Semana? Quero é Século do Meio Ambiente - Jornal Fato
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Semana? Quero é Século do Meio Ambiente

Virou lugar comum comemorar-se a semana tal, a semana qual, a semana do meio-ambiente e tantas outras semanas


Virou lugar comum comemorar-se a semana tal, a semana qual, a semana do meio-ambiente e tantas outras semanas que se repetem monocordiamente ano a ano, no sentido de tênar orientar a população para o aproveitamento da natureza, a proteção dela, e tantas outras coisas comuns e importantes mais. (Afora as bobagens).

Ocorre que, um dia, isso cansa. Ou ocorre que, noutros dia, noutros tempos, tais comemorações semanais em única semana do ano, acabam não valendo nada, nem mesmo "luz" melhor para o município, o estado ou o país que promove a "semana".

É que, depois de consolidada uma área da coisa pública, com aparecimento de graves problemas decorrentes do serviço público não prestado efetivamente, de nada vale organizar semanas disso ou daquilo, inclusive, no caso, semanas do meio ambiente, que se limitam a reunir, na praça, servidores (de boa qualidade inclusive) para recolherem e receberem entulhos  recicláveis como (está no diário oficial da prefeitura, de 02 de junho corrente, fls. 3) a tal "ação de coleta", objetivando atingir e atender "pessoas que precisam descartar esses tipos de materiais".

Ora, "pessoas que precisam descartar esses tipos de materiais" são praticamente todos os mais de 200 mil moradores do Município, os quais, fossem atender a convocação para comparecer à praça, em meros cinco dias, promoveriam aglomeração imensa que estragaria toda a mesma promoção semanal e ambiental. E estimularia levar a milhares de infectados pela coronavid, como nunca se viu ou se veria na "Terra do Rei".

O resultado: Meninos eu vi, quase ninguém se dignou a sair de casa para levar tais "recicláveis eletrônicos, como televisores, computadores e celulares, além de pilhas baterias e óleo de cozinha". Ainda bem; se permaneceu o lixo eletrônico, ao menos da Covid estamos livres.

Mas o bem vindo fracasso deveria deixar lições. Uma delas é que deveríamos parar de organizar semanas fúteis, que dão em nada, a não ser bizarras fotografias. Partir para programas mais atuais, mais corretos e mais coerentes com os tempos em que vivemos.

Como exemplo (é só o que me veio na cabeça), promover, com a coleta de plásticos, uma indústria de fabricação de tijolos plásticos, como já existe noutros locais. Com o "resto" do mármore e granito descartado por nossas importantes indústrias  - e são muitas - promover trabalho de verdade de aproveitamento dele, seja para artesanato, seja para pisos públicos, seja para o que for, menos para propaganda inadequada. (Se consultarem o SEBRAE, mais que todos nós reunidos, ele trará exemplos que não só dignificarão cidade e região, com se encarregará de dar destino útil a boa parte do lixo que estamos criando em nossa cidade, em todos o comércio, indústria e serviços, males que sempre existiram, mas que hoje já tem solução, solução menor no serviço público de Cachoeiro; serviço público, que praticamente só se preocupa com a semana tal, a semana qual e resultado zero.

Independente de minha crítica, séria, isenta, independente, honesta e de cidadão desiludido com a coisa política municipal, não deixo de registrar, aqui, minha homenagem à jovem Secretária de Meio Ambiente, que tem muito que aprender e certamente aprenderá - ninguém nasce sabendo tudo, e tem cacife suficiente para tal.

 

Ilha do Meirelles

Tinha eu terminado o texto acima, sobre o meio ambiente em Cachoeiro, quando me deparei com postagem que eu mesmo fizera há anos, sobre a Ilha do Meirelles. Ilha que, no dia 06 deste mês completou 33 anos de doação feita por Newton Meirelles a Cachoeiro.

Só agora descobri que a doação fora feita na Semana do Meio Ambiente, se é que em 1988 existia esse tal semana, oficialmente.

É a tal da sincronicidade, tão falada nos dias de hoje.

Para comemorar o dia e a semana e refletir sobre eles, vão aqui duas fotos de momentos distintos da Ilha. A primeira, verdadeiro paraíso, tirada quando era prefeito Ferraço (2002). A outra, tirada quando prefeito Casteglione ou Vitor. Só pra registrar.

 

NEWTON MEIRELLES

Nasceu no Rio de Janeiro em 17/07/1905. Seus pais: José Meirelles Alves Moreira (funcionário da Prefeitura do Rio e deputado federal) e Maria Antonietta Duarte Meirelles. Foi atleta do Botafogo, no Rio.

Foi para Vitória trabalhar no Banco do Brasil; tomou posse em 10/08/1934. Em 1939 transferiu-se para Cachoeiro, como Caixa, cargo em que permaneceu até aposentar-se em 06/08/1964. Não se aposentou - foi aposentado pela revolução de 1964, em virtude de intensa e honesta liderança sindical. É o mais respeitável bancário de Cachoeiro em todos os tempos.

Fundador da AABB e do Jardim de Infância.

Interrogado em inquérito militar disse: "para acabar com a corrupção é necessário educar o povo a ser direito, ser cumpridor de seus deveres. E o governo deve dar exemplo. De que adianta punir o camarada que é ladrão, quando há ladrões no governo?"

A profecia está sendo cumprida e, parece, "ad eternum".

Baluarte de "A Época", jornal dos socialistas cachoeirenses. Não era dado a escrever, era divulgador de idéias pelo proselitismo e, mais, muito mais, pelo exemplo. Segundo Professor Deusdedit Baptista "carregou o jornal nas costas, no sentido financeiro, verdadeiro idealista".

Vereador em Cachoeiro, atuou como verdadeiro parlamentar. Compadre de Newton Braga, foi padrinho de Rachel.

Casado com D. Carmem Vieira Meirelles, não tiveram filhos. Boa parte de sua renda era destinada aos pobres. Ajudou centenas de estudantes, sempre em sigilo. Explorado algumas vezes, como todos benfeitores e idealistas; sabia disso, o que não o impediu de cada vez mais se doar.

Doou à cidade a "Ilha do Meirelles", com 100.000 m2. Segundo ele, "pelo acolhimento que aqui teve, pelas atenções que sempre mereceu, pelo relacionamento com o seu povo e pelas amizades que conseguiu fazer" (como está na escritura de doação de 06/06/1988). A ilha não vale menos do que R$ 1.000.000,00.

Poderia dizer que foi o maior benefício que nos legou. Não foi. O maior legado foi o exemplo, demonstrar que as pessoas podem ser honestas, viver vida digna e solidária e subir aos céus, ainda que se diga ateu, como ele se dizia.


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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