Qual o valor de uma vida? E da sua? - Jornal Fato
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Qual o valor de uma vida? E da sua?

Dias atrás, o coelhinho da minha filha fugiu e, de repente, foram ouvidos seus grunhidos de socorro e latidos


Foto: Portal do Envelhecimento

Dias atrás, o coelhinho da minha filha fugiu e, de repente, foram ouvidos seus grunhidos de socorro e latidos. Num piscar de olhos, tarde demais: eis seu corpinho estendido ao chão! Omitimos a informação, logo, minha filha ainda acredita que seu bichinho de estimação está, em algum lugar do quintal, gozando da liberdade merecida.

Confesso que me entristece pensar na sensação de vulnerabilidade que ele experimentou e na dor de ser ferido por animais que, por instinto, tiraram a vida, que já é curta, do bichinho indefeso.

Num relance pensei: graças a Deus que os cachorros (eram quatro) não nos atacam. Afinal, somos seres humanos, logo, superiores!

Que prepotência a minha, pensei! Grande coisa ser um humano se a humanidade de Cristo não está em nós! Diferente dos cachorros, fazemos o mal por gosto, não por instinto.

Digo isso porque, embora eu estivesse chateada pelo coelho, oprimido e ferido por cães, em São Paulo, também em vários outros lugares, pessoas, como nós, não coelhos e nem cães, estavam (e estão) sendo oprimidas, violentadas e assassinadas por outras pessoas sem coração.

Como entender isso? Na minha casa, cachorros se juntaram contra um coelho, que é de outra espécie, mas, no mundo humano, homens se juntam contra homens e, normalmente, sem nunca os terem visto antes. Matam pelo prazer de ferir, ou por dinheiro, que acaba, ou para, simplesmente, tomar para si o que não lhe pertence, mas que perece. Matam por matar e têm consciência do mal que fazem, o que não existe no mundo animal.

Fiquei estarrecida porque, num déjà vu, entendi que, no mega-assalto a bancos, que ocorreu na noite de segunda-feira em Araçatuba (SP), várias pessoas sentiram-se como o coelho da minha filha, mas seus caçadores eram também homens. Eram pessoas que, por certo, têm mães, esposas, filhos, mas, não esboçaram compaixão com os filhos de mães que não são as suas. Pessoas que ignoram que, em Cristo Jesus, somos (ou deveríamos ser) todos irmãos.

Senti muito pesar, pois, foi-me lançado na cara que as pessoas têm perdido a essência que as distinguem dos bichos: a humanidade. Muitos homens perderam a capacidade de amar, de ter compaixão e de sentir, logo, perderam a razão de existir como gente.

Tudo me fez pensar no porquê Cristo, quando passou por aqui, ter sido morto. Ele ensinava algo que estava muito na contramão, e ainda está, do que se vê no mundo, ou seja, Cristo ensinava a amar, a perdoar, a dar a outra face e a ter limites, mas, em geral, não queremos fazer isto. Contudo, não percebemos que, quanto mais negamos a importância dos comportamentos ensinados por Jesus, o mundo, a cada dia, mais se aproxima do fim; a violência aumenta; os absurdos sociais se intensificam e, de algum modo, vamos perdendo o dom de nos indignarmos.

Nesses sustos que, vez e outra, mais vezes que outras, nos assolam, escolho olhar para o céu, olhar para Deus, pois, enquanto por aqui as pessoas se matam, seja física, seja emocionalmente, Jesus morreu, o que é uma contradição. Isto aí, Cristo, que é Deus, deu sua vida por mim e por você e, por sua morte, nos justificou dos pecados. Com isto nos deu a chance de, se aceitarmos sua soberania em nossas vidas, não enfrentarmos a segunda morte, que será eterna, mas ressuscitarmos com Ele.

Em Cristo entendo que, para o homem, uma vida, se não for a própria e a dos seus amados, não tem muito valor, mas, para Cristo, qualquer vida tem o preço de seu próprio sangue.

Assim, porque aceito que minha vida vale o sangue de Cristo, diante das atrocidades cometidas por nós homens contra nós mesmos; diante da falta de fé que a muitos têm assolado, diante daquilo que, por mais que tentamos, não damos conta de resolver; diante da vida e da morte; da alegria e da dor, bem como diante das dúvidas que não consigo responder, minha resposta não tem como ser diferente da que Pedro, um dia, deu:

Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna. (João 6:68)

 

Katiuscia Oliveira de Souza Marins


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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