Meu estimado amigo-irmão Valadão - Jornal Fato
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Meu estimado amigo-irmão Valadão

Permita-me chamá-lo de irmão, porque é na conta de irmão que o tenho


- José Carlos Carvalho - FOTO: Leonor Calasans/USP

Eis que o tempo, com os seus segredos e os seus mistérios, deu-lhe a chance de chegar aos 85 anos, após uma trajetória vitoriosa como cidadão, esposo da saudosa Eloiza, pai, político e líder de rara sensibilidade e altruísmo. O tempo presente nos permite celebrar mais um aniversário seu, mas o que é o presente, senão o encadeamento de fatos, obras, momentos, circunstâncias, sonhos e utopias do passado!

Os mistérios ou as circunstâncias do tempo marcaram nosso primeiro encontro em 1968, na Casa do Estudante de Cachoeiro de Itapemirim. Você, eleito Presidente da entidade e eu, um datilógrafo, desesperadamente, precisando de um emprego e de uma moradia, para ter a chance de continuar meus estudos no Liceu.

Fui lhe apresentado pelo amigo Chico Borges. Após um rápido teste, no qual fui considerado apto, pois eu havia feito um curso de datilografia, em Jerônimo Monteiro, no último ano do ginásio, fui admitido para exercer a função. Começava ali, a nossa longa, fecunda e inquebrantável amizade.

O parentesco é um determinismo biológico, a amizade é uma escolha!!

Na CECI, o que era para ser apenas um emprego e um teto, tornou-se uma escola de cidadania, onde o jovem adolescente de 16 anos, marcado pela prisão arbitrária de seu pai, pelos militares, em 1964, encontrou, graças à sua generosa amizade e liderança, juntamente, com outros companheiros, como Ronald Mansur, Jonas Caldara, Deusdetinho, Saint Clair, Glauco de Oliveira e tantos outros, o ambiente de formação cidadã, de apreço pela democracia, de culto à liberdade, de resistência à ditadura. Eu era o caçula daquele grupo, mas os valores democráticos e libertários daquele tempo, se enraizaram na minha consciência e balizam até hoje a minha conduta como cidadão.

Comungando os mesmos ideais e seguindo sua liderança em defesa da democracia, fomos às ruas e passamos pelos porões do DOPS, em busca das liberdades perdidas, sem pretender, em nenhum momento, substituir uma ditadura por outra.

Faço este sintético depoimento para lhe desejar feliz aniversário, parabéns, saúde e paz!

E, aproveito esta oportunidade, para lhe reafirmar a minha amizade, admiração e respeito; o mesmo sentimento que, certamente, está no coração e no pensamento dos seus familiares, amigos, parceiros de vida e admiradores.

Aquele adolescente titubeante, hoje septuagenário, que você acolheu e orientou na Casa do Estudante, quer terminar este texto com apenas mais uma palavra. Ela resume tudo o que gostaria de lhe dizer: GRATIDÃO!!!!!

Receba meu fraternal abraço,

José Carlos Carvalho 

 


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