Pandemia - Jornal Fato
Artigos

Pandemia

Neste ano, 2021, com a primeira dose da vacina contra o Covid, acho que mudei


Foto: Getty Images

Durante o ano de 2020, pandemia do SARS CoV-2 (Covid -19), procurei evitar polêmicas. Lia, ou ouvia, comentários políticos, religiosos e até de futebol e evitava a discordância. A única opinião: Bom dia, Nação. Uma referência ao Rubro-Negro mais querido do Brasil. Comentário postado no Grupo de WhatsApp do Clube dos Médicos nas manhãs dos jogos do Flamengo. É verdade que gerava descontentamento de parte do Grupo, mas nada que levasse a constrangimentos maiores. Neste ano, 2021, com a primeira dose da vacina contra o Covid, acho que mudei. Tomei coragem para as mudanças, o retorno gradativo a normalidade, um combatente, aquele que não foge a um bom debate de ideias. Mudar, ou melhor, retornar ao que nunca deixei de ser, ainda que permaneça a máscara, distanciamento social e o protetor facial. Itens essenciais de segurança contra a contaminação pelo vírus. Itens que permanecerão por um bom tempo. Mas com a vacina e os itens de segurança estarei pronto para os embates. Foi o pensamento no dia da minha primeira dose vacinal. Dias atrás, recebi mensagem de um colega médico. Ele escreveu: meu filho passou na residência médica. Foi aprovado em São Paulo e Vitória, finalizou. Eu dei o like (primeiro quirodáctilo para cima, isto é: o dedão polegar para o alto, o famoso sinal positivo) e os aplausos, os mimos desejados dos nossos tempos. E acrescentei: não pensaria duas vezes, iria para São Paulo. Logo depois, comentei com Fabíola, minha esposa há 40 anos, e confidente há 46 anos: o filho do nosso colega passou na residência médica em Vitória e São Paulo. Já enviei as felicitações. Acho que ele deve ir para São Paulo. Ela de imediato me perguntou: Você não escreveu. Escreveu? Sim, escrevi. Completei.

Ela: Sergio... Leia o texto no Grupo de WhatsApp da nossa Turma da Emescam-81 (ano da nossa formatura na Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória). Procurei o texto, tratava-se de "Uma carta para a minha velhice". Dicas para um envelhecimento saudável (sugestivo de: sem aborrecimentos). Tais como: "Não tente ajudar a menos que seja solicitado e lhe dê prazer; Não tente proteger seus entes queridos dos infortúnios do mundo, apenas ame-os; Não se transforme em um velho briguento; Não espere gratidão das crianças. Lembre-se: não existem filhos ingratos, existem pais iludidos que esperam gratidão dos filhos; Não desperdice seu dinheiro em tratamentos antienvelhecimento. Melhor gastá-lo em uma viagem; Evite as vaidades; Se você tiver uma companheira, cuide dela... Não esqueça que ela já foi jovem, forte e alegre. Talvez seja ela a única que realmente precise de você; Não se culpe por nada. O que quer que tenha acontecido com sua vida ou com a vida de seus filhos, você fez tudo o que podia; Ria de seus erros... Lembre-se: você ainda esta vivo. Isso é o que importa". No dia seguinte, como de costume, acordei antes das seis horas, preparei o café e saí de casa em direção ao trabalho, preparado para a jornada de 12 horas. No fim de tarde, pensei... Estou com mais de sessenta anos, considerado idoso para as leis do meu país, fugir ao debate de ideias, evitar opiniões divergentes será a melhor forma de viver? Agradar a todos, ser sempre o bonzinho e flexível é uma forma saudável de envelhecimento? Com as questões em aberto, e o risco da alienação, voltei aos três motivos de vivermos mais e melhor, sob o ponto de vista físico: Vacinas, Antibióticos e Saneamento básico. Como me omitir se os Grupos anti-vacinas crescem no mundo; se...


Sergio Damião Médico e cronista

Comentários