Quanto vale o dia internacional da pessoa com deficiência? - Jornal Fato
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Quanto vale o dia internacional da pessoa com deficiência?

Comemorar? Muitos dirão "o que?" Talvez seja da natureza das pessoas essa inquietação que caracteriza o humano


- Foto: Divulgação

Podemos pensar na unidade de tempo e seu valor monetário em termos de vigências legais referentes ao trabalho humano. Porém, o humano se faz na produção de sentidos que, partindo da experiência concreta, elabora intensidades e pesos para aquilo que é dado imediato. Então, o valor de um dia extrapola, sem desprezar a referência Econômica fundante de nossa sociedade, esse valor monetário e transcende para o campo dos significantes e significados.

O dia, o tempo, a moeda e a própria compreensão de humano são construções históricas. É da natureza humana escapar da própria natureza e fazer história, nomeações e narrativas identificatórias. No Dia Internacional da Pessoa com Deficiência sempre surge a indagação de "para que serve?". Comemorar? Muitos dirão "o que?" Talvez seja da natureza das pessoas essa inquietação que caracteriza o humano, jamais passivo, "por mais que indiferentes diante das causas e efeitos das coisas naturais e ações sociais".

O valor de um dia talvez esteja nesse movimento de refletir a experiência imediata dos atos de pessoas e cidadãos, instituições e gestões governamentais e; espirituosa e coletivamente, das omissões. E o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência segue capturado por retóricas diversas ao longo do seu tempo que é histórico e político. Esses dois últimos substantivos são tecidos pelo cotidiano onde a vida Acontece: ora na exaltação glamourosa do super-herói da superação, que individualiza a vida e esconde barreiras e desigualdades; ora na exploração da dor humana que promove comoções vendáveis nas mídias e até nas praças, essa velha conhecida das miçangas do cotidiano; ou ainda na exibição dos planos de ação, das ações dos planos, dos planos sem ação e das ações sem planos.

No fim, o valor do dia vem das inquietações que causa e das causas que levanta mesmo, posto que é uma produção política. E a relevância do tempo está na atenção que é conferida a cada experiência humana, individual e coletiva. Está nos investimentos dos movimentos que determinam a nossa realidade. As pessoas com deficiência romperam o silêncio e promovem significativos cortes na bruma da invisibilidade, do preconceito, da discriminação e do capacitismo que desqualifica as nossas experiências e falas. E por enquanto, eu fico com o gestual da vez, com a certeza da dignidade da resposta da menina que diz: não quer comemorar, muito menos chorar. Mas viver com dignidade, "Viver sem Limites" e seguir esperançando conversas diversas! Em futuras e infinitas plenárias da vida.

 

por José Antônio Souto Siqueira

Professor e Psicólogo / Conselheiro Presidente do Comdpede Cachoeiro de Itapemirim / Coordenador Adjunto do CDDH "Pedro Reis"

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