Técnica em enfermagem diz que queria acalmar, não matar marido em UTI - Jornal Fato
Polícia

Técnica em enfermagem diz que queria acalmar, não matar marido em UTI

Simone Chaves Ravani conta por que iria aplicar medicação em seu marido e detalha o drama que vem enfrentando por causa da denúncia e a repercussão nas redes sociais


Simone Ravani e o marido, Marcos Antônio Ravani, mecânico industrial

Suspeita de planejar matar o marido, 44 anos, com uma dose letal do pré-anestésico Midozalan, a técnica em enfermagem Simone Chaves Ravani, 41 anos, nega. Ela chegou a ser detida na segunda-feira (25), quando foi flagrada com uma seringa do medicamento nas mãos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular, onde seu companheiro está internado. Porém, diz que o objetivo era apenas acalmar suas crises.

Em entrevista exclusiva ao FATO, Simone contou que há dois anos ele sofre da síndrome de Kleine-Levin - distúrbio neurológico raro também conhecido como a doença do sono - e tem crises frequentes. Há cerca de 20 dias, afirma, ele sofreu ataque cardíaco e, desde então, está internado.  "Eu sou técnica em enfermagem e jamais teria coragem de tirar a vida do meu esposo. Estamos juntos há 22 anos. Ele está em estado vegetativo. Sei que fiz errado, pois não trabalho lá", ponderou.

Ela trabalha em um hospital filantrópico de Cachoeiro, mas está de férias. E também disse atuar numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de onde revela ter recolhido a sobra de medicamento que pretendia aplicar no marido. Contudo, os funcionários do hospital detiveram-na antes e acionaram a Polícia Militar. Ela foi encaminhada à Delegacia Regional de Cachoeiro, juntamente com a seringa apreendida.

Simone foi ouvida pelo delegado de plantão Thiago Mello, que obteve também o depoimento da psicóloga que foi testemunha, confirmando que viu a enfermeira segurando a seringa contendo um líquido amarelo, mas não a viu aplicar a injeção no marido.

O delegado Thiago Mello também solicitou o exame de sangue, feito pela perícia policial, no marido da técnica de enfermagem, para confirmar se o medicamento foi ou não aplicado. 

"Quis acalmá-lo, dar calmante muscular. Por eu conhecer a medicação, e saber que ele estava agitado, quis ajudá-lo. Não cheguei a administrar, a psicóloga chegou na hora, me viu com a seringa na mão e deduziu o que foi denunciado", desabafa. " As pessoas só sabem julgar e não ver o lado do sofrimento da gente", diz.

Simone ainda busca um advogado defendê-la. Sua estratégia para demonstrar que não tinha intenção de matar o marido é o depoimento de testemunhas de que "se dão bem".  Eles têm dois filhos, um de 20 e outro de 18 anos. "O de 20 anos está me apoiando bem, mas o de 18, não está lidando muito bem com a situação", esclareceu.

Conta que seus colegas têm ligado para lhe dar apoio, "pois sabem que não seria capaz de cometer tal crime". Um deles é a também técnica em enfermagem, Joseane Gomes, a única a aceitar se pronunciar publicamente.

Ela explica que conhece a luta do casal com a doença e sabe o quanto Simone está sofrendo com a situação. "E quanto à profissional, sempre foi muito prestativa, teve muita empatia com próximo, cuidando com amor. Ela ama o que faz", disse Joseane.

"Ótima amiga, ótima vizinha, uma mãe maravilhosa, boa esposa, muito batalhadora e uma ótima profissional que o marido sempre a apoiava", é a opinião de Derly Rosa Morais de Souza sobre Simone. 

 

Apuração dos fatos 

A Santa Casa de Misericórdia de Cachoeiro informa que o setor jurídico irá acompanhar o caso e adotar as medidas que o caso requer. A Unimed Sul Capixaba informou que identificou atitude suspeita e acionou a polícia para condução do caso.

A Prefeitura informou, através de sua assessoria de Imprensa, que a técnica de enfermagem faz parte do quadro da Secretaria de Saúde, por meio de contrato emergencial, e que está tomando as devidas providências quanto a sua substituição, diante da repercussão desse caso.

 

DOSE LETAL

O medicamento Midazolam pode ser fatal se não for usado da maneira correta. A reportagem do FATO tentou, sem sucesso, saber de médicos de Cachoeiro mais informações sobre a substância. Entretanto, reportagem do G1, de 2014, sobre a morte do menino Bernardo Boldrini, 11 anos, o médico Luiz Fernando Menezes, então gestor de anestesia do Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre, explicou que o remédio, um "sedativo muito potente", requer a aplicação por um anestesista e o acompanhamento para evitar complicações, pois "deprime a respiração", ou seja, diminui a capacidade do paciente de respirar.

"Em geral, [o Midazolam] funciona como agente indutor, induz a anestesia geral, tira a consciência do paciente em doses mais elevadas. Dependendo da dose, também deprime a capacidade respiratória. Pode levar à morte se o paciente não for assistido. O ideal é que seja aplicado por médicos treinados para sedação, no caso um anestesista", disse o médico à época.

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