O Ritmo da Chuva - Jornal Fato
Artigos

O Ritmo da Chuva

Voltando ao que escrevera no longínquo 08 de janeiro de 2011, no jornal ES de Fato


Voltando ao que escrevera no longínquo 08 de janeiro de 2011, no jornal ES de Fato (Conexão 80): - está registrado lá o fruto de minha pesquisa não profissional. Examinava com atenção, os dias e meses que, desde 1873, eram mais propensos às inundações do Rio Itapemirim em Cachoeiro.

Cheguei à conclusão, pesquisando livros e registros sérios de nossa região, que as enchentes se apresentavam mais fortes e elevadas nos meses de dezembro (a partir do dia 21) a março (até o dia 21, também). Assim, em 1873, o pico da enchente foi 21 de março; em 1875, 25 de janeiro; em 1895, 16 de fevereiro; em 1907, 16 de janeiro; em 1910, 20 de março; em 1931, 29 de dezembro; em 1933, 30 de dezembro; em 1937, 21 de dezembro; em 2010, fim de dezembro e em 2020, fim de janeiro.

Bem se vê que o período de maior chuva em Cachoeiro, concentra-se entre 21 de dezembro e 21 de março, fora daí, nos outros nove meses, ou é o rio com o leito normal ou é ele bastante esvaziado e desses dias e meses vazios não tive capacidade, ainda, de pesquisar.

Como já passamos de 21 de março de 2021, natural é que esperemos agora, somente a partir de 21 de dezembro, a possibilidade de alguma enchente mais forte em nossa cidade.

Noutro documento sério que possuo em meus implacáveis arquivos, está registrado que no período de 1958 a 2008, as vazões anuais máximas do Rio Itapemirim, em nossa cidade, foram sempre maiores nos meses de janeiro e dezembro. De 44 registros anotados, 30 eram nesses dois meses; 7 eram em novembro; 5 em março e 2 em fevereiro. De abril a outubro, a possibilidade de inundações é praticamente zero, ao menos nos dados coletados ao longo daqueles 50 anos.

Isso quer dizer que dezembro a março (mais em dezembro e janeiro) é o pico normal de chuvas por aqui, podendo se estender também a novembro, mas bem menos. Mais chuvas, como dito, em dezembro e janeiro.

Claro que a regra por vezes foge à normalidade. Foi o que ocorreu em meados de outubro de 1883, há quase 140 anos.

Estava eu, noutra estação de leitura, a ler o jornal O CACHOEIRANO, de 21 de outubro daquele ano de 1883, quando me deparei com esta notícia da primeira página:

- "CHUVAS - Nos últimos dias da semana passada e nos primeiros da que se finda hoje, choveu excessivamente nesta vila, fazendo com que o rio mudasse completamente a forma de esqueleto em que se achava há muitos meses. Só assim o povo teve ocasião de ouvir o apitar do vaporzinho que também já há bastante tempo não nos dava um ar de sua graça. Antes da chuva tivemos de suportar a temperatura de 32 graus centigrados". Esse vaporzinho era o que vinha de Itapemirim, quando o rio... Itapemirim permitia.

É dizer - toda a regra tem exceções e ai de nós se não as tivesse.

 

DONA JOANNA

Dona Joanna Paula das Dores, nasceu em São João Del Rey, MG, cerca de 1828. Seu pai era o comerciante português José Teixeira Brandão (não conseguimos o nome de sua mãe). Segundo Antonio Marins (pag. 187 do livro "Minha Terra e Meu Município", lançado recentemente em 2ª edição), ela chegou a Cachoeiro em 1854, com 26 anos de idade.

Foi das primeiras professoras da cidade, tendo montado escola em 1857 (27/07). Seu Colégio Nossa Senhora da Penha, diz Marins, era, a princípio, na Rua 25 de março, 16 (informação de 1920). Segundo historiadores, a pressa de ensinar de D. Joana era tanta, que ela abriu a escola sem móveis, sem carteiras, sem nada. Contou apenas com sua vontade férrea e a ajuda inestimável do comerciante Manoel José de Araujo Machado, progressista que está a merecer biografia.

Mais à frente, D. Joana, com melhor estrutura, fundou o Colégio Cachoeirense (1860). Ampliando o empreendimento, sua escola também era internato. Essa escola mereceu elogio de Newton Braga, nos seguintes termos: "internato para meninas cujo prestígio era absoluto em todo o Sul do Estado. Sua escola era localizada na rua que tem atualmente, como homenagem muito justa, o nome da grande educadora".

Segundo Maria Stella de Novaes, historiadora, "no relatório do Presidente Horta Barboza, em 1874, há referência ao Colégio Cachoeirense, cujo programa de ensino constava de "primeiras letras, francês, inglês, geografia, história, aritmética, desenho, música vocal, piano e dança, trabalhos de agulha e bastidor". Programa, de certo, avançado, para aquele tempo. Pertencia o Colégio a Dona Joana Paula das Dores, jovem e culta. Educou muitas meninas, que se tornaram mães de família e dispensaram aos seus lares a elevada formação, haurida no convívio dos princípios austeros da conceituada preceptora. Em 1890, Dona Joana cobrava 25$000, por interna; 20$000, semi-interna; 15$000, externa, tudo mensalmente. O Colégio foi aberto em 1860".

  1. Joana, que não se casou, morreu em Cachoeiro de Itapemirim, em 26/03/1907. Na sessão de 03/04/1907, a Câmara Municipal de Cachoeiro concedeu sepultura perpétua a D. Joana, pelos seus reconhecidos serviços prestado à instrução.

As minibiografias cachoeirenses que tento traçar têm como foco principal pesquisas futuras de crianças, adolescentes e estudantes de modo geral. Pretendo, com isso, mostrar que foram muitas as personagens ilustres de nossa terra.

Boas descobertas têm sido muitas, mas algumas outras são péssimas. Assim é a que relato agora: segundo o historiador Evandro Moreira, a homenagem que a Câmara Municipal prestou a D. Joana, concedendo-lhe sepultura perpétua, não vingou nos dias de hoje, já que seu "jazigo (túmulo) se encontra abandonado, deteriorando-se".

Está aí um bom exercício de pesquisa escolar e de cidadania: as palavras de Evandro Moreira foram escritas há muito tempo. Qual será a situação do jazigo, hoje? O tempo fez justiça à professora?

 

 

A Secretária de Newton Braga

Sabe, leitor, quem é essa moça que veio visitar Newton Braga e aproveitou para passear pela Praça Jerônimo Monteiro? É a Didi Alberto, cidadã cachoeirense que está matando as saudades de sua terra natal depois de muitos anos morando no Rio de Janeiro.

Didi trabalhou vários anos na Rádio Cachoeiro, como secretária de Newton Braga, quando ele era o Diretor Artístico. Era ela a pessoa que conseguia decifrar a letrinha miúda de Newton (Evandro Moreira, durante algum tempo, também foi decifrador dos "hieróglifos" de Newton).

Didi era, também, corretora de anúncios da Rádio. E com seu amigo José Américo (Nenem) Mignone, escrevia uma coluna social em um dos jornais de nossa cidade. Segundo Marília, filha de Newton, Didi é pessoa muito querida de todos e mesmo no Rio de Janeiro acompanhou Newton e sua família até hoje.

Bem-vinda à terra natal, Didi.

 

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

Comentários