Vereador - Prestação de Contas da Eleição - Jornal Fato
Artigos

Vereador - Prestação de Contas da Eleição

Abaixo o texto do discurso, exatamente como dado por lido e publicado em ata da Câmara Municipal de Cachoeiro


Peço licença aos meus leitores tradicionais para transcrever o inteiro teor de parte de meu pronunciamento como Vereador, na Câmara de Cachoeiro, no Grande Expediente da sessão de 17/11/2020, quando fiz espécie de análise de minha votação por 337 eleitores que me sufragaram nas urnas: - a menor quantidade de votos que tive nas cinco vezes que concorri ao mesmo pleito de vereador. Abaixo o texto do discurso, exatamente como dado por lido e publicado em ata da Câmara Municipal de Cachoeiro:

- "Senhor Presidente, agradeço muito sua deferência em permitir que este pronunciamento seja passado para a ata da sessão de hoje, 17 de novembro, creio que o melhor momento para falarmos da eleição do dia 15. (como sempre fiz, requeri que meu pronunciamento seja inteiramente transcrito em ata, para a qual o encaminho em mídia digital à Secretaria da Casa).

O primeiro assunto que falo, e falo apenas para ser registrado em ata, é sobre as eleições deste ano, na qual obtive 337 votos. Lembro que, há quatro anos passados, 2016, minha votação fora de 1005 votos.

Pouco antes das eleições de 2016, distribuí panfleto (repetido neste ano de 2020), onde eu relatava o que faria no mandado a partir de 2017, se eleito. Eleito, cumpri tudo com que me comprometi; nunca ninguém reclamou - e se alguém quiser o panfleto, ainda o tenho e posso ceder. Vou repetir: - cumpri tudo o que está no panfleto de 2016. Veio a eleição de 2020; fiz novo panfleto, maior, dizendo que continuaria a fazer o mesmo que fizera nos últimos quatro anos - e quem quiser, também tenho ele e posso ceder.

Pois bem - vou colocar em letras garrafais aqui: - NESSES QUATRO ANOS CUMPRI TUDO O QUE ME COMPROMETERA POR ESCRITO - NÃO FUGI DA LINHA QUE TRACEI PARA MINHA ATUAÇÃO DE VEREADOR NESTA CASA... MAS, APESAR DISSO, TIVE, AGORA, APENAS 337 VOTOS, UM TERÇO DO QUE TIVERA A QUATRO ANOS, CUMPRINDO EXATAMENTE O QUE ME COMPROMETERA POR ESCRITO. (considerados os novos eleitores que conquistei na campanha de 2020, esse terço deve cair para 20 ou 25% dos eleitores de 2016). TENHO CERTEZA DE QUE CUMPRI COM O QUE ME COMPROMETERA POR ESCRITO. NUNCA NINGUÉM ME DISSE QUE NÃO CUMPRI. AINDA ASSIM PERDI DOIS TERÇOS DOS VOTOS - NÃO ENTENDI ATÉ AGORA E DISPENSO EXPLICAÇÕES E JUSTIFICATIVAS DORAVANTE.

Com essa eleição perdida, 2020, saio, creio que definitivamente, das eleições futuras - creio não mais serei candidato, muito mais pela idade do que pela decepção".

(O texto ai de cima é espécie de registro definitivo do que fui como Vereador, visão minha, o qual transcrevo nas minhas páginas da revista SETE DIAS e do jornal ESPIRITO SANTO DE FATO, locais onde escrevo há algum tempo. Faço para que, na imprensa de nossa cidade, fiquem registrados não só minha opinião, como o que achei justo fixar. Saio das disputas eleitorais de nossa cidade de cabeça erguida). 

RUBEM BRAGA

Tolstoi escreveu: se alguém quer ser universal, cante sua aldeia. Rubem Braga aproveitou a lição; boa parte de seus textos é Cachoeiro. O leitor de Rubem, de onde seja, tem a impressão de estar lendo sobre sua (do leitor) cidade. Mais importante personagem da literatura de Cachoeiro, o "Sabiá da Crônica" soube como ninguém, passar para pequenos textos "as boas coisas da vida", título de um de seus últimos livros. É citado, ao lado de Machado de Assis, como leitura obrigatória para quem quer aprender a escrever.

Boa indicação de leitura: - seu "200 Crônicas Escolhidas", seleta de quase todo período em que escreveu cerca de 15.000 crônicas para jornais e revistas.

Nasceu em Cachoeiro em 12/01/1913; morreu em 19/12/1990, no Rio. Filho de Francisco de Carvalho Braga, primeiro prefeito de Cachoeiro, paulista de Guaratinguetá, tabelião na cidade, e de Rachel de Cardoso Coelho.

A primeira crônica reconhecida - A Lágrima - foi publicada no jornal "O Itapemirim", do Grêmio do Colégio Pedro Palácios, em dezembro de 1926 (Rubem tinha 13 anos). O Professor Ávila, diretor do colégio, ao chamar o cronista de "burro", levou Rubem a deixar Cachoeiro, para Niterói e, daí, para o mundo. Segundo Sérgio Garschagen "a afronta do velho mestre fez mais pela literatura e pelo jornalismo brasileiro que a maioria dos literatos da Semana de Arte Moderna de 22".

Em Cachoeiro, Rubem Braga é nome de teatro, de bairro popular, de programa de incentivo cultural e até de Trevo, o antigo Trevo do BNH (funcionários do Banco do Brasil, eu no "bolo", queríamos homenagear Rubem Braga, dando seu nome à nova agência. Descobrimos que o banco não batiza agência com nome de pessoas, vivas ou mortas, exceto se a agência se localizar em logradouro com o nome do próprio. Com a ajuda da Câmara Municipal de Cachoeiro, conseguimos. Aprovou-se lei municipal dando ao Trevo do BNH o nome de "Trevo Rubem Braga". A nova agência instalou-se ali, e ficou Agência Rubem Braga). Coisas do velho Braga. 

Em Favor dos Artesãos

Quando secretário de Cultura e Turismo de Cachoeiro (2001/2002), uma das áreas pelas quais mais me interessei (além de livros e da biblioteca Walter dos Santos Paiva) foi a do artesanato. Já naquele tempo, tínhamos bom grupo de artesãos. Viviam os artesãos de, vez por outra, armarem as desiguais barraquinhas próprias, aqui e ali, em redor do centro da cidade.

Reunimos os artesãos e começamos a traçar metas. Com dificuldade hilariante, conseguimos adquirir trinta (ou cinquenta?) barracas, as mesmas que estão em uso hoje, nos fins de semana, na Praça Jerônimo Monteiro. O entusiasmo dos artesãos e do meu pessoal da Secretaria era tanto que, durante bom tempo, havia até briga para saber quem participaria da Feira de Artesanato do fim de semana - as barracas eram insuficientes. E a situação piorou quando resolveu-se incluir, na feira, artesãos das outras cidades (fundáramos, à época, o Consórcio de Turismo Rota Sul - Castelo, Muqui, Mimoso, se não me falha a memória). A briga, aí, por pouco, deixou de ser figura de linguagem.

Pois bem. Imerso nesses agradáveis pensamentos, li, num dos diários da cidade (FATO), jornal do dia em que se comemorava o Dia do Artesão (19 de março), que os artesãos estavam reclamando maior apoio institucional da prefeitura, que lhes estava sendo negado, na proporção das necessidades deles.

Numa cidade tão rica dessa expressão - artesanato - é triste ouvir dos artesãos a notícia de que a feira esteve paralisada por três meses, "por insuficiência de profissionais"; não faltam são profissionais. Falta atenção e carinho para com esse pessoal dedicado que, hoje, está inserido no mercado de trabalho e é responsável por ponderável parcela das exportações brasileiras - é isso mesmo, exportações para fora do Brasil. O assunto é tão importante que entidade como o SEBRAE dedica-se até o pescoço na promoção do artesanato brasileiro. A revista "Desafios do Desenvolvimento" do IPEA, Ministério do Planejamento, dedicou capa da edição de fevereiro aos artesãos e ao artesanato. A Feira do artesanato de Belo Horizonte, anual, recebe de três a quatro mil artesãos expositores. A riqueza de Cachoeiro nesse campo é imensa; não é preciso inventar, é o poder público apoiar mais.

Segundo os artesãos, as barracas, adquiridas há cinco anos, estão um "caco"; estão mesmo, eu vi. Reclamam, ainda, que a prefeitura não promove eventos culturais, música, teatro, dança, diversão para crianças, concomitantes com a feira. Eles não disseram, mas eu digo: basta a prefeitura investir migalhas do que gasta com gente de fora, em carnavais e outras comemorações, para satisfazer aos artesãos, à sociedade e gerando empregos, estes últimos em muito maior número do que os gerados pela gente de fora, que é nenhum. (Crônica publicada inicialmente em março de 2006).


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

Comentários