Conexão Mansur: concurso do melhor café em Cachoeiro - Jornal Fato
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Conexão Mansur: concurso do melhor café em Cachoeiro

Falando diretamente, a minha intenção é que com o café Conilon e outros que se revelarem em quantidade na região, o Poder Público Municipal fizesse, anualmente, um concurso para premiar os melhores cafés de nossa região


- Ilustração: Zé Ricardo

Meu ponto de café, todos os dias da semana, exceto aos domingos, é o Café Mourads, frente ao Palácio Bernardino Monteiro, centro de Cachoeiro. Além do Mourads, eventualmente e com prazer, prestigio e sou prestigiado em outras cafeterias, como o Esquina Café, o Casa Carmô, o Café Uai! Tudibom, o Café dos herdeiros de meu amigo Guilherme Guimarães e o Armazém São Pedro, todos próximos de mim. Faltou algum?

Isso quer significar que eu tenho o máximo respeito pelas cafeterias de Cachoeiro, pela cultura do café, culto que tenho desde criança lá em Muniz Freire, na roça, no fogão a lenha de Vovó Laureta. Isso quer dizer também que o café faz parte de minha vida e se eu o tomo pelo prazer de tomar, tomo-o também por ser ele uma riqueza natural do Sul do Espírito Santo e de Cachoeiro de Itapemirim. Ou seja, além do prazer de tomá-lo com frequência, também aparece o prazer de contribuir para a riqueza de nossa terra e, mais especialmente, para a de nossos conterrâneos.

Por conta de tudo isso é que fui criando dentro de mim ideias, as quais, naturalmente, focam em como divulgar o café que tomo, em favor daqueles que me servem - agricultores, empresários e empregados.

Até que um dia desses surgiu uma nova ideia, e passei a consultar amigos muito interessados em café, interessados em nossa terra e conhecedores dos produtores e plantadores de café.

Essas pessoas foram, entre outras, o Zé Arnaldo, meu irmão Ronald Mansur, o também homem do campo Pedro Turini e o Ricardo Coelho.

Essa nova ideia parte da minha impressão, que se revelou verdadeira após consultados os amigos aí de cima, de que Cachoeiro ainda é um grande centro de plantio e colheita de café, no nosso caso, o café Conilon e mais algum outro.

Falando diretamente, a minha intenção é que com o café Conilon e outros que se revelarem em quantidade na região, o Poder Público Municipal fizesse, anualmente, um concurso para premiar os melhores cafés de nossa região, escolhidos a partir da bebida deles, por pessoas entendidas e do ramo.

Essa ideia pode ser aprovada pela futura administração de Cachoeiro, pelo Prefeito que tomará posse no ano que vem, ao tempo em que ela provocará a criação de novos recursos e o plantio de melhores cafés propícios à região, vez que o café, além de ser um prazer, é um produto que enriquece a mais de século a região e Cachoeiro, e a união de todos esses elementos só faz o crescimento nosso.

Portanto, fica aí, de pronto, a ideia ao nosso futuro prefeito para o ano de 2025, na EXPO SUL RURAL, com a experiência do INCAPER. E desde já advirto - estarei lá para provar amadoristicamente, e com muito prazer, os cafés produzidos em nosso amado Cachoeiro de Itapemirim, a Capital Secreta do Mundo e em nosso Sul do Espírito Santo.

 

DIRCEU CARDOSO

Enquanto escrevia estas e outras linhas, havia resolvido me presentear e privar sozinho de uma solidão consentida, para pensar em mim mesmo. Escravo, no entanto, do sentimento alheio, vi-me outra vez preso e enredado em uma outra solidão.

A solidão atual de homens como o Dr. Dirceu Cardoso, criados no tempo antigo e que não se mostram adaptados aos dias de hoje. Mais me parece até, e falo aqui no caso específico do Dr. Dirceu, se tratar de um solitário da vida inteira. Homem que honrosamente caminhou na contramão da história, combatendo o que a unanimidade deixava passar, "pois é assim mesmo" ou "não tem jeito, não adianta remar contra a maré". Pois para o Dr. Dirceu, nunca é assim mesmo, e remar contra a maré é sua sina, o seu jeito.

Não tive a honra de passar pelo Colégio de Muqui, do qual ele foi diretor por muitos e muitos anos. Espalhando o terror, dizem alguns; disciplinando, com mão de ferro, é a opinião de outros; não faltando - pois são muitos - quem lhe homenageie como autêntico mestre-escola, ensinador das duras trilhas da vida a quem tivesse estofo para suportá-las.

Coisas antigas, nem tão hoje, nem tão história. Que ferem com profundidade almas como a minha, afeitas à leitura das coisas passadas. Coisas que fantasmagoricamente vagam por aí, mostrando o que era a moral dos tempos diversos dos nossos tempos.

Tive exemplo de sua extremada moral antiga. Ocorreu faz 25 anos, na casa do Dr. João Madureira, à época centro efervescente da moral dos novos tempos. O Dr. João entrando pela madrugada, acoitando e ensinando a uma turba de jovens que então invadira a prefeitura, aproveitando a brecha da eleição de Hélio Carlos Manhães.

Nesse dia (como em todos), o Dr. Dirceu que lá estava, estava impecavelmente vestido. Terno escuro, gravata, colete, camisa branca, desconfio - e aqui vai o espírito daquele tempo - que até de camiseta ele estava. Diria que estava moralmente vestido, dentro dos padrões que lhe ensinaram e que ele incorporou como se fosse pele.

De repente ele quase que dá um pulo e se ajeita todo, pedindo mil desculpas a D. Adir Madureira, esposa do Dr. João. E o motivo era apenas seu paletó, com um botão fora da casa. E era absolutamente sincero o repente, como sincero absolutamente seu constrangimento.

Esse respeito à própria criação, marca de homens que se respeitam e se tornam reféns de sua época, pude ver - e isso é mais que importante, é fundamental - foi toda sua vida política, sem mácula.

O homem que paralisou o Senado, quando este se humilhava perante o executivo, não deixando passar projetos de empréstimos que inviabilizariam estados e municípios, bem que merecia permanecer em atividade pública pela vida a fora. Principalmente agora, em que mais uma vez o legislativo federal se amesquinha.

Como se vê, ainda precisamos de homens da moral antiga. Melhor dizendo, de homens que acreditam na sua própria moral. Homens de quem se possa dizer, como Otto Lara Rezende disse de Sobral Pinto e que eu aplico ao Dr. Dirceu: - homens que não perseguem meios nem fins. Homens que têm princípios e deles não abrem mão. (E era isso, sei agora, o que unia a fraternal amizade do Dr. Dirceu com o Dr. João Madureira. Tão díspares, tão iguais.) Companheiros...

(Crônica que publiquei há mais de 20 anos e que repito em homenagem ao grande professor e senador Dirceu Cardoso).

 

GUILHERME GUIMARÃES

1946. O cidadão em pé, frente ao balcão.

Ali atende milhares de pessoas. Dali observa muitos outros milhares que passam pela calçada.

Quase todos calçados. De cada um conhece os pés, o número do sapato, o modelo, o que gostaria de usar e não pode, porque é caro ou porque "o que é que os amigos vão falar?".

Quantos hoje, quantos amanhãs! Hoje cedo um novo cliente. Amanhã, em hora diversa, outro deixará de vir, encantado pela propaganda da nova loja que abriu. Que, tempos depois, cerrou definitivamente as portas.

O calçamento de ontem é o asfalto de hoje. Vêm notícias de que a rua será só de pedestres. Depois que a calçada será alargada, ou diminuída. Outras mais. Eleições se sucedem e planos certos não se realizam, ou não dão certo.

Tudo passa e muda. O cidadão continua lá, de pé, frente ao balcão.

A alma humana transita e se modifica. Opiniões definitivas de então, transformam-se vagarosamente, quase despercebidas. Mudam substancialmente.

Não o cidadão de pé, frente ao balcão.

Cinquenta anos acompanhando os pés. Em silêncio algo cúmplice, conhecendo o que vai pela cabeça que comanda o andar. Incrível e verdadeiro que dele não se tenha nenhuma má lembrança ou informação que comprometa.

Cinquenta anos no mesmo lugar, com a mesma paciência. No máximo, talvez turrão para os mais novos, se não o conhecem.

Não é história. É verdade. O cidadão vive. Aqui.

1996. De pé, frente ao balcão da mesma PRINCIPAL, vendo as pessoas chegarem e partirem. Paciente e digno. Paciência do homem justo. Dignidade do verdadeiro comerciante, aquele que não é boca, mas olhos e ouvidos. E cumpre seu mister. O cidadão é GUILHERME GUIMARÃES...

(Crônica que publiquei há mais de 20 anos e que repito em homenagem ao grande homem e comerciante Guilherme Guimarães.)

 

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