Conexão Mansur: "Enchentes urbanas: do diagnóstico à solução" - Jornal Fato
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Conexão Mansur: "Enchentes urbanas: do diagnóstico à solução"

A cidade, por força de sua impermeabilização, perde a capacidade de reter as águas de chuva, lançando-as em grande volume um sistema de drenagem não dimensionado para tal desempenho. E aí, vêm as enchentes...


- Ilustração: Zé Ricardo

Apesar dos grandes recursos financeiros já investidos em obras e serviços de infraestrutura hidráulica, como ampliação das calhas e desassoreamento de seus grandes rios, a dura realidade vem mostrando que um enorme número de médias e grandes cidades brasileiras estão cada vez mais vulneráveis a episódios de enchentes.

Há uma explicação elementar para tanto: resistindo a admitir o total fracasso do modelo adotado para o enfrentamento do problema, todas essas cidades continuam a cometer os mesmos erros básicos que estão na origem causal das enchentes urbanas.

Relembremos a equação básica das enchentes urbanas: "volumes crescentemente maiores de águas pluviais, em tempos sucessivamente menores, sendo escoados para drenagens naturais e construídas progressivamente, incapazes de lhes dar vazão".

Ou seja, a cidade, por força de sua impermeabilização, perde a capacidade de reter as águas de chuva, lançando-as em grande volume e instantaneamente sobre um sistema de drenagem - valetas, galerias, canais, bueiros, córregos, rios - não dimensionado para tal desempenho. E aí, as enchentes. Ao menos em seu tipo mais comum.

Excessiva canalização de córregos e o enorme assoreamento de todo o sistema de drenagem por sedimentos oriundos de processos erosivos e por toda ordem de entulhos de construção civil e lixo urbano compõem fatores adicionais que contribuem para lançar as cidades a níveis críticos de dramaticidade no que ser refere aos danos humanos e materiais associados aos fenômenos de enchentes. E, lamentável e inexplicavelmente, as cidades continuam a cometer todos esses erros.

 

Por Álvaro Rodrigues dos Santos

(O texto acima parece referir-se diretamente a Cachoeiro, mas é artigo cientifico que descreve fatos como o de Cachoeiro, dada a semelhança dos erros públicos). O autor é Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, autor dos livros "Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática", "A Grande Barreira da Serra do Mar", "Diálogos Geológicos", "Cubatão", "Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções", "Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica", "Cidades e Geologia", além de Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia (Crônica publicada anteriormente no portal EcoDebate).

 

A DERROTA DO DOUTOR

O Dr. Nilson é chefe que quando o assunto é escrever não aceita meio termo. Tem é que ser perfeito. Pouco importa tratar-se do mais simplório memorando ou da mais complexa correspondência. "Morte ao erro", deve ser o seu lema.

As datilógrafas é que sofriam. Português era o escorreito, o castiço. Nunca deixou de devolver um memorando à datilógrafa, para que esta o repetisse e fizesse acertos. Sempre mais de um. Quantas vezes apenas para trocar o "esse" que havia escapado como "este". Eu que sei dessas histórias, só em pensar no Dr. Nilson lendo esta crônica já dá medo. Fica escarafunchando letras, palavras e frases para ter o prazer de ligar e dizer para acertar os erros. Erros absurdos, diz ele. Já aconteceu.

Deixar passar mal escrito ou rasura mínima no memorando dirigido ao substituto do subchefe do Departamento de Limpeza da Secretaria de Obras? Nunca!

Por isso que não parava datilógrafa com ele, tanta era a perfeição. Até chegar Amélia. Funcionária nova, inexperiente, diziam. Antevia-se a via crucis. Coisa para o primeiro dia.

Até que a hora chegou. Furibundo, como poucas vezes, lá vem o doutor com um baita ofício para datilografar. Entrega justo à nova datilógrafa. Mais, com a recomendação de urgente; para ontem.

Um "frisson" percorreu a sala. A mulherada cochichando, os homens atentos, todos esperando o desenlace, o último dia de trabalho de Amélia. Pobre Amélia, tão nova, tão inocente e já enfrentando a fera. Zangado ainda por cima, que calmo já era difícil.

Quando o oficio já pronto, pousou de volta na mesa do Dr. Nilson, o tempo parou. Silêncio total prenunciava explosão. Nem mosca se ouvia. Coisa de cinema.

Os olhos do Dr. Nilson se arregalando e a leitura chegando ao fim. Nenhum erro gráfico, nem de concordância. Letra rebatida menos ainda. Colocou o ofício contra a luz, procurando algum ligeiro raspão identificador de erro bem camuflado. Nenhum. Os sobreviventes lá fora, aguardando a chacina. Que não houve.

Vencido e sem ter o que dizer, o doutor vira para Amélia e decreta, discreto. (discreto quer dizer vencido, sem reconhecer derrota): - D. Amélia, faça-me o favor de datilografar outra vez. E desta vez sem errar. Ninguém acerta da primeira vez. Não achei, mas com certeza tem erro escondido.

E sob o olhar atônito da funcionária rasga em mil pedaços o documento, lançando-o na cesta de lixo.

O que ninguém entendeu é como que Amélia conseguiu se manter no emprego até hoje, errando ofício, e sem levar um nada que seja do doutor. E a história é real. E que o Dr. Nilson não me leia.

(Crônica minha, escrita antes de 1997).

 

Coisas para fazer na Praça Jerônimo Monteiro

 

 

- Sábados e domingos - Apresentação e comercialização do artesanato cachoeirense e regional Sul.

- Aulas de artesanato para os interessados, sem custo para eles.

- Acertar os ladrilhos Grafanassi, da Praça (Grafanassi é indústria cachoeirense ainda em funcionamento e é quase centenária). O piso da praça ficará lindo.

- Idem, quanto aos objetos de mármore e granito da praça (bancos e etc.), a maioria vandalizada.

- Contratação, nos fins de semana e feriados, de grupos musicais e teatrais locais, mediante pagamento individual aos artistas e atores, em redor de 100 reais (a cada artista e ator) por apresentação, valores não abusivos, mas reais. Reajustar quando entenderem de ser mais justo.

- Lançamento de livros cachoeirenses e regionais.

- Colocação de bustos de mármore ou de bronze de algumas figuras históricas de nossa cidade, a começar por Roberto Carlos, Rubem e Newton Braga e tantos outros.

- Incentivar a presença dos cidadãos e da estudantada no Palácio Bernardino Monteiro, para onde se deslocará a Biblioteca Municipal, nos próximos dias.

- Na Biblioteca Pública Major Walter dos Santos Paiva, entregar sempre, aos visitantes, cartões postais de nossa cidade e município, além de outras lembranças de custo simples.

- E muito mais coisas boas para a cidade, para a praça e para o cidadão, a serem realizadas por ali.

(A Praça Jerônimo Monteiro é dos locais mais importantes histórica e culturalmente em nossa cidade, e não pode ficar apagada como está).


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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