Conexão Mansur: árvores e boa temperatura na Praça - Jornal Fato
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Conexão Mansur: árvores e boa temperatura na Praça

As árvores proporcionam momentos de frescor em meio ao calor escaldante. Devíamos refletir sobre a falta delas na cidade


- Ilustração: Zé Ricardo

Pelas 10 horas da manhã, desci a pé e fui seguindo sob o sol, para o ESQUINA CAFÉ, cafeteria um pouco mais à frente de onde moro. Sol escaldante.

Passei pelos Correios, pelo Bernardino Monteiro em reforma, olhei e parei na casinha de livros LIVRES LIVROS, devidamente carregada de livros e olhei para a árvore, nem grande nem pequena, um pouco à frente, na direção do prédio da Câmara Municipal (a árvore, informou o amigo e agrônomo altamente gabaritado, José Arnaldo de Alencar, tem o nome de "pau-ferro").

Vi a sombra dessa que é das poucas árvores da Praça Jerônimo Monteiro, e resolvi me sentar no banco, embaixo dela, só para fugir um pouco do sol inclemente, embora confesse não esperasse qualquer milagre de melhora da temperatura.

Só que não deu nem um minuto e eu, sentado, senti o frescor da natureza. Ou seja, uma "simples" e única árvore era a responsável por mudança radical na temperatura, ao menos naquela área aonde ela está "fincada".

Passados poucos minutos, resolvi que tinha de prosseguir na trilha pré-traçada até o café - afinal, se não vivo sem árvores, também não vivo sem café.

Só que, saindo, o calor voltou estupidamente alto, como se era de esperar.

Fui à cafeteria, tomei café, papeei e voltei, percorrendo a mesma via, agora ao inverso, e ainda sob sol inclemente, que não tinha mudado o forte calor que produzia, jogando-o sobre nossa cidade e toda as cidades e localidades que não dão o devido respeito à natureza.

Vim seguindo, pensando em parar por ali novamente, sob aquela árvore, para confirmar, ou não, se o calor ali era "destruído" pela árvore que alma boa ali plantou; que floresceu e floresce normalmente, e que ali permanece, como cúmplice do bem, da espécie humana, e da natureza.

Foi quando, ainda de longe, avistei cidadão sentado no mesmo banco de jardim ao qual me sentara antes e onde eu sentira a leveza da temperatura.

Pensei:  - Não vou verificar, por mim mesmo, se o calor é menor, vou perguntar ao cidadão já sentado, o que ele estava achando - ali tinha calor ou não?

Chegando, fui logo vendo tratar-se de amigo antigo, que não mora mais em Cachoeiro. Devidamente perguntado, deu-me ele exatamente a resposta que eu queria ouvir:

- "Olha, aqui está bem fresco e a temperatura muito agradável, aqui na praça, debaixo dessa árvore".

Conversamos sobre a natureza, voltamos ao tempo antigo da amizade nossa, e saímos dali felizes ao constatarmos que a natureza não precisa de exageros, precisa é de cuidados certos e simples.

Pense nisso, meu leitor, meu amigo e meus jovens leitores:

- Boa parte das boas coisas da vida dependem de nós mesmos, só. Inté intão.

 

A Mesma Praça???

 

 

De tempos pra cá, a Praça Jerônimo Monteiro, praça central de Cachoeiro, está perdendo todo o seu significado histórico, e por que não dizer, também, a sua beleza secular que muito encantou quem passou e viveu por aqui, ainda que seja em simples visita.

Um simples olhar para as duas fotografias que ilustram este texto é significativo, tornando mesmo desnecessário qualquer comentário, já que elas, as fotos, por si mesmas, já dizem tudo.

A linda foto em preto e branco, da década de 1960, do clássico fotógrafo cachoeirense BRUNINI mostra toda a beleza secular e definitiva de nossa principal praça - a Praça Jerônimo Monteiro, faço questão de repetir e registrar.

Não há quem não sinta bater mais forte o coração cachoeirense e cresça a vista na admiração dessa foto, mesmo que, mais jovem, não tenha conhecido a praça, assim.

E aqueles cachoeirenses que a conheceram, como nossos pais e avós, abririam os olhos, espantados com a relembrança da nossa História e da permanência das lembranças que gostaríamos de deixar para nossos herdeiros.

Acreditem, a imagem de nossa cidade, qualquer cidade, se bem conservada, é das melhores heranças que podemos deixar para nossos descendentes. Para a lembrança que se instala no coração, nem dinheiro será melhor que a visão.

Está na hora de fazer com que a cidade recupere sua visão antiga, muito mais linda, mediante a recuperação das paisagens dos frontispícios de cada imóvel, sem abusos de coloração e sem desrespeito à respeitabilidade das fachadas.

Sentem-se as autoridades municipais com os proprietários dos imóveis, com os profissionais da área, com os historiadores e negociem descontos em tributos para voltar à linda visão anterior do centro de Cachoeiro e todos veremos como o comércio terá substancial melhora de vendas, ao contrário das de hoje, em acentuado declínio, como pude verificar "in loco", ainda que amadoristicamente.

E nós, cachoeirenses, acordemos para esses fatos que estão sendo mal esfregados em nossa cara e nós em silencio sepulcral. 

 

 

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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