Biomédica relata falta de medicação e alimentação no Paulo Pereira Gomes - Jornal Fato
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Biomédica relata falta de medicação e alimentação no Paulo Pereira Gomes

Ela e o pai testaram positivo para a Covid-19


Foto: reprodução/ESTV

A jovem biomédica Nathália Buzatto, de Cachoeiro de Itapemirim, relatou ao jornal ES de Fato falta de recursos no Paulo Pereira Gomes, que é um pronto atendimento referência para casos de Covid-19. Ela e o pai testaram positivo para a doença na última semana.

Segundo Nathália, que trabalha como técnica de laboratório, o pai, Romeu Buzatto, 75 anos, descobriu recentemente um câncer e começou a quimioterapia no dia 4 deste mês. No início do tratamento, precisou ficar internado no Hospital Evangélico por três dias. "Os sintomas que ele já tinha por causa do câncer eram bem específicos: falta de ar, tosse forte, cansaço e dor no tórax. Contudo, nos últimos dias se agravaram e resolvemos fazer o teste particular para Covid-19", comenta.

O pai testou positivo, assim como Nathália, porém ela está assintomática, ou seja, não tem sintomas. Já ele, em estado grave.

Romeu foi levado ao PPG, onde ficou internado por três dias aguardando leito de UTI. Nas últimas 24 horas que estava na unidade precisou ser entubado. Ele foi transferido para a Santa Casa na noite desse domingo (14).

Conforme relata a biomédica, o Paulo Pereira, como referência para atendimento a pacientes com coronavírus, não tem recursos. "Eu, que estou com Covid-19, precisei ir ao PPG durante três dias, várias vezes ao dia, para levar comida para minha mãe e meu pai, porque lá não dão alimentação, nem para paciente nem para acompanhante", relata. Ela explicou que não havia outra pessoa para fazer isso, por esse motivo ela precisou ir à unidade.  

Ela questiona sobre o fato, e diz que familiares saírem e voltarem da unidade tantas vezes correm risco de contaminação. "Isso é desumano! Imagina quem mora em outro município, não tem condições de ir e voltar, não tem carro, como faz? Fora os familiares que não vão lá por medo de se infectarem", fala.

Outro problema apontado por Nathália é a falta de banho para acompanhantes. "Não são todos os pacientes que podem ter acompanhante, mas minha mãe teve que ficar com meu pai, porque ele está muito debilitado. Ela não podia tomar banho no Paulo Pereira, ficou duas noites seguidas sem banho. Eu precisei ficar com meu pai para que ela pudesse ir em casa comer, se limpar e voltar. Se colocaram o Paulo Pereira Gomes como referência, tinham que ter montado também uma estrutura, porque o paciente que vai pra lá precisa ter recursos pra ficar ", comenta.

Nathália também relata falta de medicamentos na unidade, como sedativos e os usados para controle de pressão arterial. "O medicamento usado pelos médicos não são apropriados para esses casos. O médico explicou que ele tinha que, a todo momento, regular o sedativo, porque não era o ideal para o caso do meu pai. Eles tiveram que utilizar outros tipos de medicação para regular a pressão e saturação dele".

Nas palavras de Nathália: "os problemas são vários". Além do que ela já mencionou, outra questão é a falta de dieta zero (alimentação feita por sonda) para os pacientes que precisam ser entubados, o que não tem na unidade. "O próprio médico falou comigo que essa é a dieta apropriada, mas não tinha. Então meu pai ficou lá mais de 24 horas entubado sem esse tipo de alimentação, que é necessária pra ele. Isso é um cúmulo, um crime!", desabafa.

A filha de Romeu deixa claro que o atendimento dos médicos e enfermeiros são bons e o problema não está na equipe. "Eles atendem muito bem, são pró-ativos para cuidar dos pacientes. Meu pai não ficou sem atendimento em nenhum momento. Mas, os recursos que a unidade hospitalar oferece são poucos. O PPG não tem estrutura para pacientes ficarem internados por mais de um dia, porque, se passa disso, eles precisam de alimentação e medicação", finaliza.           

 

Resposta da prefeitura   

Por meio de nota, a prefeitura informou que o pronto atendimento, no caso do Paulo Pereira Gomes, não é para internações longas, mas, sim, de 3 a 24 horas, para definições diagnósticas e/ou estabilização clínica, segundo a Portaria do Ministério da Saúde nº 2.648. Essas unidades são estruturas que possuem como competência e capacidade (estrutura física e tecnológica) condições de manter o paciente apenas em observação. 

"Estes pacientes devem ser encaminhados para internação em serviços hospitalares, por meio das centrais reguladoras (Sesa/ES) para os pacientes que não tiverem suas queixas resolvidas nas 24 (vinte e quatro) horas de observação.  

Portanto, esses equipamentos de Saúde (Pronto atendimentos) não possuem serviços de alimentação (hotelaria hospitalar) visto que essa porta de entrada da Urgência e Emergência tem como função primária estabilizar o paciente e prepará-lo para receber os cuidados onde realmente ele terá sua necessidade de Saúde atendida que no caso são os Hospitais conveniados da Rede SUS e que são geridos pelo Estado do Espírito Santo por meio da Secretaria de Estado da Saúde."

Finaliza dizendo que assim que a vaga foi liberada pela Sesa, o paciente foi imediatamente transferido via Central de Regulação do Estado para a Santa Casa de Misericórdia do município.

A Sesa ainda não retornou sobre o caso.

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