"Gostaria de conhecer a Disney, mas falta dinheiro", dizem domésticas - Jornal Fato
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"Gostaria de conhecer a Disney, mas falta dinheiro", dizem domésticas

Domésticas reagiram às declarações do ministro da Economia Paulo Guedes


Foto: Antônio Scorza

A percepção do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que as empregadas domésticas estavam indo muito à Disneylândia não reflete a realidade dos 6,356 milhões de trabalhadores que exercem a atividade no país - a maioria (4,598 milhões) na informalidade. Na quarta-feira (12), Guedes, ao comentar a elevação da moeda americana, avaliou que "dólar alto é bom" e que "todo mundo estava indo para a Disney, inclusive empregada doméstica", o que classificou como "uma festa danada".

Em reação às declarações, o dólar voltou a subir ontem, mas encerrou o dia a R$ 4,333, um recuou de 0,38%, após intervenção do Banco Central (BC) no mercado. Para a presidente do Sindicato das Domésticas do Município do Rio, Maria Izabel Monteiro, de 53 anos, a opinião do ministro está em dissonância com o mercado de trabalho brasileiro: 

Maria Izabel Monteiro, presidente do sindicato das Domésticas, diz que gostaria de conhecer a Disney mas não tem dinheiro

"Eu gostaria muito de conhecer a Disney. Não conheço nem o Brasil. Não temos dinheiro para viajar. Foi uma declaração preconceituosa. Foi um deboche com uma categoria de trabalhadores que historicamente tem salários baixíssimos, com pouca escolaridade, e que luta há anos por seus direitos", ressaltou.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio de um empregado da categoria, com carteira assinada, é de R$ 1.269 mensais. A remuneração cai para R$ 755, no caso de trabalhadores não registrados. Em tempos de desemprego em alta, em um ano, 112 mil pessoas aderiram à atividade como forma de inserção no mercado de trabalho.

Há 38 anos trabalhando em casas de família, a doméstica Alice Muniz, de 51 anos, planejou por mais de um ano uma viagem com a família para Maranhão e Tocantins. 

Doméstica Alice Muniz planejou por mais de um ano uma viagem com a família 

"A gente luta, trabalha, faz economia para conseguir levar o filho para passear nas férias. Este não é comportamento que se espera de um ministro. Por que eu não poderia viajar, se tivesse dinheiro para isso?", questionou Alice.

Doméstica e poetiza, Maria de Lourdes de Jesus, de 73 anos, dedicou seu tempo livre para escrever um poema em resposta ao ministro. A única viagem internacional que ela fez foi uma ida ao Paraguai, em 1978:

"Ele acha que é um desaforo alguma doméstica ir para o estrangeiro. Pela reação dele, deve incomodar muito quando um trabalhador consegue viajar".

 

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