Pipas - Jornal Fato
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Pipas


- Foto Divulgação

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) nos força alguns hábitos saudáveis. Há dois meses, uso as escadas do prédio da minha moradia para acesso à garagem dos carros e à portaria. São cinco andares até o estacionamento e mais três até a recepção. E, assim, evito o elevador. Também, uso máscaras quando próximo à outra pessoa e nos locais públicos; fujo das maçanetas de portas - uso, sempre que possível: cotovelos, ombros e pés; álcool em gel ou a 70% carrego no bolso da calça ou camisa em pequeno frasco. Isto é, a prevenção de infecção está no automático há dois meses. Além da lavagem de mãos com água e sabão que aprendi de longa data na rotina dos hospitais. Muito dos hábitos adquiridos recentemente devem permanecer quando o perigo desta pandemia passar. Pois, outras podem surgir. O aprendizado atual vai ser de grande valia para o momento e futuro próximo. Mas, apesar do isolamento e distanciamento social que nos encontramos, no domingo, pela manhã, com o sol, máscara e com muito cuidado, busco uma caminhada rápida na calçada ao lado do rio Itapemirim. No último domingo ajudei a economia, além da satisfação do passeio. Comprei sete pipas (também chamadas de raias, papagaio, bolacha...). Todas com rabiolas e muitas cores. Não encontrei a linha. Ainda assim as levei até a portaria do prédio. Lá chegando doei seis para os dois porteiros presentes. Fiquei com uma, era o bastante. Interessante, logo depois fiquei a pensar: sete pipas. Quando criança, na casa com meus pais, éramos sete irmãos (03 homens e 04 mulheres) praticamente da mesma idade. Meu pai gostava de empiná-las. Sempre produzia um número grande, suficiente para cada um de nós. Do terraço da casa, as pipas eram levantadas em direção ao Cais da Lenha e do Avião, junto à baia de Vitória. Além das pipas ao vento, ele brincava quando alguém perguntava como ele estava, dizia: "Bem, com muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender. Mais saúde que dinheiro, pois com saúde posso continuar a ganhar o dinheiro."

Bom, a pipa que me restou guardei na varanda do apartamento. Era domingo, aguardaria o início da semana e a aquisição da linha. Da varanda, vejo um terreno ocupado por pequenas árvores, logo em seguida a Avenida Beira-Rio, a Calçada, o rio Itapemirim, o morro com muitas casas e bem no fundo a pedra do Itabira e o Frade e a Freira. Avaliei o risco da pipa ao vento em direção das pedras do Itabira e Frade e a Freira, bem poucos postes e fios em seu caminho. Da altura que me encontrava os riscos eram pequenos de algum acidente. Sendo assim, no domingo mesmo soltei a imaginação. A pipa e sua rabiola estavam soltas, o vento encontrava-se forte, do lado contrário onde me encontrava. Com dificuldade a pipa alcançava altura, se equilibrava e fazia algumas piruetas, um equilíbrio que a minha mão parecia ajudar. Ela seguia várias direções. A linha parecia seguir o meu desejo: liberdade e leveza. De repente despertei, estava deitado. Levantei, fui à varanda, a pipa com suas várias cores encontrava-se sobre o pequeno sofá, ajeitei a armação e a rabiola, resolvi guardá-la para os meus pequenos: Bernardo e João Vitor. Meus netos.


Sergio Damião Médico e cronista

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