Política em excesso no debate sobre empréstimo internacional - Jornal Fato
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Política em excesso no debate sobre empréstimo internacional

A preocupação com a próxima eleição pode atrasar por muito tempo obras urgentes, que poderiam ser realizadas nos próximos anos


A Prefeitura de Cachoeiro de Itapemirim está buscando um empréstimo internacional junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe - Corporação Andina de Fomento (CAF), e o debate em torno dessa questão está repleto de influência política.

O principal argumento contra a contratação do financiamento de 50 milhões de dólares (cerca de R$ 250 milhões) é evitar que a prefeitura tenha acesso a fundos que poderiam ser usados em obras estruturais em ano eleitoral. A preocupação parece ser mais com o impacto positivo que essas intervenções poderiam ter na avaliação do prefeito e, por extensão, na de seu candidato ou candidata nas eleições de outubro.

Embora pareça brincadeira, a situação é séria: a preocupação com a próxima eleição pode atrasar por muito tempo obras urgentes, que poderiam ser realizadas nos próximos anos.

Além disso, há uma grande quantidade de desinformação circulando. A gestão atual não receberá todo o valor de uma vez, mas talvez uma das cinco ou seis parcelas, que são liberadas apenas após a conclusão de 80% de cada intervenção iniciada. Isso significa que pelo menos 80% dos recursos ficarão sob a gestão do próximo governante, que terá a opção de empregá-los ou finalizar a operação sem acessar mais recursos, mantendo as condições de pagamento proporcionais ao valor.

Os juros são um terço dos praticados no mercado interno, e há um período de carência de seis anos antes de começar a pagar, com conclusão prevista ao longo de 18 anos. A previsão de variação do dólar para esse período é incerta, mas olhando para trás, a cotação tem se mantido estável nos últimos 15 anos, descontada a inflação, segundo levantamento da própria Prefeitura.

Cachoeiro de Itapemirim sobrevive há muito tempo com uma das piores arrecadações per capita entre os 78 municípios do Espírito Santo, além de um passivo estrutural acumulado ao longo de mais de 140 anos de crescimento desordenado.

A baixa capacidade de investimento com recursos próprios gera situações surreais, como o caso recente do médico que foi engolido por uma calçada na região central da cidade, em um incidente que ganhou repercussão nacional. O problema decorre de drenagem antiga que já não comporta a demanda e que há anos precisa ser substituída, mas faltam recursos para tal investimento.

Os fundos externos podem ajudar a financiar obras essenciais como essa. Quando o chão começa a se abrir sob os pés dos cidadãos, é um sinal claro de que a espera não pode continuar.

Cachoeiro se tornou um canteiro de obras graças a recursos captados em convênios com os governos estadual e federal, ou por meio de operações de crédito, como a realizada com o Banco do Brasil, no valor de R$ 85 milhões.

Quem se concentra apenas nas próximas eleições perde a chance de olhar para o futuro. Está colocando suas ambições acima das necessidades coletivas.

Os recursos já estão encaminhados, e agora cabe à Câmara Municipal decidir se aprova ou não a operação. A pressão sobre os parlamentares é imensa, em grande parte devido a interesses eleitorais, amplificados pelas redes sociais.

No entanto, o interesse de quem ainda caminha por ruas sem pavimentação, sofre com dificuldades de mobilidade urbana, inundações e falta de infraestrutura básica é ver esses problemas resolvidos o quanto antes. Essas pessoas são o povo, e suas necessidades devem prevalecer sobre os interesses políticos daqueles que buscam ganhar eleições à custa de sacrificar o bem-estar da comunidade.


Wagner Santos Diretor e editor Jornalista

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