A pandemia e o sufoco da agricultura cachoeirense - Jornal Fato
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A pandemia e o sufoco da agricultura cachoeirense

Os agricultores da região perderam cerca de 50% de suas vendas


- Divulgação

Com a pandemia do novo coronavírus, a venda de produtos saudáveis cresceu no Brasil. Contudo, em Cachoeiro de Itapemirim a realidade é diferente. Os agricultores da região perderam cerca de 50% de suas vendas, segundo o presidente do Sindicato Rural, Wesley Mendes.
"De uma maneira geral, as famílias, sem poder sair de casa para praticar exercícios físicos, passaram a consumir mais produtos saudáveis e menos produtos gordurosos. Mas em Cachoeiro isso não foi suficiente para o agricultor", diz.
Wesley explica que no início da pandemia, há cerca de 50 dias, já se percebia queda brusca na venda de produtos como leguminosas, verduras e frutas. "Eu tive a oportunidade de ir até o Seasa e conversar com vários produtores, que já falavam em queda nas vendas. Naquela época, o comércio estava todo fechado. Os agricultores não concentram suas vendas para grandes empresas, em cada bairro tem um mercado mais popular, onde também são vendidos seus produtos", comenta.
Após o comércio ser fechado na cidade, foram fechadas também as feiras. O que pesou mais para o pequeno produtor. "São feiras que acontecem para todos os agricultores e existe uma exclusa para os de Cachoeiro, que é de iniciativa do poder público municipal há seis anos, onde os servidores ganham um ticket e compram direto do agricultor cachoeirense. Quando as feiras foram fechadas por causa da pandemia, os agricultores deixaram também de vender para o funcionalismo municipal", explica.

Atrasos em programas governamentais
Os agricultores ficaram prejudicados também com o atraso de alguns programas do governo federal, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que já voltou a funcionar, e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
"O PAA é um programa de compra direta do governo federal dos agricultores cachoeirenses. Com o atraso do recurso federal, a venda direta nos programas de aquisição de alimentos caiu. E com as escolas fechadas, as vendas também ficam paralisadas, já que o município tem que comprar pelo menos 30% dos produtores locais".

Delivery
Segundo, o presidente, os agricultores tentaram novas formas para vender seus produtos, e uma delas foi o delivery. "O delivery em Cachoeiro não deu certo. É um sistema que não se começa de um dia para o outro. É preciso investimento, gestão e planejamento. Esse é um modelo que veio para ficar após a pandemia, mas nossos agricultores ainda não estão preparados para isso. A implantação do delivery é um processo, quebra de paradigma, mas também uma oportunidade. É preciso colocar em atividade e os agricultores não podem desistir", diz.

Valorização do agricultor local
Mendes ressalta que o cachoeirense precisa valorizar o agricultor de sua região. "Se ele não tiver mercado, ele não planta. O agricultor todos os dias toma a decisão de produzir o alimento que está na mesa dos brasileiros, mas se não tiver mercado, não tem como plantar. Vivemos num momento em que falta muita coisa: paciência, bom senso, serenidade, mas não falta o alimento. O agricultor levanta às 2h da madrugada para colher seu produto e está às 4h da manhã lá na Seasa, por exemplo, para fazer a entrega. É um trabalho difícil", reforça.
Priorizar a compra desses agricultores é uma forma de ajudar: comprando nas feiras ou nos mercados de bairro. "Mas ajudar o agricultor não é algo que deve ser exclusivo do cachoeirense. É responsabilidade das organizações, cooperativas, associações e sindicatos criar e apoiar mecanismos de vendas nas plataformas digitais, aplicativos e da venda delivery para dar mais opções de compra às pessoas", finaliza.

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