na expectativa de convencer ao eleitor que é pelo diálogo mesmo com quem pensa diferente.


- Fotos: PSB e Câmara dos Deputados

Muito da disputa no segundo turno pelo Governo do Espírito Santo tem se dado pela indefinição do quadro nacional. Não à toa os candidatos têm se esforçado para angariar e exibir apoios, na expectativa de convencer ao eleitor que é pelo diálogo mesmo com quem pensa diferente.

Em teoria, seria essa uma batalha já vencida pelo atual governador Renato Casagrande (PSB), que reuniu o maior número de partidos, ostenta o apoio de 73 prefeitos, e fez um governo de destaque mesmo em antagonismo com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mas, a lógica eleitoral não funciona matematicamente. A começar pela votação surpreendente de Carlos Manato (PL), que chegou fortalecido a um segundo turno que a maioria dos institutos de pesquisa acreditou que nem aconteceria.

E, também, pelo natural apoio dos candidatos derrotados no primeiro turno, que, em coerência com a oposição ao governo na propaganda eleitoral, optaram por Manato. A adesão mais surpreendente foi a do ex-prefeito de Serra, Audifax Barcelos, que preferiu deixar a Rede Sustentabilidade para também aderir.

Isso demonstra a força do candidato do PL, mas, também, pode evidenciar uma fraqueza. Pois, segundo o próprio, foi exigência sua que Audifax deixasse o partido, à esquerda no espectro político, para ser aceito. Essa rigidez, ideológico-eleitoral, é contraintuitiva, afinal no dia seguinte às eleições, seria preciso diminuir a cisão do eleitorado e das forças políticas, para melhor governar.

Manato parece dobrar as fichas na aposta que o levou ao segundo turno. Sem concessões. Talvez por entender que tem muita margem para crescer: se teve 38% dos votos, Bolsonaro teve 52% no Espírito Santo. E é ao presidente que tenta emular na estética da campanha e no discurso. Inclusive, já encontrou seu próprio "Posto Ypiranga", Aridelmo Teixeira, já apontado como secretário da Fazenda e apelidado de "Ariguedinho", em alusão ao ministro da Economia, Paulo Guedes.

A estratégia de Casagrande para parar a ascensão do concorrente é miná-lo. Se no primeiro turno se concentrou em propostas e prestação de contas, no segundo, acrescentou acusações.

Aliados do governador e sua própria campanha trouxeram à tona e centram fogo na relação de Manato com a Scuderie Le Cocq, grupo de extermínio, ao qual foi filiado décadas atrás. Com isso atribuem ao oponente elo com crime organizado e apelam ao medo ao retorno dos tempos em que o Espírito Santo só aparecia no noticiário nacional de maneira negativa, seja pelo desgoverno, seja pela violência.

Ao mesmo tempo, investem no voto "CasaNaro" (que os adversários chamam de "BolsoGrande") para neutralizar o casamento de votos no Espírito Santo com os dados aos candidatos a presidente.

Assim, prefeitos, deputados e outras lideranças cumprem o papel de anunciar e incentivar votos nos dois - Casagrande e Bolsonaro - ao mesmo tempo em que o governador rememora sucessos de sua gestão mesmo sob a administração do atual presidente.

A campanha de Casagrande se afasta de Lula. A de Manato se agarra a Bolsonaro. Um quer desvincular a eleição estadual da nacional. Outro faz de tudo para associá-la ainda mais. Ambas desejam angariar os votos dos eleitores bolsonaristas capixabas.


Wagner Santos Diretor e editor Jornalista

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