O primeiro de maio - Afinal, qual o significado do feriado de 1º de Maio? - Jornal Fato
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O primeiro de maio - Afinal, qual o significado do feriado de 1º de Maio?


José Irineu de Oliveira Advogado

Todos os anos, no dia 1º de Maio, acontecem mobilizações em todo o Brasil, para comemorar o dia dos trabalhadores, com eventos organizados geralmente por sindicatos, mas quase sempre financiados por empresas. São promovidos, com mais, ou menos intensidade, torneios esportivos, entrega de troféus para os vencedores, distribuem-se prêmios homenageando empregados, dentre eles o tão conhecido "operário padrão". As festas elevam a satisfação dos trabalhadores, levando-os ao êxtase, afinal, nelas sorteiam-se brindes, dos mais simples, até carros e apartamentos. Nos grandes centros são feitos shows durante todo o dia, alguns deles com a presença de artistas renomados, nacional e internacionalmente. Gastam-se milhões de reais para atrair trabalhadores e familiares. Será que este dia é de fato um dia de festejos?


Normalmente é no dia 1º de Maio que governantes anunciam avanços na legislação trabalhista, foi assim no Brasil no ano de 1943, dia em que foi promulgada a CLT- Consolidação das Leis do Trabalho. Porque será que o presidente Getúlio Vargas escolheu exatamente esta data? O certo é que acompanhado da notícia o governo promoveu uma grande campanha publicitária, que, fomentou grandes festas de agradecimento em todo o país, promovidas por sindicatos de trabalhadores, alguns deles até combativos.
Foi no dia 1º de Maio de 1886 que estourou nos Estados Unidos um grande movimento, seguido de greve geral, manifestações com milhares de trabalhadores em todo o país.

O objetivo do movimento foi o fim da exploração do capital sobre o trabalho, respeito à pessoa humana, especialmente por uma jornada de 8 horas diárias, já que era exigido trabalho de até 16 horas, sem a contraprestação financeira, enfim era uma condição escravagista. O movimento saiu das fábricas, ganhou ruas e praças em todo o território americano.
As manifestações eram pacíficas, apenas reivindicações, mas na cidade de Chicago, 400 mil manifestantes reunidos no dia 2 de maio acabaram se confrontando com a polícia que matou 8 operários. Nos dias 4 e 5 de maio novo confronto ceifou a vida de 80 operários e 8 policiais, além de mais de cem feridos. A polícia, incentivada pelo poder público e pelos concentradores de capital, covardemente levaram pessoas a morte, demonstrando a força do capital, que infelizmente sempre manipulou a política e o poder. Em agosto do mesmo ano, o judiciário ampliou a repressão condenando a morte 8 coordenadores do movimento e outros 15 a prisão perpétua. O desfecho trágico naqueles dias ampliou a revolta, mas fomentou a luta. O clamor ultrapassou as fronteiras americanas, mobilizou trabalhadores de outros países, notadamente a França.


As manifestações se ampliaram até que trabalhadores americanos elegeram o dia 1º de Maio como dia de defesa e melhora das condições de trabalho àqueles que garantem seu sustento e dos familiares com o próprio esforço. Assim, o sangue derramado naquele longínquo dia, continua clamando por justiça até hoje, através das manifestações que aumentam a cada ano, principalmente neste dia.


Em 1889 a II Internacional Socialista reunida em Paris debateu sobre a luta dos trabalhadores americanos e decidiu que o dia 1º de Maio, seria o dia mundial de luta por melhores condições de trabalho, e sugeriram que os trabalhadores do mundo se manifestassem todos os anos em praça pública. Com isto o movimento ganhou força e chegou rapidamente em todos os continentes.
Na França as manifestações foram tantas e tão bem organizadas que em 03/04/1919 o senado francês ratificou a jornada de 8 horas diárias e proclamou o dia 1º de Maio como feriado nacional.
O exemplo dos franceses ecoou mundo afora, e, outros países seguiram o exemplo até que no ano de 1924 o Brasil também regulamentou este dia como feriado nacional.
No Brasil os trabalhadores aderiram com muita força à luta mundial, passaram a fazer protestos rigorosamente todos os anos, exigindo regulamentação da jornada de trabalho, salário mínimo garantido em lei, regulamentação do direito do trabalho a exemplo do que já existia em outros países, especialmente na Itália. Os protestos foram muito importantes porque contribuíram para a conscientização dos trabalhadores. Das ruas o movimento adentrou nas fábricas, ampliando a consciência dos operários, que passaram a se organizar, assim surgiram novos e mais comprometidos e combativos sindicatos. Com eles, grandes greves paralisaram as maiores e estratégicas empresas, especialmente no eixo Rio x São Paulo, as principais reinvindicações eram a ampliação de direitos, tais como jornada de 8 horas, salários mínimo garantido em lei, horas extras com remuneração superior a hora normal, ambiente de trabalho seguro, pagamento de adicionais em condições adversas principalmente o de insalubridade. As décadas dos anos de 1930 e a primeira metade da de 1940, ficaram marcadas por grandes greves, dos gráficos, ferroviários, as mais organizadas e conscientes categorias à época, mas outras também participaram. Certamente para dar fim a tudo isso, Getúlio Vargas em 1º de Maio de 1943 sancionada a CLT.


Com incentivo oficial, grandes festas foram organizadas para comemorar, passou-se uma imagem de que tudo estava resolvido. Uma pena! Porque a partir daí, os trabalhadores passaram a só comemorar, praticamente abandonaram as lutas, mas as injustiças permaneceram, só que regulamentadas. Somente na década de 80 é que os trabalhadores de São Paulo novamente despertaram, recomeçando as lutas, enfrentando o capital internacional, que controlava a economia brasileira a época sustentada pela ditadura militar, que retribuía com mais vantagens, facilitando financiamentos e outras benesses, com dinheiro do contribuinte.


Cabe-nos agora retomar o sentido do dia 1º de Maio e continuar a luta por melhores condições de trabalho, luta que deve continuar até que todos os trabalhadores retornem aos seus lares saudáveis, com as próprias pernas, nunca em ambulâncias, cadeiras de rodas ou urnas mortuárias. Afinal, homens e mulheres devem trabalhar para viver e não morrer de trabalhar! Afinal 1º de maio é dia de luta e de luto, não de festa!
Valorizar o trabalho humano é a única forma de enriquecer, pois só vai existir país rico quando a riqueza for partilhada entre todos.

 

José Irineu de Oliveira
Advogado

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