Nem os jagunços mais cruéis.... - Jornal Fato
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Nem os jagunços mais cruéis....

A pretexto da malhação de Judas, monstruosamente a insanidade montou um painel de críticas públicas ao prefeito Victor Coelho com requintes de crueldade


A história política de Cachoeiro não registra fato tão repugnante. A pretexto da malhação de Judas, monstruosamente a insanidade montou um painel de críticas públicas ao prefeito Victor Coelho com requintes de crueldade. Ultrapassou, na sua essência, os limites dos tempos sombrios no qual parece que passamos a viver. Nem mesmo os velhos coronéis e seus jagunços tiveram a coragem em descer ao nível do que o episódio representa no seu ideal de pusilanimidade e obscurantismo. Simone Beauvoir dizia que é no tédio que o subhomem experimenta o deserto do mundo; e o caráter estranho de um universo com o qual não criou laço algum suscita também medo. O que uma pessoa dessa teme, em síntese, é que o choque do imprevisto o chame à angustiante consciência de si mesmo. Cachoeiro não conhece esse comportamento político. Pelo contrário, sempre repulsou. Os velhos historiadores registram que, depois da refrega, os adversários ensarilhavam as armas e passavam a conviver numa democracia na qual os direitos humanos sempre foram respeitados. Ora, a verdade não desaparece quando é eliminada a opinião dos que divergem. Mas a história tem um lugar próprio para quem age com tamanha sordidez e desrespeito ao ser humano. É só consultá-la nos mais rudimentares compêndios. Embora a covardia e a sordidez talvez não permitam.
Este pequeno desabafo não contém qualquer posicionamento político- partidário ou ideológico. Mas domina a repulsa ao fascismo. A propósito, trago aqui o velho poema: "Na primeira noite eles se aproximam/e roubam uma flor do nosso jardim. / E não dizemos nada. /Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, /matam nosso cão, /e não dizemos nada. /Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, /rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. /E já não podemos dizer nada.". Talvez porque não dissemos nada. E digo. Fica meu repúdio. E também minha vergonha.


Wilson Marcio Depes Advogado Escritor e jornalista

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