Conexão Mansur: a cachaça também é nossa - Jornal Fato
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Conexão Mansur: a cachaça também é nossa

Meu encontro com o deputado Evair de Melo no Mourad's


- Ilustração: Zé Ricardo

 

Na última sexta-feira sai de casa no horário costumeiro, para ir tomar meu café tradicional no Mourad's. Adentrei a porta de correr do estabelecimento, e quem encontro lá dentro e vem logo me cumprimentar?

Evair Vieira de Melo, deputado federal, com quem fiz amizade a uns 10 anos passados, a partir de leituras minhas, as quais eu começava a me aprofundar. Leituras sobre café não só como bebida, mas como, principalmente, sobre sua importância para a economia do sul do Espirito Santo, para o Turismo regional e para a qualidade dos grãos. E creio que esse interesse foi consolidado a partir dos textos de meu irmão Ronald e de um texto dele, Evair, em conjunto com Pedro Carnielli, em revista do SEBRAE, de 2005, com título "Impactos dos Cafés Especiais no Turismo".

Como, há algum tempo, Evair e eu tínhamos conversado sobre um projeto de lei federal apresentado por ele, tornando Cachoeiro CAPITAL NACIONAL DO MÁRMORE, repeti a conversa e ele me informou sobre o andamento do projeto, fazendo referência ao Senador Esperidião Amin, de Santa Catarina, que cuidará do projeto quando for encaminhado ao Senado, após aprovado na Câmara Federal.

E com a referência ao Senador Esperidião, Evair lembrou-se de crônica de Rubem Braga, a favor da cachaça, coisa que eu nunca imaginei que existisse. E disse-me Evair que conhecera a crônica através de garrafa de cachaça fabricada na propriedade de Esperidião, a qual garrafa traz, em sua ante face, parte da tal crônica, que conferi na hora, pelo celular, realmente existir, e é esta, parte dela:

- "Sim, cachaça faz mal, e quanto mais, pior. Mas foi com a cachaça que o brasileiro pobre enfrentou a floresta e o mar, varou esse mundo de águas e de terra, construiu essa confusão meio dolorosa, às vezes pitoresca, mas sempre comovente a que hoje chamamos Brasil. É com essa cachaça que ele, através dos séculos, vela seus mortos, esquenta seu corpo, esquece a dureza do patrão e a falseta da mulher. Ela faz parte do seu sistema de sonho e de vida; é como um sangue da terra que ele põe no seu sangue".

Encontrada a crônica, Evair, nem sei porque, resolveu ligar, na hora, para o Senador Esperidião Amin, e disse estar com um patrício frente a ele (a família Amin também é libanesa, como a família Mansur). Melhor dizendo, a ligação para o Senador libanês foi para apresentar virtualmente, eu, cronista libanês.

Esperidião estava viajando de automóvel e disse que iria parar na beira da estrada e ligaria de volta. Foi o que fez imediatamente e foi ótima conversa, a qual terminou com ele declamando com perfeição a crônica de Rubem Braga, justo a parte que está aí em cima.

E para não perder a viagem, melhor dizendo, a ligação, prometeu-me o Senador (acho que prometeu) mandar-me uma garrafa da sua cachaça, que fará parte da minha coleção de cachaças a qual, agora, será duplicada, vez que passarei a possuir duas garrafas; a do Senador Esperidião Amin e a do meu amigo Marcos Paixão, a cachaça "Sítio da Cará Choca", dobrando, dessa forma o quantitativo das minhas cachaças, que ninguém possui assim conjuntamente.

 

Pequeno Manual Antirracista
 
 

(Abaixo seguem algumas poucas frases que retirei do livro da Mestra em Filosofia Política, DJAMILA RIBEIRO. Tem muito mais frases importantes lá, mas meu espaço é pequeno, o que me faz sugerir ao meu leitor: - compre o livro. O título desse mais que importante livro, que me mostrou novos caminhos para minha vida, é "PEQUENO MANUAL ANTIRRACISTA", da Companhia das Letras; tem 136 páginas e o meu - novo - foi adquirido na Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br) ao preço de R$ 26,20, o exemplar - comprei mais três exemplares, todos já com destinação específica.)

Vamos às frases - o número inicial em cada frase é o da página do livro, onde elas estão:

13 - Nunca entre numa discussão sobre racismo dizendo, "mas eu não sou racista". O que está em questão não é um posicionamento moral, individual, mas um problema estrutural. A questão é: o que você está fazendo ativamente para combater o racismo.

17 - Todos os racismos são abomináveis e cada um faz as suas vítimas do seu modo. O brasileiro não é o pior, mas ele tem as suas peculiaridades, entre as quais o silêncio, o não dito, que confunde todos os brasileiros e brasileiras, vítimas e não vítimas (do racismo).

21 - Pesquisa do Datafolha realizada em 1995, mostrou que 89% dos brasileiros admitiam existir preconceito de cor no Brasil, mas 90% se identificavam como não racistas... reconhecer o racismo é a melhor forma de combatê-lo. Não tenha medo das palavras "branco", "negro", "racismo", "racista".

22 - O que, de fato, cada um de nós tem feito e pode fazer pela luta antirracista?

30 - Para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade.

31 - A ausência ou a baixa incidência de pessoas negras em espaços de poder não costuma causar incômodo ou surpresa em pessoas brancas.

33 - Devemos lembrar que este não é um debate individual, mas estrutural.

36 - Para além de se entender como privilegiado, o branco deve ter atitudes antirracistas. Não se trata de sentir culpado por ser branco: a questão é se responsabilizar. Diferente da culpa, que leva à inércia, a responsabilidade leva à ação.

38 - É impossível não ser racista tendo sido criado numa sociedade racista. É algo que está em nós e contra o que devemos lutar sempre.

41 - Algumas atitudes simples podem ajudar as novas gerações, como apresentar para as crianças livros com personagens negros ou garantir que a escola de seus filhos aplique a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para incluir a obrigatoriedade do ensino da história africana e afro-brasileira.

42 - Não podemos nos satisfazer com pouco. Apesar de termos avançado nas últimas décadas, não podemos achar que foi o suficiente.

43 - Por causa do racismo estrutural, a população negra tem menos condições de acesso a uma educação de qualidade.

90 - Como a norma é branca, tudo o que difere é visto como o que não é bom.

(Breve, volto ao assunto inclusive com citações e referências ao ótimo livro da professora cachoeirense negra Luciene Carla Corrêa Francelino, o "A Construção Histórica do Racismo e a Luta Antirracista").

 

 
 

Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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