Ser Mãe: simplesmente complexo - Jornal Fato
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Ser Mãe: simplesmente complexo

Segundo o dicionário, a palavra "mãe" significa "mulher que deu à luz, que cria ou criou um ou mais filhos"


Segundo o dicionário, a palavra "mãe" significa "mulher que deu à luz, que cria ou criou um ou mais filhos". Se analisarmos dentro da bíblia cristã vemos que "os filhos são heranças do Senhor" (Salmo 127, 3) e, neste caso, os filhos não pertencem nem à mãe e nem ao pai, mas ao próprio Deus.

UFA!!! Se meus filhos não são meus, mas de Deus, a maternidade traz em si o grande desafio de educá-los para serem luz no mundo e sal na terra, de modo que, um dia, quando voltarem ao Pai, estejam inteiros, sarados e tenham sido capazes de viver, nesta vida, a liberdade que só Deus pode nos dar. Isto, porque, esta liberdade gera a capacidade de superação dos próprios defeitos e das limitações que, se nos aprisionassem, poderiam nos fazer mal física, emocionalmente e, quiçá, nos transformar num caos social.

Diante disto, ser mãe é diferente de ser parideira, pois a primeira conhece a renúncia e se disponibiliza a amar, a cuidar e a educar. A segunda, depois da gestação, deixa sua "cria" a própria sorte.

Assim, a maternidade traz em si grandes desafios e, entre acertos e erros, enquanto mães, tentamos fazer e dar o nosso melhor, mas, nem sempre o nosso melhor é o certo ou o necessário. Diante de nossas restrições, a cada dia, vejo, na minha maternidade, um estímulo para me aproximar de Deus, pois junto Dele sinto-me mais forte e capaz.

Isso por vários fatores, seguem alguns: quando estou na presença de Deus, pela fé, sei que onde não posso estar, Ele se faz presente; sei que a proteção aos filhos que sou incapaz de proporcionar, Ele dá; sei que os erros que cometi, Ele pode consertar.

Além disto, a cada sensação de medo que, vez e outra, me assola quando entendo que meus filhos têm seus próprios sonhos e que, antes que eu esteja preparada para o rompimento umbilical, seguirão seus caminhos, fazem-me enxergar que, muitas vezes, também eu, para seguir meus próprios projetos, muitos frustrados e equivocados, disse NÃO ao amor e ao cuidado de Deus, que é Pai.

Entre devaneios e reflexões, a maternidade, seja sanguínea ou afetiva é, de fato, uma dádiva de Deus, pois revela um amor genuíno daquele que, nos dias atuais, quase não se vê no mundo.

Todavia, ser mãe também traz em si muitas contradições, pois, ao mesmo tempo em que ouvir a palavra "mãe" cansa, a ausência dela deprimi; na mesma dimensão que cuidar gera a sensação de que abandonamos nossa própria vida, não poder cuidar deixa nossa vida sem sentido.

Ser mãe é ainda uma coisa muito louca, muito sofrida e muito mágica. Lembro quando meus filhos estavam em meu ventre e, em momentos de devaneios, imaginava que, se algo acontecesse comigo, eles seriam feridos, e isto, mesmo antes de ver seus rostinhos, já me levava às lágrimas.

Hoje, vejo o primogênito com 18 anos seguindo seus próprios caminhos, sinto falta da renúncia do passado e das dores na coluna para lhe dar colinho. Tenho saudade de colocá-lo na cama para dormir, de cantar sem que ele reparasse a desarmonia vocal, de levar e de buscar. Sinto falta de ouvir "mãe, tô com fome; mãe, vem me limpar, mãe; mãe; mãe..." Mas sou grata porque não me falta oportunidade de abraçar muito e, às vezes, de fazer um mimo para lembrá-lo do meu amor.

Quando me deparo com minha caçulinha com 10 anos tão crescida, já expressando suas escolhas; já preparando seu miojo e seu próprio ovo; vestindo só o que lhe agrada, revelando alguns de seus sonhos, percebo que tenho pouco tempo para colocá-la para dormir; para orar junto e para mostrar o quanto é bom tê-la grudadinha, mesmo quando, cansada, ouvir mãe gera um certo grau de estresse.

Enfim, ser mãe é amar até cansar, mas, quando o cansaço diminui, ele faz falta. Porque ser mãe, sei lá, acho que é uma pequena experiência do amor, muito maior, que o próprio Deus tem por nós. A diferença é que Deus não se cansa jamais, mãe cansa, mas nunca deixa de amar e nunca deixa de aprender. Sou mãe e todos os dias estou no processo.

Quem sabe um dia aprendo a ser mãe que é algo tão simplesmente complexo!?

 

 

 

 

 

       


Katiuscia Marins Colunista/Jornal Fato Advogada e professora

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