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Saiu de casa muito jovem em busca de seus sonhos


Foto: Pixabay

Saiu de casa muito jovem em busca de seus sonhos.

Com relógio no pulso, olhava as horas e repetia, incansavelmente, quase que acompanhando o tic tac do tempo:

- Estou atrasado, não tenho tempo a perder, não posso me divertir. Ir à Igreja? Nem pensar! Não trabalha, não, pra ver se cai do céu?

Vivia sempre bufando e ocupado porque tinha muita coisa para fazer antes que a idade chegasse. Estava tudo certo para descansar aos X anos e, depois, só alegria.

Na juventude, teve relacionamentos. Alguns lhe trouxeram alegria, mas, passados uns meses, todos acabavam. Pensava na sua solidão:

- Mulher é bicho esquisito, é egoísta, fica cobrando atenção, mas gosta mesmo é de dinheiro. Não tenho tempo a perder com "mimimi".

Trabalhava de dia, de tarde e de noite. Quando dormia, pensava nos afazeres do dia por vir.

Ficou afortunado desde novo. Olhavam para ele e diziam que era um homem de sorte, mas, ele ficava bravo e retrucava:

- Sorte nada, eu trabalho duro.

Trabalho era seu nome e solidão sua essência, mas não aceitava opinião de ninguém. A vida era sua.

Com o passar dos anos tornou-se um pobre homem rico, sem tempo e só. Dinheiro tinha de sobra. Sabia tudo sobre negócios, aprendeu a fazer grandes riquezas e fez isto com maestria.

Em geral, chegava na sua mansão intocável, limpinha e organizada como nenhuma outra. Ficava lá, por horas, pensando nas estratégias para empreender e tinha orgulho de sua capacidade de negociação. Às vezes, tinha uma ou outra companhia, mas não tinha muita paciência, pois sentia que sua privacidade era invadida.

Quando estava na metade de sua vida útil, já tinha um sucesso extraordinário, mas, nesta época, passou a ouvir que uma pandemia chegara ao país e que teria que fechar, por um tempo, os ambientes físicos de seus negócios. Ficou enraivecido:

- Isto é absurdo! País de preguiçoso!

Brigou, uivou, mas não teve saída. Foi forçado a se adequar à nova realidade.

Em home office criou uma estrutura estrondosa de trabalho e não foi prejudicado em suas finanças. Contudo, passou a sentir algo nunca antes experimentado: o peso da solidão.

Quando parou, mesmo de longe, de ver gente, sentiu falta de ser amado. Percebeu que não era abraçado ou beijado. Sentiu até o desejo de ter alguém que lhe olhasse e chamasse ternamente de pai. Neste momento, lembrou-se que, um dia, teve uma família e percebeu que, fazia muitos meses, não ouvia a voz de sua mãe. Neste momento, chorou...

De fato, sua mãe sempre ligava para ele e, depois de meses sem atendê-la, ela silenciou.

Ele pegou o telefone e ligou querendo colo. Do outro lado, uma voz estranha falou:

- Ah, sim! É o filho dela? Todos os dias sua mãe falava de você. Ela o ama muito e esperava que ligasse porque tinha medo de atrapalhar você, pois dizia: meu filho é muito ocupado! Lamento, mas ela não está em casa. Há cerca de 15 dias foi internada, com urgência, e está na UTI, com uso de oxigênio e com órgãos paralisados. O médico não tem muita esperança, mas, nós, amigas dela, estamos em oração e cremos num Deus Vivo.

O telefone emudeceu e, de repente, um choro compulsivo do outro lado...  

E o final desta história? Depende de várias intercorrências, mas todas elas, exceto as nossas escolhas, não estão ao nosso alcance, pois, no fim das contas, todas as coisas estão nas mãos de Deus. Apesar disto, por vezes, continuamos não tendo tempo para Ele.

 

Apocalipse 3

20 Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo.

21 "Ao vencedor darei o direito de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu também venci e sentei-me com meu Pai em seu trono.

22 Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas".


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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