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Seja Bem Vinda Suzano

Lembro noticiário local; a empresa SUZANO anunciava vinda para Cachoeiro


Lembro noticiário local; a empresa SUZANO anunciava vinda para Cachoeiro, com planta industrial que fabricaria zilhões de rolos de papel e outros materiais de... papel.

Lembro ter lido na revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios (abril/2021) que a gestão sustentável é caminho sem volta. Ali comecei a conhecer o ESG (sigla em inglês para os bons aspectos ambiental, social e de governança). No mesmo abril, revista Época Negócios, Walter Schalka, presidente da SUZANO, disse: - "a empresa tem outras três grandes metas de ESG: sequestrar 40 milhões de toneladas de carbono nos próximo 10 anos, tirar 10 milhões de toneladas de plástico com produtos vindos da árvore e tirar 200 mil pessoas da pobreza nos próximos dez anos".

Noutra revista (Exame, de maio de 2021), reli: - a SUZANO está entre as empresas brasileiras que aderiram formalmente ao ESG, tendo seu presidente Schalka afirmado que "não dá para pensar um negócio sem considerar suas implicações sociais e ambientais. A sociedade vai demandar, cada vez mais, soluções sustentáveis".

Além de leitor de Maquiavel, cidadão que quer ver o que a pessoa faz e não só o que ela diz, sou, desde criança, o comprador em supermercado aqui de casa (desde o tempo das antigas "vendas", década de 1960). Conheço um bocado de coisas vendidas que são péssimas para a natureza e outras que são boas, em menor escala.

Com a chegada da SUZANO a Cachoeiro, passei a comprar seus papéis (papel higiênico e rolo de papel de limpeza), muito por ser, agora, empresa local de verdade, e um pouco por ela anunciar, seja na imprensa e nos pacotes de produtos, que ali - nos produtos - a natureza é protegida até onde possa ser.

Na última semana, estive, como sempre, no supermercado. Comprei novamente produtos da SUZANO. Em um deles estava escrito o compromisso que a empresa assumira numa daquelas revistas lá de cima: - "tirar 200 mil pessoas da linha da pobreza". Gostei demais. A SUZANO dá passo importante para nos lembrar de que ela não se esqueceu de seus compromissos assumidos.

Mas o melhor vem agora. Há algum tempo vinha eu picotando, em tamanho menor, as folhas dos rolos de toalhas de papel, já que para meus misteres de enxugar óculos, pequena higiene após escovar dentes e outras, eu não precisava de todo o papel no recorte maior que vinha de fábrica. Comecei a recortar as toalhas de papel ao meio, sempre sobrando a metade para a próxima necessidade. Sem combinar comigo a SUZANO também passou a fazer o mesmo. Ao fabricar rolos de papel com mais recortes, a empresa ajudava muito na não poluição do ambiente.

Menos papel gasto a cada uso. Uai, mas menos papel gasto a cada uso é prejuízo para a empresa! Se o pacote custa quatro reais, ao usar papel menor economizo no mínimo uns 30% do que gastaria com mais papel, como antigamente.

Aí aquele pé atrás que tenho ao ler propagandas e textos afirmativos teóricos, aquele maquiavélico pé atrás veio para frente, para saudar a SUZANO, que agora mostra, para muito além da economia e do lucro próprio, que traz efetiva colaboração com o meio ambiente. Perde um pouco em dinheiro aqui, em favor do meio-ambiente, pra ganhar muito lá na frente - lucro também na sua credibilidade e na sua efetiva menor emissão de carbono - dividindo o lucro com você cidadão cachoeirense, que ora me lê.

Seja bem vinda SUZANO (não é propaganda não, é reconhecimento de novos tempos).

 

Fala Lima Barreto

(Cada vez mais me convenço de que é tudo igual, pouco importa que sejam os tempos presentes, passados ou futuros. Vejam o que o grande Lima Barreto escreveu em crônicas publicadas em 1919/1921; há um século. Tudo igual a hoje!?).

1919 - Os legisladores republicanos criaram o protecionismo imbecilmente ou por desonestidade. /// Estamos aqui para fazer troça, pilheriar contra a humanidade, mas não para atravancá-la com perseguições e maldade. /// Muito observo e advinho. /// É sempre assim, o governo só protege os que não precisam; aos pequeninos, aos fracos, aos oprimidos, ele oprime mais. /// Um velho engenheiro que, por ser bacharel em letras, se julgava literato. /// Por causa dessa madeira de tinturaria (pau-brasil), que hoje não vale nada, houve batalhas nas suas costas (do Brasil) entre franceses e portugueses. /// O povo tem singular ojeriza pelo treze que refuta nefasto, por trazer azar. /// Eu não digo nada, pois sou doido.

1920 - Tradição só é tradição aquela que se faz espontaneamente e sem esforço é guardada na memória de todos, dispensando qualquer preocupação de exatidão e estreita veracidade histórica. /// Tradição palpável e documentada só pode ser relatório. /// Guardar muito cuidadosamente coisinhas desvaliosas de uso de personagens que amanhã serão desvaliosos, não pode formar tradição alguma. /// A história e a tradição não são feitas pelos contemporâneos nem pela geração que se segue. Pedem para serem feitas algumas gerações adiante. /// Nas nossas democracias sul-americanas os poderosos não deixam aos humildes nem o direito de dizerem tolices em prosa e verso. Eles o tomaram também para si. /// O doutor burro é mais pedante que o doutor inteligente e ilustrado. /// Não me incomodo que me chamem de romântico, disso ou daquilo; o que não gostaria é que me chamassem de ladrão, adulador e desleal.

1921 - O mar nada disse e deixou-os, por alguns meses, encheram-no de lama. Um belo dia, ele não se conteve. Enche-se de fúria e, em ondas formidáveis, atira para a terra a lama com que o haviam injuriado. /// Em nome da religião tem-se praticado muitos crimes; em nome da arte têm-se justificado muitas sem-vergonhices. /// (O dono do poder) torna-se logo suntuosamente generoso com o dinheiro dos... cofres públicos. Os amigos do peito, arruinados ou pobres de origem, enriquecem em meses. /// Querem saber de uma coisa? No Brasil tudo é possível. Quando a vaidade toca os nossos homens de governo, eles estão dispostos a fazer as maiores tolices. /// Mais ainda: um prefeito qualquer quer entulhar de lama a baía da Guanabara, uma das maravilhas do mundo. Para isso, precisa por um inofensivo morro abaixo. Realizando tal obra, os amigos do peito que dela forem encarregados, ganharão fortunas. Que faz o edil? Aumenta o imposto predial.

(Breve voltarei transcrevendo parte de outras crônicas um pouco mais antigas, de um Lima Barreto mais jovem. Aqui ele tinha entre 38/40 anos, tendo falecido aos 41 anos).

 

Minha Primeira Viagem de Avião

  1. Primeiras viagens de avião. Vitória-Salvador. Tremendo e suando. Bebidas no Aeroporto de Vitória. No avião também, e desespero quase no pouso de escala em Ilhéus. A tampa das turbinas caindo para ajudar a frenagem. E a gente ia lá saber que existia isso de cair a tampa de turbina?

Na volta já foi melhor. Direto ao Rio, à noite. Conexão para Vitória. Aeroporto Internacional. Dezenas e dezenas de grandes aviões para Europa, França e Bahia. Duas horas entre embarque e desembarque. Embasbacados ficamos nós, olhando vitrines, encobrindo receios. Mais cerveja que ainda não éramos veteranos nessas viagens pelo ar. Sendo melhor a volta, ainda não era de não se preocupar, se é que alguém, algum dia, é de não se preocupar.

Impressões sobre o curso: Caixa-Executivo. 22 dias de Bahia e Sol. Outros acontecimentos. Carioca querendo se enturmar com malandro baiano. Mercado Modelo, que depois se incendiou. Mulher que ficou pelada no obelisco em frente ao dito Mercado e saiu no jornal do dia seguinte. Cafezinho só vendido em ambulantes, cachaça que tinha em qualquer lugar. Muita cebola, tomate quase sempre verde. Comida quente, comida fria; quente com pimenta, fria, sem. Costumes diferentes. Tudo.

A hora de embarcar, nada. Ouvidos atentos. Iris Letieri, a grande voz da televisão de então, dicção perfeita, para ninguém se confundir, de tempos em tempos informando a hora - a mesma que não chegava. Que informava a todo momento aos outros passageiros: Embarque para Paris, Londres, Roma. O mundo inteiro. Bilíngue, Trilíngue, dicção perfeita. E nada de Vitória.

Tensos, esperávamos que Iris Letieri nos chamasse: "Atenção, senhores passageiros com destino a Vitória, no Espírito Santo, queiram se dirigir ao portão tal e boa viagem.", que era tudo o que queríamos. Quem sabe, em francês. Nada. Só ouvidos atentos, só espera de Iris Letieri.

De repente, com atraso, muito atraso, abre-se uma porta e aparece um ser uniformizado, nem de longe uma aeromoça, e sem nenhuma textura de voz de Iris Letieri, grita:

- "Pessoal que vai para Vitória, por aqui que já está na hora." (Crônica de 1978).

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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