Conexão Mansur: Estação Ferroviária - Jornal Fato
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Conexão Mansur: Estação Ferroviária

A sabedoria de Paulo Henrique Thiengo


- Ilustração: Zé Ricardo

 

Nesta semana, virtualmente, conversei por diversas vezes com o meu amigo Paulo Henrique Thiengo, o maior protetor de nossas ferrovias.

Conversamos sobre... ferrovias no Sul do Espirito Santo. E a medida que Thiengo ia falando, eu ia anotando. Ao fim e ao cabo, entendi que em homenagem a ele e à nossa História, eu deveria resumir nossa conversa e publicar, por aqui.

É o que está abaixo, coisas do Thiengo que mais gente deveria saber e ajudar.

Vamos ao que disse o Thiengo:

" - A estação ferroviária da Leopoldina (Cachoeiro), a única das quatro que tivemos e que sobreviveu, está em processo de reforma e adequação. Inaugurada em 1903, é a única de Primeira Classe da região. As demais são de segunda classe, terceira e até posto telegráfico, como Cobiça. As de Primeira Classe só eram construídas onde havia previsão de alta demanda de carga, pois possuíam dois armazéns, separados: o de importação (mercadorias que chegavam de trem) e o de exportação (mercadorias para embarcar). 

Por volta de 1930, houve grandes mudanças, tanto no pátio, com a construção do muro junto à então rua XV de Novembro e troca de terrenos com a prefeitura, quanto no prédio da estação, que ganhou um sobrado. Para suportar a estrutura do sobrado foram colocadas vigas, em concreto armado, onde a "ferragem" é composta por 4 trilhos (isto mesmo, trilhos!), mantidos em posição por estribos de ferro 3/8!

No andar térreo, funcionavam dois armazéns e as salas do chefe da estação e a do agente. No andar superior, a sala do engenheiro residente, escritório e o "control", que fazia o acompanhamento da movimentação dos trens, sendo responsável pelo trecho entre Murundu e Vitória"

PRONTO. Todas essas informações foram fornecidas pelo Paulo Thiengo, a pessoa com maior conhecimento e acervo sobre nossas ferrovias. Possui até a planta original da estação, de onde retirou os dados técnicos das vigas.

Infelizmente, o Thiengo abandonou tudo o que é ligado a cultura, principalmente ferrovias, em agosto de 2016 e está se desfazendo de seu rico acervo, que está sendo repassado a pesquisadores de outros estados. É pena e não é culpa dele, Thiengo.

 

I FESTIVAL MOZART - 2001

Discurso que, então Secretário de Cultura e Turismo de Cachoeiro, proferi na Catedral de São Pedro, em 10 de novembro de 2001, a pedido da Maestrina Fernanda Merchid, que então conduzia o citado I Festival Mozart.

Esse texto estava perdido na minha papelada e apareceu um dia desses. Como tudo o que discursei mantenho até hoje, e eu próprio gostei do discurso de então, quase 23 anos passados, repito-o aqui nesta minha página, ipsis litteris"

Vamos ao discurso:

Abro aspas (William Shakespeare) - - "O homem que não traz a música dentro de si, / Ou que não se comove ao ouvir seus doces sons, / Foi talhado para as traições, enganos e roubos;/ Os movimentos de sua mente são pesados como a noite, / E suas afeições, escuras como o Inferno. / Que não se confie nesse homem". Fecho aspas.

Abro aspas, novamente: (Miguel de Cervantes) - "Onde há música, não pode haver coisas más". Fecho aspas novamente.

Não havia músicos entre os que explodiram o World Trade Center, de Nova Iorque, como também não haverá música e músicos entre os que fazem da terra arrasada do Afeganistão, terra mais arrasada ainda.

Este é um evento cultural que afasta a guerra e traz paz; que expulsa a ignorância e abre caminho à Cultura; que ilumina a cidade com uma das mais importantes sequencias de música, som e cultura, como poucas vezes vimos.

Este espetáculo que a Associação Coralista Canto Livre patrocina e que a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo adere, é dirigido às pessoas simples que amam a música e coroa, também, o aniversário de 10 anos do nosso melhor canto - o CANTO LIVRE.

Que os sons de instrumentos e gargantas calem, neste momento que seja, o troar de bombas e aviões de guerra e da violência urbana e da pobreza, aquelas, tão longe; estas tão nossas vizinhas. Obrigado a todos.

(Como está dito no documento antigo que me veio às mãos, essas são "palavras do Secretário de Cultura e Turismo de Cachoeiro, Higner Mansur, no dia 10/11/2001, na Catedral de São Pedro - encerramento do I Festival Mozart).

Venho para 2024:

- 22 anos depois o tempo manteve nas lembranças a beleza da apresentação, já que fomos brindados, recentemente, com a chegada do Coral Vozes de Cachoeiro, sob a batuta do Maestro Adilson Dillem, em parceria com a Maestrina Fernanda Merchid, em duas belíssimas apresentações: na reunião solene da Academia Cachoeirense de Letras, e em encontro natalino na Igreja Nosso Senhor dos Passos. Reunião de riquíssimas vozes do cenário musical cachoeirense, reunindo apurada técnica temperada pela emoção de todos os coralistas, maestros e assembleia assistente.

Há esperança para todos nós! Parabéns! Bravo!

 

A Árvore da Praça dos Macacos

 

 

(A árvore que dá título a esta crônica foi plantada em 1976 (portanto a 48 anos), por iniciativa do Dr. Vicente Miranda, que faleceu este mês. Em homenagem ao Dr. Vicente, repito a crônica aqui (ela foi publicada inicialmente na Conexão 475, de setembro de 2017).

Em algum dia do mês de setembro do ano de 1976 o médico Vicente de Paula Miranda acordou depois de sonho recorrente que vinha se repetindo nos últimos tempos. Em frente à sua confortável casa, por ali quase solitária àquele tempo, bem no alto do Bairro Gilberto Machado, na praça que hoje tem o nome de Portinari, havia enorme ausência de verde. Era só pó no tempo de sol, era só barro, quando chovia.

Faltava, por ali, algo verde que atraísse passarinhos; eram escassas as crianças para o assombreado inexistente e, até, faltavam pássaros e alguns macaquinhos que, tempos depois, chegaram.

O sonho de Vicente era simples e já dá para imaginar. Faltava, na praça, árvore frondosa que, crescendo, espalhasse galhos por todo o espaço público e desses galhos nascessem folhas verdes frondosas, embelezando o ambiente, com o verde expandido protegendo a criançada que por ali iria brincar e chutar bola à sombra acolhedora.

Vicente foi atrás de Alcebíades Scárdua, de quem adquiriu a muda da árvore e buscou o Antonio Lino dos Santos, cuidador de jardins, que a plantou e cuida dela.

Só que, em um dia qualquer da entrada dos anos 1980, veio a chuva, com ela vieram relâmpagos e raios e um dos raios partiu um dos lados do caule da árvore acolhedora, quase levando-a toda ao chão. E até se pensou abatê-la para que acidentes não acontecessem. Só que o olhar feminino, materno, da esposa de Vicente - Elzira -, não permitiu que isso acontecesse. Intuiu ela, com certeza, que a árvore se recuperaria quase que naturalmente - foi o que aconteceu. 45 anos depois de plantada e 40 anos ou pouco mais do acidente, a árvore está inteira, frondosa, linda, oferecendo imagens das mais bonitas de nossa cidade, a da praça que, ao lado do nome de Portinari, ostenta, também, o nome de Pracinha dos Macacos, relativamente bem visitada e palco constante - como disse Dr. Vicente - de tantos e tantos casais de noivos no dia do casamento.

 

 

 

 


Higner Mansur Advogado, guardião da cultura cachoeirense e, atamente, vereador

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